O jogo PuzzlAR, criado pelo estúdio português Ontop, tornou-se no primeiro projeto independente a ser publicado pela Magic Leap, startup de realidade aumentada que está avaliada em mais de 6,5 mil milhões de dólares.
O projeto criado em Lisboa ganha assim destaque naquele que promete ser um dos principais ecossistemas de conteúdos de realidade aumentada. O lançamento do PuzzlAR para os óculos Magic Leap One coloca os holofotes na Ontop, uma das 30 empresas escolhidas para o Programa de Criação Independente da startup norte-americana.
Nuno Folhadela, diretor executivo da Ontop, diz que a experiência que a empresa tem no desenvolvimento aplicações de entretenimento para as plataformas de realidade aumentada da Apple, Google e Microsoft contribuiu para que fossem os primeiros a chegar à loja da Magic Leap.
«Já estivemos com todos os outros programadores, os que ganharam também o programa, e a nossa experiência está bastante à frente, daí sermos o primeiro [lançamento]. Claro que agora temos responsabilidade em termos de qualidade e de servir de referência para quem vem a seguir», contou o responsável em entrevista à Exame Informática.
Além de financiar o desenvolvimento da PuzzlAR para os Magic Leap, a empresa americana contribuiu ainda com unidades de desenvolvimento dos óculos Magic Leap One e com suporte tecnológico. «Falo com eles praticamente todos os dias», sublinha Nuno Folhadela.
O facto de a aplicação da Ontop ter uma premissa e experiência de utilização simples – é um jogo de puzzle, no qual o utilizador tem de montar as peças espalhadas à sua volta para reconstruir um monumento de renome mundial, como a Estátua da Liberdade –, também ajudou a que o projeto fosse escolhido, entre 6.500 candidaturas, para ter o apoio da Magic Leap.
«Dá para perceber que a Magic Leap tem uma preocupação muito maior com o consumidor e para ser acessível. Essa é a estratégia deles, eles querem ser um dispositivo de massas. Definitivamente estão nesse caminho», explica o porta-voz da Ontop.
Adaptar o PuzzlAR para o Magic Leap envolveu ajustes sobretudo ao nível da experiência de utilizador. Por exemplo, os óculos da startup norte-americana têm um comando que permite interagir com os elementos digitais que surgem no campo de visão dos utilizadores, algo que não existe nos óculos HoloLens, da Microsoft.
Apesar de a Magic Leap ter atravessado um período de fortes críticas em 2017, por a tecnologia apresentada pela empresa não corresponder ao que tinha sido prometido nos vídeos comerciais, Nuno Folhadela não duvida do potencial da startup no mercado de realidade aumentada.
«Em termos de grafismo, de como interages com o mundo real, a rapidez, especialmente a maneira como percebes a maneira como funciona, é fenomenal, eles estão na linha da frente».
Mas ainda há um longo caminho a percorrer para aquela que é uma das jovens empresas – fundada apenas em 2010 – mais valiosas do mundo e que tem entre os investidores nomes como a Google, Alibaba e Qualcomm.
«Eles têm um produto de consumo que ainda não está pronto porque não tem conteúdo, podes ter uma máquina fantástica, se não fazes nada com ela, qual é o sentido? O que a Magic Leap está a fazer é juntar-se aos melhores programadores e a meter conteúdo na plataforma para depois fazerem o lançamento. Quando será, não sei», sublinha o CEO da Ontop.
Com um preço que começa nos 2.300 dólares, o equivalente a 2.050 euros, a atual versão dos óculos Magic Leap One é destinada principalmente para programadores e entusiastas de realidade aumentada, e não tanto para o consumidor final. O CEO da startup, Rony Abovitz, já admitiu que só a segunda versão dos óculos, e que já terá suporte para redes móveis de quinta geração (5G), é que será um produto orientado para o grande público – mas esta segunda versão ainda não tem data de lançamento.