Ter uma cargo de liderança em tecnologia é estar consciente de que tudo está em constante evolução, mas a pandemia e o trabalho remoto que daí adveio trouxe ainda mais para a ribalta a importância do cargo de CIO (Chief Information Officer). O tema esteve em debate na sessão “Hoje e Amanhã: O Futuro do Papel do CIO”, que decorreu no âmbito do SAP Sapphire, evento que está a decorrer em Orlando.
“É uma excelente altura para ser CIO”, argumenta Jane Connell, CIO da Verizon. Uma opinião partilhada por Prakash Kota, que ocupa o mesmo cargo na Autodesk e que defende que o seu papel durante a ‘explosão’ da implementação do trabalho remoto foi assegurar que os funcionários tinham uma experiência fluida. Ou seja, a ideia foi, sem negligenciar a componente de segurança, remover fricções na maneira como as pessoas trabalham a partir de casa. Fazendo uma analogia, Prakash Kota refere que foi como proporcionar uma experiência de consumo ao funcionário.
Jane Connel reconhece que o teletrabalho originou muitos casos de burnout, já que a barreira entre vida pessoal e profissional foi diluída e um balanço saudável não foi fácil de atingir. Atualmente, a responsável da Verizon considera que mais importante do que o local onde se trabalha é saber encontrar a forma certa de resolver problemas – se tal ocorre no escritório ou em casa acaba por ser irrelevante. Prakash Kota afina pelo mesmo diapasão e afirma que deve ir-se ao escritório quando faz sentido e não quando está pré-determinado. É que o executivo da Autodesk considera que o trabalho remoto fez com que o processo de tomada de decisão passasse a ser mais rápido. “A crise aproximou as pessoas, derrubou barreiras”, declara, acrescentando que contribuiu para uma maior agilidade.
Recrutamento: mudança de paradigma
Olhando para o futuro, a questão do recrutamento de recursos humanos na tecnologia está e estará na ordem do dia, com a chamada ‘Great Resignation’ (uma tendência em que muitos funcionários estão a apresentar a demissão em busca de um trabalho que os preencha de uma forma que consideram mais significativa). Jane Connell considera que o paradigma mudou e que os empregadores agora têm de se apresentar de forma apelativa, oferecendo a flexibilidade que as pessoas procuram. A CIO da Verizon salienta ainda que é necessário investir ainda mais em programas de formação e dá exemplos que já não se ficam pelas universidades e vão mesmo às escolas secundárias.
Prakash Kota destaca que os candidatos agora querem saber mais sobre os potenciais empregadores, pois pretendem pertencer a uma empresa que tenha impacto e que faça a diferença, e sintetiza a sua política de recrutamento numa frase: “Trato de polir as minhas joias e só recruto diamantes”. Por sua vez, Arthur Hu, CIO e CTO da Lenovo refere que a alegada ‘guerra de recrutamento’ entre as diferentes tecnológicas “é treta”. Para o executivo, isto é apenas algo episódico e o que é verdadeiramente importante é apresentar aos candidatos uma proposta aliciante e um trabalho diferenciador.
Um futuro cheio de abraços
Quando questionados sobre que conselhos ofereceriam a jovens CIO, os membros do painel ofereceram respostas diversas. Prakash Kota considera que uma das funções mais importantes é saber decidir o que construir na empresa versus saber o que comprar. Jane Connell alerta para o facto de ser necessário manter sempre a curiosidade e não fazer julgamentos prévios sobre tecnologias que tenham muito hype, mesmo que façam levantar as sobrancelhas em suspeita. Arthur Hu considera que essas tecnologias com hype – como blockchain, NFT ou metaverso – “podem ser o início da conversa”, mas é preciso perceber como podem ser exploradas e aplicadas no modelo de negócio da empresa. O executivo da Lenovo destaca ainda que esta “é a nossa [CIO] altura”, já que os cargos ligados à tecnologia não eram tão bem vistos há 30 anos. “Agora toda a gente nos quer abraçar”, afirma, entre sorrisos.