A Meta conta com milhares de milhões de utilizadores nos diferentes serviços que detém – Facebook, Instagram e WhatsApp – e é responsável por 10% do tráfego online de rede fixa e 22% do que é gerado por aparelhos móveis. Assim, entende-se melhor como surge este megaprojeto de dez mil milhões de dólares (9,5 mil milhões de euros ao câmbio atual) para criar um reforço de infraestrutura que permita um acesso mais fiável e rápido. A empresa pretende espalhar um cabo submarino, ao longo de mais de 40 mil quilómetros, que deverá praticamente dar a volta ao mundo.
Fontes próximas do negócio confirmam o orçamento e a dimensão do cabo projetados, com Sunil Tagare, um especialista em cabos submarinos a ter avançado em outubro a intenção da Meta. Inicialmente, o projeto estava avaliado em dois mil milhões de dólares, mas o grupo liderado por Mark Zuckerberg aumentou-o consideravelmente, depois de avaliar os anos de trabalho necessários para a empreitada.
O projeto está ainda numa fase inicial, de desenvolvimento de projeto, mas os bens físicos ainda não foram adquiridos. Há a expectativa de que a empresa fale mais abertamente sobre a iniciativa durante o ano de 2025, altura em que deve discriminar a duração da construção, a rota pretendida, a capacidade e as suas intenções.
Ranulf Scarborough, analista deste segmento, conta ao TechCrunch que podem passar-se anos até a Meta conseguir avançar neste projeto: “Há um fornecimento realmente limitado de navios para cabos submarinos. São bastante caros e estão reservados para os próximos anos. Descobrir recursos disponíveis para fazê-lo em breve é um desafio”. A intenção com este cabo é fornecer um acesso dedicado aos serviços da Meta em todo o mundo. Os rumores, ainda não confirmados pela tecnológica norte-americana, avançam que o cabo poderá ir desde a costa leste dos EUA até à Índia, passando pela África do Sul, retornando à costa oeste dos EUA através da Austrália, cobrindo o globo numa espécie de ‘W’.
Este projeto da Meta sublinha como o investimento e propriedade dos cabos submarinos têm vindo a mudar nos últimos anos, passando das operadoras de telecomunicações para as grandes tecnológicas. A Meta já detém parcialmente 16 redes de cabos submarinos, incluindo o 2Africa, que circunda aquele continente. A novidade aqui é a intenção de ter um cabo detido em exclusivo, colocando o grupo no patamar da Google, que já faz parte de 33 projetos destes e tem alguns em regime de exclusividade.
A intenção de um cabo próprio exclusivo explica-se pela necessidade de conseguir controlar melhor o serviço e conteúdos distribuídos, cortando a dependência (para as longas distâncias) de outros parceiros. A segunda parte da explicação é geopolítica, com a Meta a pretender evitar que conflitos armados possam levar a disrupções nas infraestruturas (recentemente, os houthis, os russos e os chineses foram acusados de terem propositadamente danificado alguns destes cabos, interferindo com o tráfego global). A intenção de chegar à Índia pode também ter um terceiro motivo: a construção de um centro de dados especializado em treino e trabalho de modelos de Inteligência Artificial, dados os baixos custos praticados naquela região.