O negócio da portuguesa Infraspeak está a crescer 200% ao ano. A empresa, que desenvolve um software para a gestão e manutenção de grandes infraestruturas como aeroportos, hospitais, hotéis, supermercados ou estádios, já tem 240 clientes e está a adicionar, em média, dez novos clientes por mês. Da lista de ‘utilizadores’ fazem parte nomes grandes como as empresas de hotelaria Hilton, Sheraton, as industriais Siemens e Mitsubishi Electric, e as multinacionais McDonald’s e Domino’s Pizza.
No final de 2019, a empresa fechou mais uma ronda de financiamento, no valor de três milhões de euros, para continuar o processo de expansão, marcando já presença em Espanha, Reino Unido, Brasil e EUA. E ao contrário do que é apanágio, em cada um dos três primeiros anos de atividade – a empresa foi fundada em 2015 – deu lucro. Só o processo de expansão, que está a obrigar a um grande investimento e mais contratações, é que fez a empresa perder dinheiro no quarto ano de atividade.
Mas à medida que o tempo vai passando, torna-se mais difícil manter o ritmo louco de crescimento de 200% por ano – a não ser que a empresa aprenda a dominar as ferramentas de anúncios e captação de clientes da Google quase tão bem como a própria tecnológica norte-americana. Essa é pelo menos a vontade de Filipe Ávila da Costa, diretor executivo da startup. “O que queremos aprender aqui é pegar na verba que hoje já atribuímos aos vários canais de marketing e perceber, dentro dos canais da Google, como é que conseguimos ser mais eficientes, ter mais e melhores oportunidades”, conta o CEO em entrevista à Exame Informática.
A Infraspeak é uma das oito startups que vão participar, até 17 de março, no primeiro programa da Google Portugal dedicado a startups, o Growth Lab, anunciado na terça-feira passada, 28 de janeiro. Fazer parte de um grupo restrito de empresas, às quais a Google reconhece um grande potencial de negócio, é por si só uma bandeira de aprovação para o mercado. Mas ter acesso às boas práticas da empresa e também a peritos internacionais de diferentes áreas é todo um outro patamar de exclusividade.
Diretamente dos EUA vieram dois elementos que vão acompanhar o programa de aceleração de negócio das startups ao longo das próximas oito semanas. E quando estiver a ser lecionado o módulo dedicado ao vídeo online, vem uma equipa da Google Israel de propósito até Lisboa. “Das várias áreas que o programa cobre – pesquisa, YouTube, dispositivos móveis – nós já temos uma experiência interna relevante, mas o que estamos aqui a falar é de especialistas que trabalham há dez, quinze, vinte anos nessas áreas, para perceber onde é que nós não estamos [num bom nível] ainda”, sublinha Filipe Ávila sobre esta oportunidade.
À procura da eficácia
Quem também vai acompanhar as jovens empresas de perto é Nuno Pimenta. Por já ter fundado duas startups – na área da energia e do comércio eletrónico – que acabaram por não ter sucesso, diz conhecer muito bem as dores e problemas que estas jovens empresas enfrentam. Agora, enquanto líder da Google Portugal para as áreas de turismo, retalho e startups, a missão é muito clara: ajudar as startups a conseguirem mais negócio graças às ferramentas digitais.
“Acho que são startups que trazem uma grande disrupção ao nível da inovação tecnológica para o mercado. Uma das coisas que nós vemos muito é a maneira como as próprias empresas mais estabelecidas em Portugal se estão a coordenar e a trabalhar cada vez mais com estas pequenas empresas. Estas startups acabam por trazer muita inovação e transformação digital para as empresas grandes”, disse à Exame Informática após a apresentação do programa do Google Growth Lab.
Portugal é apenas o terceiro país no qual a Google está a fazer este programa, depois da estreia em Israel e de também já ter passado por Espanha – na qual participou, inclusive, a startup portuguesa Barkyn. Nuno Pimenta diz que a tecnológica analisou dezenas de startups para chegar ao grupo restrito de oito participantes do programa de aceleração, dando destaque ao estado de maturação do modelo de negócio e à resposta que o mercado já deu aos produtos destas empresas. “Já estão numa fase em que realmente o objetivo delas é crescer. (…) Havia muitas outras que também podiam ter sido [escolhidas] e o nosso objetivo é, mais tarde, vir a ter novas edições do programa e conseguir incorporar mais empresas”, acrescentou.
Outra empresa escolhida pela Google para o Growth Lab foi a Lovys, cujo modelo de negócio é funcionar como uma loja digital para seguros. A lógica, diz João Janes, responsável de marketing da empresa, é um pouco semelhante à da Revolut na área da banca – o utilizador subscreve o seguro, que pode ser do telemóvel, da casa, em breve do carro e também para animais, diretamente à Lovys, com a empresa a ter uma rede de seguradoras em toda a Europa que assumem o risco dos contratos celebrados.
“A ideia é dar uma experiência 100% digital ao cliente, muito mais flexível e muito mais imediata, simplificando toda a linguagem e todo o processo. Normalmente os processos de subscrição de seguros são supercomplexos”, acrescenta o porta-voz da startups sediada em Leiria sobre a proposta de valor da empresa, que já emprega 35 pessoas em quatro escritórios, três dos quais em Portugal, apesar de o grande foco ser para já o mercado francês. João Janes diz que a equipa quer perceber, com a Google, o consumidor e os comportamentos que têm em função do país onde vivem. “Há também a aceleração das nossas competências nas ferramentas Google, porque hoje em dia, quando qualquer pessoa tem uma dúvida ou precisa de um produto, a Google é um canal preferencial de busca.”
Apesar desta materialização de apoio da Google às startups em Portugal, Nuno Pimenta diz que o foco do programa é bem claro e que não há segundas intenções como identificar uma startup promissora que possa vir a receber investimento da gigante tecnológica. “Não está no nosso horizonte esse tipo de movimento”, garante o responsável. De fora fica também a hipótese de a Google abrir em Portugal um campus para startups como o que tem em Madrid, Espanha, por considerar que este serve perfeitamente o propósito de acolher e apoiar startups de toda a Península Ibérica.
“Para nós é fundamental perceber de que forma é que os podemos ajudar melhor. Esta é a nossa grande preocupação”, remata Nuno Pimenta.