Não é, propriamente, uma operação inovadora. Já outras empresas passaram de sociedades anónimas cotadas em bolsas para empresas referidas como privadas (sem cotação em bolsa). Um dos exemplos mais conhecidos é a Dell, um dos maiores fabricantes de computadores do mundo. Em setembro de 2013, o fundador e líder da empresa, Michael Dell, resolveu adquirir todas as ações disponíveis em bolsa num negócio superior a 20 mil milhões de dólares. Na altura, a justificação foi libertar a empresa da especulação bolsista. Uma decisão que contou com o apoio dos principais acionistas da empresa.
O objetivo de Elon Musk será similar ao de Dell. O CEO da Tesla nunca escondeu o que acha dos especuladores, sobretudo daqueles que têm apostado contra a empresa através dos investimentos em “shorts” (vendas a descoberto). Esta operação consiste em alugar ações por um determinado período, durante o qual as ações são vendidas e recompradas antes de serem devolvidas ao proprietário original. Obviamente, a expetativa deste tipo de aposta é que as ações desçam de valor. A diferença entre a venda a um preço mais elevado e a recompra a um preço mais baixo gera o lucro. No entanto, quem tem apostado contra a Tesla, incluindo algumas casas de investimento, tem perdido centenas de milhões porque o valor da ações tem vindo a aumentar. Muitos, a começar por Elon Musk, acreditam que o interesse no insucesso da Tesla é de tal ordem que tem levado a manobras de bastidores e campanhas para impedir o sucesso da marca que se dedica à produção de carros elétricos e sistemas de captura e armazenamento de energia solar.
Na publicação no Twitter, Musk garante que a operação tem financiamento garantido para um valor por ação de 420 dólares, significativamente acima dos 363 dólares do valor atual – nos últimos dias, as ações subiram significativamente.
Atualização:
Elon Musk enviou um mail para os funcionários da Tesla a explicar as razões de estar a considerar a retirada da Tesla da bolsa, mail que foi publicado no site da Tesla. Neste texto, o CEO da empresa refere que as oscilações no valor de mercado, provocadas pelas «maiores vendas a descoberto (shorts) da história do mercado bolsista», funcionam como fator de distração para quem trabalha na Tesla. Musk defende que a retirada da empresada bolsa vai levar a que os colaboradores da marca se concentrem melhor no que estão a fazer e permitir uma melhor gestão a longo prazo, já que a cotação bolsista «submete-nos a ciclos de resultados trimestrais, que coloca uma enorme pressão na Tesla para tomar decisões que podem ser certas para um determinado trimestre, mas não necessariamente para o longo prazo».
O CEO refere ainda que pretende manter os accionistas bem como deixar os trabalhadores manterem as ações, indicando que esta oferta de aquisição, ao avançar, vai garantir bons resultados para quem decidir vender. Musk garante não estar interessado em acumular controlo – o CEO tem cerca de 20% das ações – nem fundir a Tesla com a SpaceX. O responsável máximo da Tesla informa ainda que a ideia que defende terá de ser aprovada pelos accionistas para avançar e que fará sentido a empresa voltar à bolsa quando entrar numa «fase de crescimento mais lento e mais previsível».