O FBI apresentou um projeto de resolução no qual encoraja «os fornecedores de serviços tecnológicos a permitirem o acesso legítimo a dados encriptados permitidos ou facilitados pelos seus sistemas». O texto foi proposto durante um encontro promovido pela Interpol para especialistas em crimes contra as crianças, por forma a conseguir ter o apoio desta e de outras organizações internacionais.
A proposta apela a que possa ser instalada uma backdoor em sistemas de comunicação para combater os crimes contra menores. Se este tráfego passar a ser encriptado, nem as autoridades, nem as próprias empresas tecnológicas, têm acesso à informação. A Interpol, para já, desmentiu a intenção de fazer qualquer apelo neste sentido, como adianta a publicação Ars Technica.
O documento proposto pelos americanos afirma que há um consenso entre criptógrafos e especialistas de que é possível desenhar sistemas que «permitam o acesso legítimo a dados, enquanto se mantém a privacidade dos utilizadores (…) e que podem ser implementados de forma a melhorar a privacidade e mantendo uma cibersegurança forte». O objetivo será que as trocas de mensagens de cariz pedófilo não passem completamente despercebidas e que os autores possam ser identificados, algo que não poderá acontecer se forem encriptadas ponto-a-ponto.
As autoridades referem ainda que a capacidade de o Facebook fazer análises e moderar conteúdos nas comunicações foi responsável por 90% das denúncias de pornografia infantil que chegaram ao Centro Nacional para Crianças Desaparecidas e Crianças Exploradas em 2018.
No cenário atual, há poucos casos em que a encriptação tenha sido um problema: nos EUA, de um total de 2937 escutas registadas em 2018, só 146 estavam encriptadas e, dessas, só não foi possível desencriptar 58.
A mensagem do FBI surge numa altura em que cada vez mais tecnológicas se preparam para implementar um reforço de segurança através de encriptação ponto-a-ponto, alegando que uma backdoor poderiam ser usados tanto pelas autoridades, como por cibercriminosos, colocando em causa a privacidade e segurança das comunicações.
Recentemente, numa passagem por Lisboa, o diretor de privacidade do Facebook Messenger, Jay Sullivan, sublinhou que a tecnológica não vai criar uma backdoor, pois «não podes dar acesso aos bons sem dar aos maus». Também Stephan Micklitz, líder de engenharia para a área da privacidade da Google, disse numa entrevista recente à Exame Informática que «de uma perspetiva puramente tecnológica, encriptação com backdoor não é encriptação.»