O Project Gameface da Google ajudou Lancy Carr, um gamer quadriplégico que usa um rato controlado pela cabeça para conseguir jogar. Depois de ter perdido o hardware num incêndio, a gigante tecnológica ajudou Carr com um sistema de código aberto, customizável e de baixo custo, alimentado com aprendizagem de máquina e que permite controlar o cursor do jogo com a cabeça e com gestos faciais.
Para perceber como é que a Inteligência Artificial que está a ser desenvolvida atualmente pode ajudar neste tipo de soluções, a Wired contactou vários especialistas. Laurence Moroney, uma das mentes por trás do Gameface, explica que é importante distinguir entre IA e aprendizagem de máquina: “IA é um conceito (…) aprendizagem de máquina é a técnica usada para implementar esse conceito”. Os sistemas de aprendizagem funcionam por inferências, ao estabelecer padrões e a aprender sozinhos, sem quaisquer instruções. No caso do Gameface, há uma série destes modelos a operar em conjunto: um para detetar um rosto, outro para perceber onde estão os olhos, nariz, boca, etc. e vários outros para interpretar os comandos e traduzir em controlos.
Moroney considera que a aplicação da IA e dos modelos de aprendizagem para aumentar as capacidades de executar o que dantes não era possível é uma das áreas onde estas soluções vão ter mais impacto. “Qualquer coisa que deixe os criadores serem ordens de magnitude mais eficientes a resolver tipos de problemas que dantes não eram possíveis só pode ser benéfico para a acessibilidade e qualquer outro espaço”, afirma Moroney.
Na Perelesoq, perspetiva-se um futuro onde a IA pode ajudar com as tarefas mais rotineiras, deixando os criadores dedicarem-se a outro tipo de trabalhos. Já na Soft Leaf Studios, Conor Bradley, diretor criativo, explica que “como programador, quero ter tantas ferramentas quantas possível para tornar o meu trabalho mais fácil (…) com tempo, vejo mais e mais jogos a tirarem partido destas ferramentas poderosas para tornarem os nossos jogos mais acessíveis”. Indo mais à frente, é mesmo possível que a IA seja usada para desenvolver um enquadramento aplicável a todos os jogos que ajude a converter os aspetos visuais, sonoros e de interatividade para serem mais acessíveis.
Bradley explica que “não podemos dizer apenas ‘IA, torna o meu jogo mais acessível’. Precisamos de jogadores, incluindo das comunidades deficientes e neurodiversas para testar os nossos jogos. No final de contas, vai ser um humano a jogar o jogo e não uma máquina”.
Apesar de o futuro ser ambíguo ainda, há um grande potencial para a IA ser usada na indústria dos videojogos com vista a tornar os títulos mais acessíveis e disponíveis para uma maior fatia de jogadores.