Felix Kjellberg, sueco, mais conhecido por PewDiePie no YouTube, voltou à ribalta. Desta vez pelas piores razões. O seu nome foi referenciado numa emissão feita nas redes sociais por Breton Tarrant durante o ataque às mesquitas neozelandesas, que pediu também que «subscrevessem» o canal do youtuber.
Para contextualizar: até há pouco tempo, PewDiePie era o youtuber com mais subscrições na plataforma e estava numa espécie de corrida pelo primeiro lugar com um canal indiano dedicado a produções “Bollywoodescas”, que dá pelo nome de T-Series. Recentemente, o sueco foi ultrapassado e perdeu o título que tinha desde 2013, ano em que se tornou o número um da YouTube.
Mas como se relaciona uma situação com a outra, pergunta? No decorrer da competição, o youtuber sueco fez de tudo para conseguir manter-se em primeiro lugar, chegando ao ponto de levar Elon Musk (líder da SpaceX e da Tesla) e Justin Roiland (criador da série de animação Rick and Morty) a participarem num dos seus segmentos, o Meme Review, bem como fez uma espécie de canção rap (uma diss track) para provocar ironicamente a T-Series
O ponto de encontro dos dois eventos surgiu quando PewDiePie apelou, por várias vezes em vídeos, aos seus fãs que se juntassem numa espécie de cruzada contra o canal rival e subscrevessem ao seu canal – o cerne do problema está em alguns fãs não conseguirem distinguir uma brincadeira patética de um crime horrendo que levou à morte de 50 pessoas.
No rescaldo da situação, PewDiePie publicou na sua conta oficial de Twitter uma mensagem de apoio às vítimas e famílias, na qual expressou o seu desgosto e desprezo pela forma como o seu nome foi associado ao crime. Mesmo que não tenha passado de uma competição entre canais de YouTube, as palavras do ex-campeão da plataforma de vídeo revelam ter um impacto enorme nos seus seguidores, que muitas vezes têm atitudes que o levam a ser responsabilizado, mesmo que indiretamente.
No passado, Felix foi acusado por várias vezes de fazer apologia a ideologias de extrema-direita, pelo Wall Street Journal, quando em 2017 publicou um vídeo no qual fez gestos ofensivos e recorreu a parafernália antissemita. Este evento levou à cessação do contrato que o sueco tinha com a Disney, pondo termo aos projetos conjuntos que tinham previsto.
A Facebook removeu 1,5 milhões de vídeos do atentado
Nas 24 horas após o ataque, a Facebook comunicou, através de uma publicação no Twitter, ter removido um milhão e meio de vídeos do ataque às mesquitas. A ação foi levada a cabo após as autoridades neozelandezas terem alertado a rede social de que Breton Tarrant estava a fazer streaming dos eventos. Como medida de prevenção, a rede social comprometeu-se a eliminar também todas as versões editadas do vídeo, bem como a conta pessoal de Instagram e de Facebook do terrorista.
Este ataque aparenta ter sido planeado de forma a tornar-se viral, uma vez que o atirador publicou um manifesto no qual fez referência a PewDiePie (tal como referido anteriormente), a Candace Owens, uma comentadora política afro-americana mais conhecida por apoiar Donald Trump, e a uma série de teorias da conspiração que apelam a “supremacia branca”. O vídeo original de Breton Tarrant tinha 17 minutos e foi publicado pelo próprio nas redes sociais Facebook, Instagram, Twitter e YouTube – evitar a “viralidade” era difícil, embora tenha sido feito um esforço conjunto para prevenir que fosse partilhado.
De acordo com a Reuters, Jacinda Ardern, primeira-ministra neozelandeza, quer discutir com a Facebook normas que possam vir a ser aplicadas ao serviço de live streaming, de forma a evitar a disseminação deste tipo de eventos.
Polícia Judiciária investiga as férias de Breton Tarrant em Portugal
As autoridades portuguesas avançaram ao JN que estão a investigar a passagem de Breton Tarrant em Portugal, à época de férias, afirmando que a visita tenha consistido numa incursão ao Convento de Cristo, em Tomar, famoso pela sua ligação à Ordem dos Templários, conhecida por ter protagonizado a expulsão dos muçulmanos da Península Ibérica, durante a reconquista ibérica no século XII.
O terrorista australiano passou sete anos a viajar pelo mundo com dinheiro que ganhou num negócio de criptomoedas. Como não tinha antecedentes criminais, Tarrant não estava no “radar” das autoridades portugueses que não sabem precisar, para já, em que data o atirador esteve em Portugal, se esteve sozinho ou acompanhado e o que fez em concreto.
Assumindo-se como apoiante de ideologias anti-imigração e anti-Islão, no manifesto que foi enviado por si a algumas das maiores figuras de estado neozelandesas, Tarrant passou ainda por Espanha e França, entre outros países, procurando inspiração num passado histórico distante, até descobrir Tomar.
Embora tenha estado presente em tribunal no sábado passado, acusado de homicídio, neste momento Tarrant aguarda em prisão preventiva e será presente a um juiz no dia 5 de abril.