O caso da Bielorrússia é o mais recente exemplo de quando um regime autoritário é contestado nas ruas pela população e tenta desligar ou condicionar o acesso à Internet, vendo essa medida como uma ação para reprimir protestos. Nos últimos anos, vários regimes fizeram o mesmo, mas um estudo da Ranking Digital Rights conclui que a medida não é eficaz e, em alguns casos, pode mesmo ter resultados contrários aos esperados.
Jan Rydzak, analista da organização sem fins lucrativos para a defesa das liberdades civis, conclui que “raramente vemos que um desligamento é seguido de uma completa quebra no número de protestos”. A pesquisa incidiu sobre alguns casos em África, onde regimes ditatoriais avançaram para o corte integral da Internet ou para a censura de algumas páginas, como as de redes sociais. Nesses casos, não foi possível estabelecer uma relação causa-efeito entre o desligar do acesso e a supressão dos movimentos de protesto. No exemplo da Etiópia, em 2017, assistiu-se precisamente a um agravamento das manifestações depois da ação do governo local.
O trabalho de investigação teve por base a localização dos protestos e a classificação de se foram violentos ou não, mas não foi possível recolher informações como o número de protestantes presentes ou que atividade online houve antes do corte de Internet. Segundo Deborah Brown, da mesma organização, este último ponto mostra que as intervenções tecnológicas apresentam menor probabilidade de resultarem em silenciar as manifestações.
Rydzak, por sua vez, explica que os grupos mobilizados pretendem que a sua voz seja ouvida e encontram formas criativas de adaptar as suas estratégias de comunicação. No caso bielorrusso, por exemplo, houve um aumento de utilização de redes privadas (VPN) para se manter o acesso às redes sociais.
Um efeito que este corte consegue é o de instituir um clima de medo e de incerteza na população e serve para o regime autoritário demonstrar o seu poder.