Neste período de quarentenas voluntárias e de teletrabalho, começaram a chegar à redação da Exame Informática as primeiras queixas de utilizadores relativamente às redes de telecomunicações, sobretudo relacionadas com uma redução da velocidade da Internet nos acessos domésticos. O que, de facto, poderá acontecer devido ao aumento de utilização que leva à sobrecarga de nós locais. O efeito é tão mais notório quanto maior for a densidade de utilização e menor for a capacidade dos ramais de telecomunicações da zona.
Relembramos que, em larga medida, o acesso à Internet funciona como o trânsito: podem surgir engarrafamentos ou, pelo menos, redução da velocidade se existirem mais carros a circular na mesma estrada. No caso da banda larga, estas ‘estradas’ têm mais faixas e, muitas vezes, até são exclusivas (a ligação entre a casa do utilizador e o centro de distribuição mais próximo não é partilhada). No entanto, mesmo estas vias podem ficar lotadas em casos extremos de tráfego.
Onde está o funil?
Está a ver um filme de Netflix e a notar paragens ou perda de qualidade? Não atire já pedras ao seu operador de Internet. Mais uma vez, usando a comparação com trânsito de veículos, a velocidade disponível num determinado serviço online será limitada pela zona mais estreita do percurso que liga a sua casa ao serviço. Imaginemos que vai de carro de sua casa para uma rua numa cidade relativamente distante. Se viver numa zona com poucos carros e boas estradas, será rápido a chegar a uma via de ligação principal, como uma autoestrada, e em pouco tempo poderá chegar à cidade de destino, mas depois poderá demorar muito tempo a chegar à rua porque, na cidade, as estradas podem estar muito saturadas. Se, usando esta comparação, as estradas junto à sua casa e a autoestrada forem o equivalente às vias de telecomunicações do seu operador e a cidade for o equivalente ao servidor do serviço online que está a usar, o ‘funil’ está a ser imposto pelo serviço remoto, não pelo operador. Ou seja, os problemas com o filme podem ser causados por sobrecarga do servidor que presta o serviço – o Netflix seguindo este exemplo – ou por um outro operador de comunicações (na Internet, todas as redes estão ligadas entre si). E não pelo seu operador.
Claro que o contrário também pode acontecer. Ou seja, se no seu bairro, sobretudo se for urbano, a densidade de utilizadores aumentarem muito, as ‘estradas’ da sua zona vão ficar saturadas. Nesta situação, um operador que ofereça melhores vias na sua zona garantirá melhor acesso.
Operadores preparam-se para Estado de Emergência
Perguntámos às três maiores operadoras nacionais se estavam a aplicar algum plano de contingência para se adaptarem à maior procura. Altice, NOS e Vodafone deram respostas semelhantes, indicando que estão a monitorizar constantemente a utilização da rede e a implementar alterações que sejam necessárias.
Fonte oficial da Altice começou por confirmar “um aumento muito significativo de tráfego na rede fixa de Internet e em especial na utilização de OTT (televisão digital)”, mas garante que “de momento não existe registo de qualquer situação crítica que esteja a colocar em causa o fornecimento pleno de comunicações”. Quanto ao tráfego de dados móveis, a dona da MEO, “não regista um crescimento tão assinalável”. Dados que parecem ser compatíveis com a maior utilização de telecomunicações em casa.
A Altice Portugal informa ainda que “se encontra a acompanhar a evolução da situação, em estreita cooperação com as autoridades, trabalhando na otimização, robustez e melhoria da rede, especialmente no caso de ser decretado o Estado de Emergência.”
Em resposta à Exame Informática, a NOS garante que tem como prioridade “manter Portugal ligado e a comunicar” e que, “nesse sentido, a NOS tem já implementadas várias medidas, entre as quais se inclui reforço de capacidade de rede, com o objetivo de assegurar a continuidade do seu negócio e consequentemente de todos aqueles que dela dependem”.
Apesar de não mencionar o Estado da Emergência, a NOS refere a possibilidade de ser pedido aos utilizadores contenção: “É, contudo, importante reforçar o apelo a todos os portugueses para adotarem as boas práticas de utilização de redes de comunicações, que sejam divulgadas pelo Governo e pela própria NOS.”
Segundo a Vodafone Portugal, há “em vigor um plano de continuidade de negócio com o objetivo de garantir que, independentemente das circunstâncias, a empresa consegue entregar um serviço de qualidade aos seus clientes”, adicionando “nesse sentido, a rede da Vodafone está, ‘por defeito’, dimensionada para suportar picos de utilização”.
Relativamente à situação especifica que se vive no momento, a Vodafone assegura que “reforçou a monitorização das suas redes, adotando medidas de otimização das mesmas consoante a evolução da situação, de forma a garantir a melhor performance possível do seu serviço”.