O eBay pode ser um dos maiores mercados online do mundo, mas isso não significa que não tenha os seus desafios. Enquanto liderava a tecnológica para os chamados países da Benelux, Olivier van Duijn deparou-se com uma estatística, no mínimo, insólita. “Tínhamos feito uma pesquisa e as pessoas preferiam ir ao dentista do que comprar um carro em segundo mão [online], porque não sabiam o que iam receber”, recorda em entrevista por videochamada à Exame Informática. Rodeado de pessoas de tecnologia e produto, começaram a olhar para a blockchain – tecnologia de registos imutáveis e verificáveis – para vender carros online, com o objetivo de aumentar o fator de confiança na transação.
Ali, abriu-se diante de Olivier uma porta que não voltaria a fechar-se. “Achei interessante o potencial que tem para mudar o sistema financeiro, as dinâmicas financeiras, quase todos os setores do mundo foram digitalizados e eu fui parte dessa onda, tenho trabalhado nisso a maior parte da minha carreira – as finanças são talvez um dos últimos setores a serem digitalizados”, conta.
Em fevereiro de 2019, o executivo neerlandês juntou-se ao mercado de compra e venda de criptomoedas LiteBit, um dos principais nomes desta área na Europa, como diretor executivo (CEO). Depois de já ter conquistado um milhão de utilizadores em diferentes países europeus, agora quer convencer os portugueses.
“Portugal é um país interessante para a LiteBit. Os portugueses gostam de adotar novas coisas e isso é muito visível, incluindo no mundo das criptomoedas. Para nós é muito valioso estarmos num mercado assim, onde a adoção é alta. Penso que em termos de legislação, o país tenta ser atrativo para que as criptomoedas cresçam e este é um ambiente no qual queremos estar”, explica o responsável máximo da plataforma neerlandesa.
Mesmo antes deste lançamento ‘oficial’, já há “milhares” de utilizadores portugueses a comprar e vender criptomoedas na LiteBit. “Não vou dar o número exato, não quero acordar a concorrência, mas são alguns milhares e está a crescer rápido”, sublinha Olivier van Duijn.
Ainda por cima, este interesse começou de forma orgânica, “sem qualquer ativação do nosso lado, vimos isso e olhamos mais para o mercado português e decidimos que é um mercado no qual vemos definitivamente interesse na LiteBit”. Seguiu-se o projeto de localização em português do site. “Vamos focar-nos mais em atrair utilizadores portugueses”, promete o líder da LiteBit.
O objetivo, adianta, é duplicar o número de utilizadores a cada trimestre, para que dentro de um ano, no final de 2022, o número já seja na ordem de grandeza das “dezenas de milhares”. “Penso que é possível, o interesse existe”, sentencia o responsável.
Dá para todos
A LiteBit está longe de ser o primeiro mercado de compra e venda de criptomoedas a olhar para Portugal – basta recordar que só na Revolut, são já mais de 100 mil os utilizadores portugueses a transacionar Bitcoin, Ethereum e outros ativos digitais, ou que recentemente também a superaplicação Vivid entrou no mercado português. Ou seja, a tecnológica chega já numa fase mais tardia em comparação com alguns dos seus rivais mais diretos. Mas na perspetiva de Olivier van Duijn, o mercado das criptomoedas e dos ativos digitais ainda tem muito para crescer, pelo que há espaço para novos intervenientes no mercado.
O responsável diz que o departamento legal da empresa já submeteu um pedido de informação ao Banco de Portugal para saber quais os requisitos para obter uma licença local de operador, mas lembra que já tem licença para operar de reguladores de outros países europeus, como os Países Baixos e França. “Perguntamos que informação é necessária neste momento em Portugal. Fazemos o que é necessário no momento e se houver regulação adicional, vamos cumpri-la”, adianta o CEO da LiteBit.
Enquanto proposta de valor para os utilizadores, a LiteBit disponibiliza mais de 40 criptoativos para transação e destaca o suporte às dúvidas dos clientes como um dos seus pontos fortes. “Se olhares para a LiteBit, penso que construímos uma das melhores e mais escaláveis plataformas de ativos digitais da Europa. Basicamente o que ainda é muito importante neste mercado é a confiança”.
Já quanto aos utilizadores atuais, o responsável revela que cerca de 60% são jovens com idades entre os 18 e os 25 anos, o que ele chama de “investidores mais emocionais”, sendo que o mercado de investidores em criptomoedas acima dos 45 anos é dos que, no último ano e meio, tem conhecido um maior crescimento.
Apesar de ser um evangelista das criptomoedas, Olivier van Duijn reconhece que podem ser “muito voláteis”, mas acredita que “em termos de investimento, não vai rebentar, só vai acelerar”.
Um exemplo disto é, segundo o CEO, a transferência do futebolista Leonel Messi do clube Barcelona para o Paris Saint Germain. No pacote de compensações do atleta argentino faz parte o ativo digital que o PSG criou para os fãs do clube. “O Messi foi para o PSG. Como? Como financiaram isso? Com [a venda de] tokens de fãs. Caso contrário nunca teria ido para lá”.
O responsável acredita, sem surpresas, que o mundo dos ativos digitais, sejam eles a toda-poderosa Bitcoin ou ativos digitais mais focados, vieram para ficar. “Está escrito nas paredes – usar a tokenização para criar estímulos, para fazer com que as transações aconteçam, para interagir com muitas pessoas, numa forma fraccionada, mas fazendo movimentos maiores”.