Quando surgiu, a ideia era fazer um mapeamento do número de pessoas que estavam dentro dos supermercados. Isso permitiria aos consumidores evitarem grandes aglomerados de pessoas numa altura em que o novo coronavírus começava a espalhar-se em Portugal. Depois vieram as restrições impostas pelo Governo e o projeto precisou de levar uma guinada. “Migramos o conceito para o estado das filas”, explica Luís Certo, cofundador da startup Lapa.
O que antes da crise da Covid-19 parecia um cenário quase impensável – fazer fila à porta do supermercado, para garantir que a densidade de pessoas não é superior a um utilizador por cada 25 metros quadrados –, agora torna-se numa preocupação, para lojistas e clientes. Perante a incerteza, qual a melhor hora do dia para ir às compras? Se for agora, quanto tempo vou ficar na fila?
São estas as respostas que a aplicação ‘Posso Ir’ pretende dar. Nascida da iniciativa Tech4Covid19, as startups Lapa e Visuallity juntaram-se para criar uma plataforma de informação colaborativa que beneficie todos os utilizadores. “Neste momento o estado das filas é um problema nas grandes superfícies, nos supermercados maiores”, explica Luís Certo.
Seguiu-se uma verdadeira maratona de programação, com uma equipa dedicada de dez pessoas a criar a infraestrutura técnica e as aplicações para os utilizadores. Foram sete dias a trabalhar a uma média de 12 horas por dia para que tudo pudesse ficar pronto o quanto antes.
As aplicações para iOS e Android do projeto Posso Ir ficaram esta semana disponíveis para download e todos os interessados podem ajudar – quando for às compras, basta assinalar na aplicação como está a fila de espera, antes e/ou depois de sair. Para facilitar, o sistema reconhece três métricas: sem fila (tempo de espera até cinco minutos), fila média (entre 5 a 20 minutos de espera) e fila longa (mais de 20 minutos de espera).
Mas uma ferramenta destas para dar informação o mais atual possível precisa de contributos das empresas que gerem os super e hipermercados. “Nessa ordem de ideias, contactamos as cadeias de retalho do Lidl, Pingo Doce e Sonae [Continente, entre outros]”, detalha o porta-voz do projeto. “Vai haver uma versão de fonte oficial em que eles podem inserir os dados”.
Quando as próprias lojas ‘alimentarem’ o sistema, esta será considerada como a informação mais valiosa pela ferramenta. Já no caso dos consumidores, à medida que o tempo passa relativamente ao feedback dado por alguém, esse mesmo comentário começa a perder relevância face a outros novos que surjam para manter a informação o mais atual possível. “O sistema agrega a opinião dada pelos utilizadores e as fontes oficiais”, conta Luís Certo.
As aplicações só nesta segunda (iOS) e terça-feira (Android) é que ficaram disponíveis, pelo que poderá demorar algum tempo até ganharem tração. Daí que o objetivo seja, numa primeira fase, que as pessoas, “numa microescala, sintam que se podem entreajudar”, sublinha o cofundador da Lapa. “Se isso se tornar massivo, tanto melhor.”
Mas esta não quer ser apenas uma plataforma focada no grande comércio. O comércio local, e que não precisa de ser propriamente um minimercado, pode ser uma farmácia, terá também a possibilidade de juntar-se à Posso Ir para que mais pessoas saibam quais as melhores horas para tratarem das compras de primeira necessidade da forma mais rápida e eficaz possível. Ou como diz Luís Certo, “pode aderir o maior Continente do centro de Lisboa como a mercearia do senhor Joaquim em Tondela – é uma plataforma aberta a todos os utilizadores e estabelecimentos”.