As autoridades receiam que a encriptação end-to-end, como a que a Apple pretendia aplicar, irá prejudicar as investigações criminais. Com este tipo de proteção implementada, nem mesmo os fabricantes de aparelhos conseguem ter acesso aos dados que sejam guardados pelos donos dos telefones. No caso da Apple, a desistência destes planos aconteceu há dois anos, mas só agora é que a informação vem a público. A mudança mostra que a Apple colabora com as autoridades e as agências de inteligência, apesar de publicamente assumir várias batalhas legais com os governos e de se caracterizar como defensora dos dados dos seus clientes.
No mês passado, nos EUA, o Procurador Geral pediu publicamente à Aple para desbloquear dois iPhones usados por um oficial saudita que terá assassinado três americanos na base naval da Florida. A empresa acabou por entregar os backups dos telefones que tinham sido feitos para a iCloud e rejeitou a caracterização de que não tinha providenciado assistência.
Nem a Apple, nem o FBI comentam publicamente a relação que mantêm, mas fontes ouvidas pela Reuters explicam que Cupertino tem ajudado as autoridades nos bastidores. Sabe-se agora que essa colaboração e boa relação terá sido o motivo para o recuo na intenção de encriptar end-to-end as cópias de segurança carregadas para a iCloud. Caso o plano avançasse, nem a própria Apple teria forma de descodificar os dados. Funcionários da Apple e oficiais do FBI confirmaram, sob anonimato, que a empresa revelou estes planos e foi sensível aos argumentos do FBI de que esta prática impediria investigações e poderia levar a que criminosos ficassem em liberdade. A agência argumentou ainda que os backups que tinham sido fornecidos até então tinham sido usados como prova vital em milhares de casos.
A empresa de Tim Cook poderá ter receado ser atacada pelas autoridades publicamente, que a acusariam de estar a proteger criminosos, caso este plano avançasse. «Decidiram não picar mais a onça com vara curta», disse uma das fontes ouvidas. Por outro lado, a razão para o recuo no plano pode estar relacionada com os seus próprios clientes e com o receio de que pudessem ficar impossibilitados de aceder aos seus dados.
Os tribunais dos EUA autorizaram as autoridades a obter conteúdos da iCloud em 1568 casos, abrangendo mais de seis mil contas, só nos primeiros seis meses de 2019. A Apple revelou que entregou os dados em mais de 90% dos pedidos que recebeu e que as autoridades investigaram mais de 18 mil contas no primeiro semestre do ano passado.