Meta é o novo nome da empresa que detém o Facebook. É importante começar por aqui porque, após as notícias de quinta-feira, há muita gente a pensar que o serviço Facebook vai mudar de nome. Não é isso que aconteceu ou vai acontecer. A rede social liderada por Mark Zuckerberg continua a chamar-se Facebook. Mas a empresa dona este serviço, bem como o Instagram e o WhatsApp, que usava o mesmo nome (Facebook) passou a chamar-se Meta. Um pouco como aconteceu com a Google, que agora faz parte da empresa Alphabet.
Nada de surpreendente porque o líder da antiga Facebook, agora Meta, já tinha dado várias dicas sobre esta intenção. Não só para separar as águas entre a empresa mãe e os diferentes serviços que detém, mas, também, para reforçar a ideia que a tecnológica está muito interessada numa das grandes tendências, o metaverso. Por exemplo, recentemente a Facebook, agora Meta, tinha anunciado o interesse em contratar 10 mil trabalhadores na Europa para construir o tal metaverso.
Tudo começou (e começa) na Realidade Virtual
A Realidade Virtual (RV) tem sido uma das promessas tecnológicas mais repetidas desde o final do século passado. Nesta tecnologia, o utilizador usa um headset com ecrãs em frente aos olhos para explorar um mundo totalmente virtual e em 3D. Com outros acessórios, como luvas ou detetores de movimento, até é possível mover-se e ‘sentir’ os elementos virtuais. A evolução desta tecnologia tem tido altos e baixos. É um exemplo de como muitas vezes os conceitos se antecipam às capacidades tecnológicas. De outro modo, uma das principais razões que impediram o sucesso tantas vezes prometido da RV foi o facto de a tecnologia ainda não estar preparada para a experiência imaginada pelos utilizadores. Foram muitas as tentativas de grandes empresas tecnológicas e de startups nas últimas décadas, mas a tecnologia não conseguiu atingir a popularidade. Muito porque a experiência não era satisfatória em consequência das limitações tecnológicas.

Mas a evolução exponencial das capacidades de processamento, sobretudo na componente gráfica, e na tecnologia de visualização (ecrãs), fez com que a RV já sejam uma realidade para muitos utilizadores. Hoje há produtos de RV com uma popularidade já assinalável, como os óculos PS VR (para a PlayStation) e Oculus Quest, que são da Facebook (agora Meta). Aliás, a compra da Oculus, um fabricante de óculos de RV, pela Facebook em 2014, um negócio de cerca de 2 mil milhões de dólares, foi um forte sinal da aposta de Zuckerberg na RV.
A Realidade Aumentada (RA) é outra tecnologia imersiva. Neste caso, são misturados elementos de RV com a realidade em redor do utilizador. O headset Microsoft HoloLens é o exemplo mais conhecido. Com este headset é possível ver imagens digitais, projetadas nos óculos, sobrepostas à realidade. Por exemplo, é uma tecnologia usada para formação e informação contextual: podemos estar a olhar para uma máquina e aparecerem imagens com instruções sobre como utilizá-la.
Horizon, um primeiro passo
O anúncio de Zuckerberg não se ficou pela mudança de nome da empresa. O CEO da Meta também anunciou um serviço baseado na RV, o Horizon Home. Neste serviço será possível usar óculos de RV Oculus Quest 2 para visitar espaços de Realidade Virtual e fazer chamadas via Messenger dentro dos espaços RV. Mark Zuckerberg também anunciou novos óculos que serão lançados brevemente: os Nazare, uns óculos de Realidade Aumentada, e o Project Cambria, um headset RV de alta qualidade. Projetos que reforçam a ideia de um futuro próximo onde as pessoas poderão comunicar, partilhar ideias e divertir-se em espaços de RV. Apesar de esta tecnologia ser muito associada a jogos, um dos objetivos é criar espaços de RV onde colegas de uma empresa se possam encontrar, uma tendência que tem vindo a acelerar devido aos efeitos da Covid (teletrabalho).
Mas o que é o Metaverso?
Pode ser um pouco de tudo. No limite, um mundo virtual alternativo ao mundo real, um pouco como apresentado em Ready Player One. Mas não pense que dentro de pouco tempo poderá viver num mundo digital, capaz de interagir com os cinco sentidos humanos. Não é esse o metaverso da Meta.
Para Zuckerberg “o metaverso não vai substituir tudo o que veio antes, mas será a próxima plataforma. Não será uma coisa que uma empresa constrói. É uma plataforma mais abrangente que, penso, contará com a contribuição de todos para a construir de modo que seja aberta e interoperável… O metaverso é como se fosse uma Internet corporificada….É uma Internet em que poderemos estar e fazer parte de algo que vai parecer qualitativamente diferente. A característica diferenciadora que, pensamos, vai existir no metaverso é essa sensação de presença, como se estivéssemos ali com outra pessoa ou em outro lugar ”.

Nesta visão de metaverso nem é preciso recorrer à RV, como referiu Andrew Bosworth, líder do Facebook Reality Lab: “Apesar de (o metaverso) ser 3D e imersivo, há muitas coisas 3D imersivas que acedemos através dos ecrãs dos nossos telemóveis, via videojogos como o Fornite ou experiências mais sociais”. Mas Bosworth também sublinhou que a experiência será muito melhor através de sistemas de RV e RA. E a escolha destas tecnologias dependerá do contexto. Bosworth deu exemplos: “se estiver a rua, é provável que o melhor acesso seja através do meu telemóvel; se estiver sozinho num quarto, a RV provavelmente será a melhor solução; se estiver num escritório com outras pessoas, a RA talvez seja a melhor maneira de usar o serviço”, concluindo “existirão muitas formas diferentes de interagir com o metaverso”.
Como provavelmente já concluiu, o metaverso, pelo menos na visão da Meta, não será um universo virtual alternativo, mas sim uma plataforma onde poderão correr vários tipos de serviços e soluções. Um pouco como acontece no Facebook, onde há a componente mais tradicional da rede social, mas também é possível trocar mensagens ou jogar. Os jogos serão, aliás, uma forte componente do metaverso. A empresa de Zuckerberg tem feito parcerias com produtoras de jogos. Por exemplo, o Population On, um jogo de ação tipo battle royale (exploração, luta e sobrevivência) junta 24 jogadores que usam os óculos de RV Quest.
Zuckerberg apresentou várias demonstrações de jogos de diferentes tipos, incluindo um jogo de xadrez em Realidade Aumentada e de basquetebol em Realidade Virtual.
