«Os robôs sexuais ainda só são produzidos por cinco empresas a nível mundial. No entanto, ainda não existe qualquer tipo de regulação ou práticas na introdução desta tecnologia. Para comprar um robô sexual, será necessário ter uma receita? Será um método terapêutico? Ou poderá ser comprado livremente na loja?» Não foi assim que começou Talk de Aimee van Wynsberghe, mas foi este o tópico que gerou mais comentários da assistência que enchia por completo o espaço onde se ia falar sobre a ética na construção dos robôs.
E ainda sobre os robôs sexuais: «Esta é uma área tão recente que tem de ser feito um debate de fundo sobre qual a direção em que pretendemos seguir no que aos robôs sexuais diz respeito. Há tantas questões que podem surgir. Deixo aquela que considero a mais importante, a da socialização. Com a companhia de um robô sexual, até que ponto é que os utilizadores vão deixar de querer interagir com outros humanos? Como é que vai mudar o nosso comportamento?» E às questões, Wynsberghe acrescenta: «Temos de ter cuidado com aquilo que os robôs podem dizer e fazer para que as pessoas não sejam levadas a pensar que o robô pode sentir. Uma expetativa que vai ser defraudada. E isso é uma certeza. Além disso, há muitas pessoas que veem com otimismo os robôs sexuais. Aliás, há bordeis a abrir para esse efeito, nos quais as pessoas procuram os serviços de uma boneca sexual bastante avançada».
Na Web Summit, está um robô único no mundo: Sophia é o primeiro robô humanoide a ter cidadania atribuída. Neste caso pela Arábia Saudita. O que mereceu um comentário de Wynsberghe: «O que é que isso quer dizer? Que tem direitos? Pode decidir o que quer fazer? É que estamos a criá-los (aos robôs) para fazerem o que não queremos. Ou seja, estamos perante um rol de questões que temos de endereçar com urgência».
A presidente da Foundation for Responsible Robots também se mostrou crítica sobre a colocação no mercado de robôs de companhia. Aqueles desenhados para interagir com humanos substituindo-se à interação social. «O que significa criar uma tecnologia para um robô de companhia, papel que tem sido atribuído a um humano? Se tivermos a capacidade de desenvolver um robô que tenha essa capacidade, acho que poderemos ir por esse caminho. Mas temos, sempre, de ter muito cuidado com as expetativas que são criadas pelas pessoas com essas interações. Mas ver um robô num hospital, por exemplo, a ajudar pessoas a levantarem-se será algo que, para mim, fará todo o sentido. Mas a interação social deve manter-se entre as pessoas», concluiu.
Quem garante que os robôs são à prova de hackers?
Os robôs estão a entrar em casas espalhadas por todo o mundo. Ganham espaço no quarto das crianças, na sala ou no jardim. Para já, estas máquinas têm ainda capacidades escassas de interação e são, em termos de desenho, assumidamente objetos. No entanto, a presidente da Foundation for Responsible Robots alertou que: «a tecnologia está num estado tão embrionário, que é muito difícil perceber todas as implicações sociais que podem acontecer com a massificação de robôs. No entanto, os erros podem ser evitados logo na altura do desenho de conceção do produto. Isso está do lado dos fabricantes, é certo, mas os utilizadores, todos nós, temos de exigir que sejam cumpridas regras de ética que previnam comportamentos indevidos».
Por comportamentos menos próprios deve entender-se, por exemplo, o hack, o ataque informático, feito à boneca “Hello, Barbie”. Piratas informáticos conseguiram aceder remotamente ao brinquedo e controlar o microfone. Ou seja, a boneca transforma-se, automaticamente, num espião que pode ouvir conversas à distância. «Este exemplo é revelador do trabalhado que é necessário fazer para garantir que os equipamentos com inteligência, até um simples brinquedo, devem vir preparados para resistir a ataques informáticos», relembrou Wynsberghe.
Na sala, são os robôs de limpeza que já dominam o setor. Como os Roomba, por exemplo. «No entanto, é necessário preocuparmo-nos com a ética das empresas que produzem os robôs. No caso da iRobot, que produz os Roomba, falou-se recentemente da hipótese de venda das plantas das salas das casas à Amazon. Será isto o mais correto? Que tipo de transparência devemos exigir às empresas nos dados recolhidos pelos robôs que vivem em nossas casas?»
Há toda uma legislação para preparar, melhores práticas a definir e, claro, ética a respeitar para que o terreno esteja «preparado para a chegada de robôs mais complexos. E não só as empresas que devem ser responsabilizadas. Vejamos o exemplo dos drones. Estão disponíveis nas lojas e qualquer um pode adquiri-los. De que forma vamos responsabilizar alguém que usa o drone para espiar um vizinho? Temos todo um caminho para fazer», alerta a presidente da fundação.