O ano que agora termina fica marcado por mudanças importantes em algumas das mais relevantes empresas de tecnologia, por ataques informáticos e, claro, por muitos dispositivos. E 2014 foi generoso para as startups que conseguiram valorizar-se e dar aos seus fundadores muitos milhões de euros. Este foi o ano que confirmou os phablets como substitutos dos tablets e que trouxe a Realidade Virtual para a ordem do dia. Mas comecemos por dar uma volta em Portugal.
Mais taxas e a Justiça a braços com uma migração mal conseguida
O projeto de lei da Cópia Privada agitou o Parlamento e a Sociedade Civil. A proposta de lei elaborada pela Secretaria de Estado da Cultura prevê o alargamento da aplicação de taxas compensatórias aos proprietários do direito de autor a, por exemplo, telemóveis, unidades USB, discos rígidos, computadores e cartões de memória. Taxas que variam entre os dois e os 20 cêntimos por GB, fixando em 20 euros o máximo da compensação. Autores, fabricantes, associações, utilizadores… o debate foi agitado e continua sem fim à vista. O Parlamento adiou, mais uma vez, a votação da polémica alteração à lei que está prevista entrar em vigor em 2015.
O Citius esteve em estado de sítio mesmo quando o ano judicial estava a iniciar. A plataforma informática usada pelos tribunais esteve em baixo mais de um mês provocando muitos atrasos na atividade judicial. Um processo de migração de mais de 3,5 milhões de processos para a nova plataforma teve início a 26 de agosto, mas no dia 1 de setembro (abertura do ano judicial) o Citius estava bloqueado e inacessível à maioria dos tribunais que não conseguiam aceder aos processos. O caso escalou com críticas provenientes dos mais variados setores e até uma investigação da Procuradoria-Geral da República a pedido do Ministério da Justiça.
Novas caras, novas tendências
Renovar parece ter sido a palavra de ordem em algumas das empresas pilar da Tecnologia, como a Microsoft. Depois de 25 anos na empresa, o carismático CEO Steve Ballmer deu lugar ao colega Satya Nadella que mudou o azimute daquela que ainda é a maior empresa de software do mundo. O mantra “mobile first, cloud first”, a compra da Nokia e o regresso de Bill Gates a funções executivas levou à maior reorganização de sempre na empresa norte-americana. Um despedimento recorde de funcionários que já ultrapassou os 20 mil (dos quais 12 mil eram pertença da Nokia) e o encerramento dos Xbox Entertaiment Studios provaram que a empresa que deixou de vender licenças do Office (agora, funciona no modo de subscrição) estava apostada na mudança.
Outro gigante do software também mudou de timoneiro. Depois de 37 anos à frente da Oracle o polémico Larry Ellison deu lugar aos seus dois co-presidentes (Safra Catz e Mark Hurd – que foi despedido da HP em 2010 por alegado assédio sexual e despesas não justificadas).
Da Ásia vieram dois nomes que marcaram a atualidade. Jack Ma, CEO do Alibaba Group, fez furor em Nova Iorque quando a sua empresa, o maior e mais valioso site de comércio eletrónico do mundo, teve a maior OPA de sempre nos Estados Unidos; Lei Jun, CEO da Xiaomi, conquistou o mercado de smartphones da China e “ameaça” entrar na Europa e nos EUA. A empresa, também conhecida como a “Apple da China” já está avaliada em 45 mil milhões de euros, é número três no mercado mundial de smartphones e a Índia é o mercado onde está apostada atualmente.
A subida de empresas como a Xiaomi trouxe dissabores à Samsung e à Sony. O fabricante coreano, o maior da eletrónica do consumo, reviu em baixa os proveitos da sua área de dispositivos móveis o que levou a mudanças profundas na organização (e à substituição de pessoas). Aliás, pela primeira vez em três anos, a divisão de dispositivos móveis foi substituída pela dos semicondutores como a mais lucrativa dentro da Samsung Eletronics.
No Japão, a Sony tremeu com a concorrência dos fabricantes chineses e, depois de ter vendido a divisão de computadores pessoais, Vaio, veio a público que o negócio dos smartphones poderia estar em vias de ser alienado. Mas o fabricante nipónico não desistiu deste negócio. Vai despedir mil funcionários e contratou um novo CEO para divisão de dispositivos móveis.
Os grandes foram às compras
A Facebook é uma das empresas mais valiosas do mundo e não dá sinais de querer perder esse estatuto. Começou o ano a dar uns incríveis 16 mil milhões de dólares pela WhatsApp (aplicação de conversação instantânea) e em julho investiu mais dois mil milhões para ficar com a Oculus, a empresa que deu nas vistas ao fazer os Rift – os primeiros óculos de Realidade Virtual a chegar ao mercado. Ambas as compras mostram as intenções da Facebook em trabalhar, cada vez mais, a experiência de utilização desta rede social.
Também no início do ano a Google desembolsou três mil milhões de dólares para comprar a Nest Labs, uma empresa que faz termóstatos e outros dispositivos para domótica. Uma aquisição que abriu, à Google, as portas de milhares de lares norte-americanos.
A Apple investiu a mesma quantia para ficar com a Beats Music & Beats Eletronics. Auscultadores, colunas de som mas, acima de tudo, um serviço de streaming de música que representa o futuro para um iTunes que estava a perder popularidade e a baixar de vendas. O futuro não é a venda de música, mas o seu aluguer. A Apple percebeu isso e esta compra foi a resposta.
A Amazon viu no serviço Twitch a possibilidade de continuar a sua aposta no fornecimento de conteúdos e gastou 970 milhões de dólares para poder ficar com este canal de vídeos de jogos e para jogadores.
Mas a grande compra do ano pertence à Microsoft. Não há dúvida que 2014 vai ser conhecido como o ano da capitulação da Nokia. A empresa finlandesa que chegou a ser sinónimo de telemóvel passou à Microsoft, por 10 anos, todas as patentes e estruturas relacionadas com a divisão de terminais móveis. Fecharam fábricas e mais de 10 mil vão perder o emprego num negócio que custou sete mil milhões de dólares à empresa de Bill Gates. E o ano termina com o primeiro smartphone feito segundo os moldes herdados pela Nokia, mas que já não alberga esse logótipo no chassis.
A Lenovo assume-se cada vez mais como o maior fabricante mundial de computadores. Este ano concluiu a aquisição da divisão de servidores da IBM e tirou a Motorola Mobility das mãos da Google e tornou-se, também, um dos maiores fabricantes de smartphones do mundo.
Finalmente, não há como não referir a parceria entre dois rivais de sempre. A IBM e a Apple assinaram um acordo para desenvolver aplicações que facilitem a entrada de dispositivos como o iPhone e o iPad em ambiente empresarial. A Google e a Microsoft é que não gostaram nada desta aliança.
Os dispositivos que fizeram a diferença
iPhone 6 Plus e Apple Watch – Depois de Steve Jobs ter criticado os smartphones Android com ecrãs de dimensão maior, eis que a Apple não resistiu a um segmento de mercado que cresceu a dois dígitos em 2014 e lançou o iPhone 6 Plus. As primeiras unidades daquele que é o maior iPhone de sempre dobravam com alguma facilidade. Este caso, batizado como Bendgate, levou a Apple a substituir alguns terminais e muitos adolescentes a partir telefones em lojas espalhadas um pouco por todo o mundo.
No mesmo evento em que deu a conhecer os novos iPhones (o iPhone 6 voltou a ser um campeão de vendas e a contribuir para manter a Apple como empresa mais valiosa do mundo), a empresa norte-americana também revelou o seu primeiro smartwatch. O Apple Watch só chega no primeiro trimestre de 2015, mas todos os analistas já o indicam como o principal responsável pelo crescimento que vai registar-se no mercado dos wearables no ano que está prestes a começar.
Aqui fica o vídeo em que Tim Cook revela os novos iPhones.
Gear VR – A Samsung fez uma parceria com a Oculus e mostrou na IFA (maior feira europeia de Eletrónica de Consumo) os Gear VR – óculos de Realidade Virtual que funcionam em conjunto com o Note 4 para permitir uma experiência muito imersiva. Jogos e vídeos são mostrados num campo de visão de 360° que levam o utilizador para “dentro” do cenário. A experiência ainda carece de uma maior resolução, mas já é bastante convincente. O ano que agora começa vai trazer novos conteúdos para estes óculos e para outros projetos similares que empresas como a Sony e a Microsoft estão a efetuar.
Hando Hoverboard – Quem viu Michael J. Fox a usar um skate flutuador em Regresso ao Futuro sonhava com o dia de poder experimentar algo semelhante. Nos dias que correm, a maioria dos projetos disruptivos nasce em redes de crowdfunding. O mesmo aconteceu à Hando Hoverboard que, na Kickstarter, conseguiu rapidamente os fundos necessários para se tornar uma realidade. A data de estreia para o público em geral está marcada para dia 21 de outubro de 2015. A prancha vai custar mais de oito mil euros. Pode ver mais na Kickstar
Neste vídeo, o skater mais conhecido do mundo põe a tecnologia à prova.
A televisão dobrável – depois dos televisores curvos se terem tornado banais, a Samsung deu o passo seguinte e revelou um protótipo que passa de plano a curvo com o simples premir do telecomando. O ecrã de 105 polegadas, foi mostrado na IFA e o fabricante coreano disse que, se chegasse às lojas, ter uma televisão dobrável custaria 200 mil euros. Na mesma feira, a LG também revelou um sistema semelhante.
DJI Phantom Vision 2 – 2014 é o ano da invasão dos drones. Os pequenos veículos voadores começam, finalmente, a ter preços mais convidativos e surgem em todos os formatos. Desde os brinquedos da portuguesa Science4u até este Phantom Vision 2 que consegue subir até aos 400 metros e fazer imagens impressionantes. O melhor? Pode usar coordenadas geográficas para o enviar em “missões” sem ter de o comandar.
Nvidia Shield – Jogar! É essa a utilização primordial do tablet. A Nvidia, muito atenta, usou todos os seus conhecimentos na área do desempenho gráfico para desenhar, de raiz, um tablet Android destinado a quem gosta de jogar. Chegou ao mercado este ano e tem gráficos que conseguem rivalizar com as consolas da sala.
Core M – a nova geração de processadores da Intel vem com o objetivo de conquistar os dispositivos móveis. A arquitetura Core M promete menores consumos de energia e desempenho equilibrado. Este ano já deu um ar da sua graça em alguns convertíveis (portáteis que também podem ser usados como tablets).
Galaxy Note 4 – A quarta geração de phablets da Samsung (a empresa criou o segmento em 2011) é o melhor dispositivo deste tipo no mercado. Desempenho, ecrã mas, acima de tudo, experiência de utilização que permite juntar, bem, trabalho e lazer.
Surface Pro 3 – Um verdadeiro convertível no qual a Microsoft se afasta cada vez mais do conceito de tablet para se focar no computador portátil. O Surface Pro 3 correu muito bem à empresa norte-americana e é um dos melhores dispositivos deste género lançado em 2014.
One Plus One – Uma das maiores surpresas do ano. A empresa inglesa desenhou um smartphone que só pode ser encomendado online e por convite. Bonito, poderoso… e com um preço atrativo (a partir de 269 euros), o One Plu sOne tem esgotado todas as séries que são encomendadas. Um novo modelo de negócio e mais dores de cabeça para os grandes fabricantes.
Prusa i3 Hephestos – Num ano em que os makers (os construtores ou fazedores – comunidade que cria os seus projetos desde o zero) e a impressão 3D se assumiram como uma tendência, esta impressora 3D da espanhola Bq chegou a Portugal totalmente desmontada. Quem a compra (custa 499 euros) tem de estar preparado para montar as mais de 200 peças que vêm no kit. No final, fica com uma impressora que consegue fazer objetos com bastante qualidade.
LG G3 – É um dos melhores smartphones Android do ano. O G3 tem o ecrã de maior resolução disponível num terminal móvel e uma série de tecnologias exclusivas da LG que fazem com eu seja um dispositivo único.
Volkswagen e-up! – O carro elétrico que surpreendeu pelas capacidades e pelo preço. O e-up! é um citadino muito compacto com autonomias que podem chegar aos 160 quilómetros. Fazer 100 quilómetros neste carro custa, em média, pouco mais de 1,5 euros. O carro está disponível em Portugal com preços que começam nos 25.700 euros.
BMW i3 – O carro elétrico mais vendido em Portugal tem design típico da BMW e muita tecnologia a bordo. Construído com muitos materiais reciclados, tem um ecrã central sempre ligado à Net e um serviço de Concierge – alguém que está do outro da linha para responder aos pedidos do condutor. Está disponível a partir dos 38.250 euros.
Segurança a quanto obrigas!
Heartbleed – A descoberta de uma vulnerabilidade na encriptação SSL utilizada por serviços como o GMail, Facebook e muitas instituições bancárias fez com que fosse necessária lançar atualizações de segurança a alteração de milhões de palavras-passe com a maior brevidade possível. A falha é uma das mais importantes da história da Internet por ter envolvido tecnologias de encriptação – as mesmas que, supostamente, servem para proteger os dados dos utilizadores e das empresas na Internet.
Celebridades expostas no iCloud – O serviço de armazenamento na Nuvem da Apple esteve no centro de um caso onde foram roubadas fotos e vídeos de várias celebridades que usavam o iCloud para guardar esses ficheiros. A Apple reforçou as políticas de segurança – obrigando à dupla autenticação – e ficou provado que ataques de força bruta (os hackers experimentam combinações até descobrir a password correta) tinham estado na origem da quebra de segurança. Jennifer Lawrence, Kate Upton, Victoria Justice e McKayla Maroney foram algumas das atrizes que tiveram a sua vida privada devassada com este caso.
Sony Pictures – O recente ataque informático à Sony Pictures trouxe a público centenas de emails trocados entre algumas das personalidades mais influentes de Hollywood. Os piratas, um grupo autointitulado “Guardiães da Paz”, começou por exigir dinheiro para não revelar as informações mas, numa segunda fase, exigiu a retirada do circuito cinematográfico do filme “The Interview” que conta a história do assassinato do líder da Coreia do Norte. O caso escalou com as declarações de Barack Obama que, apoiado por um relatório do FBI, acusou a Coreia do Norte de estar na origem dos ataques. A Sony suspendeu o filme, mas acabou por exibi-lo em algumas salas onde os espetadores fizeram fila e não temeram as ameaças terroristas.
Adeus, até sempre!
Windows XP – A Microsoft cortou o suporte a um dos seus sistemas operativos de maior sucesso. O Windows XP deve dar lugar ao Windows 7 e aos Windows 8, mas as empresas (as de PME’s, principalmente) mantém-se fieis ao sistema que ainda tem, segundo a empresa NetMarketshare, a segunda maior base instalada com 13,57% do mercado. Mas 2014 fica para a memória como o ano em que a Microsoft matou o Windows XP.
MSN Messenger – Foi um dos programas de conversação mais populares no início deste século. Nos seus 15 anos de história teve milhões de utilizadores. A Microsoft passou-lhe a certidão de óbito a partir de outubro deste ano sugerindo a utilização do Skype em alternativa.
iPod Clássico – A revolução da música digital começou com o leitor de áudio digital da Apple. Ao contrário dos rivais, o iPod vinha com ligação ao iTunes e milhões de músicas disponíveis para comprar. Resistiu a quase tudo, mas não conseguiu vencer os serviços de streaming e os smartphones. A Apple acabou com ele este ano e as versões mais raras já viraram objeto de culto no eBay onde estão a ser comercializados por algumas centenas de euros.
Nokia – Não é o fim, mas quase. A Nokia vai continuar a fazer dispositivos e a lançá-los no mercado. Aliás, já em janeiro a empresa lança um tablet na China. Mas estará longe de conseguir o sucesso do passado.
Com os olhos no Espaço!
A Agência Espacial Europeia (ESA) conseguiu um dos maiores feitos na recente história da exploração espacial. A sonda Rosetta conseguiu fazer com o robô Philae aterrasse num cometa em movimento. Foi a primeira vez que a Humanidade conseguiu tal feito e as informações recolhidas vão servir para conhecermos melhor a história da formação do nosso planeta.
Aqui fica o vídeo oficial onde a ESA antecipa a missão.
A SpaceShipTwo era uma nave desenvolvida pela Virgin Galactic e integrada no seu programa de testes de voo para levar turistas ao Espaço. A nave despenhou-se na Califórnia no final de outubro. Um dos pilotos morreu e um outro sofreu ferimentos graves após ter-se ejetado do veículo. Richard Branson lamentou o sucedido, mas garantiu que os planos da Virgin Galactic se mantêm.
E duas curiosidades
O passarinho
O criador de Flappy Bird nunca imaginou que o jogo que criou fosse descarregado mais de 50 milhões de vezes e o mais pesquisado no Google. Nguyen Ha Dong terá ganho três milhões de dólares nos nove meses em que o jogo esteve disponível nas lojas de aplicações. O sucesso foi tanto que o jovem vietnamita não aguentou a pressão para criar novas atualizações e acabou por retirar a app das lojas.
“Sorriam”
A selfie tirada nos Oscares por Ellen Degeneres é a mais partilhada de sempre no Twitter. A foto, um golpe de publicidade da Samsung?, teve mais de 3,3 milhões de partilhas naquela rede social.