Feche a sua mão direita e deixe apenas os dedos indicador e polegar esticados. Agora toque um no outro. Aquilo que acabou de fazer é o que o Facebook acredita ser a forma como, no futuro, vai passar a interagir com o mundo digital. A empresa batizou este gesto de Clique Inteligente – já lá vamos à explicação – e acredita que vai funcionar como uma espécie de botão invisível que teremos sempre disponível. E para que um toque entre dois dedos possa funcionar como um rato num computador ou um toque no ecrã de um smartphone, a tecnológica americana está a desenvolver uma pulseira que é capaz de interpretar sinais vindos do cérebro.
“Esperamos que se torne na primeira interface neural escalável”, disse TR Reardon, diretor de interfaces neuromotoras no Facebook Reality Labs (FRL), o laboratório de investigação avançada da gigante norte-americana, numa apresentação antecipada à imprensa e na qual a Exame Informática participou.
A lógica desta aposta é simples de perceber. Quando carrega num botão do rato, por exemplo, primeiro o cérebro criou um comando, comando esse que liga ou desliga os nossos músculos para realizar essa ação. Através de sinais elétricos, o cérebro diz aos músculos quando iniciar o comando e quando pará-lo. Depois o rato funciona como um intermediário do cérebro relativamente ao mundo digital. Com a pulseira que está a desenvolver, o Facebook tenta passar diretamente os neurossinais para a máquina – que neste caso, serão óculos de realidade aumentada (RA). “Isto dá-nos uma largura de banda maior e mais rápida, e uma experiência de utilização mais satisfatória”, analisou TR Reardon
A pulseira futurista do Facebook – ainda em fase protótipo, é importante salientar – tem por base um sistema de eletromiografia (EMG), capaz de analisar a atividade elétrica nervosa e muscular num determinado ponto do corpo, neste caso, no pulso. “Conseguimos perceber o movimento com uma precisão de apenas um milímetro”, detalhou o executivo.
O pulso é o local ideal para a criação de uma interface cérebro-máquina, diz o Facebook, pois além de o cérebro ter um grande número de neurónios dedicados às mãos, o pulso está perto dos objetos que queremos controlar e está junto a um objeto de grande liberdade de movimentos, a mão. Ao interpretar diretamente os sinais elétricos do cérebro, é como se a pulseira conseguisse ler o pensamento do cérebro, criando uma representação digital, em tempo real, da mão e do seu movimento. Isto permite conferir um maior realismo e imediatez às interações com objetivos digitais.
O Facebook preparou várias demonstrações. Além do toque entre dedos que vai funcionar como um clique num rato, o gadget da empresa já reconhece outros movimentos, como a rotação do pulso ou o apertar dos dedos da mão. “Quando mapeias os nervos da tua mão, isso transforma-a num rato de seis dimensões”, acrescentou ainda o responsável. E assim abrem-se possibilidades como teclados invisíveis.
A tecnológica americana fez depois duas demonstrações, no mínimo, promissoras: numa delas, com a pulseira no braço, um utilizador foi capaz de controlar uma personagem num pequeno jogo (o dinossauro do Google Chrome) apenas com o pensamento, sem qualquer necessidade de movimento; e num outro exemplo, uma pessoa que não tem os dedos todos numa mão, aprendeu em menos de dois minutos a controlar representações digitais dos dedos graças à pulseira. “”É a primeira vez que estou a agarrar algo com esta mão”, disse o voluntário aos responsáveis do Facebook.
O Clique Inteligente
Agora, esta pulseira é grande, grossa e feia. Mas no futuro, o Facebook antecipa que possa ser um gadget muito mais pequeno e discreto, quase como um acessório de moda. E a pulseira é um passo obrigatório para uma visão maior – a criação de uns óculos de realidade aumentada. Não é segredo que o Facebook tem vindo a perseguir este objetivo há vários anos e que é a sua grande aposta para o futuro. A ideia é que estes óculos possam sobrepor informação digital ao mundo real. Daí a necessidade da pulseira, pois vai ser o ‘comando’ para interagirmos com os conteúdos em realidade aumentada.
Mas para que as interações sejam fáceis, rápidas e eficazes, a tecnológica está a criar um sistema operativo totalmente contextual e baseado em Inteligência Artificial. Ou seja, as sugestões de ações no mundo digital – aquilo que nos aparece em frente aos olhos – variam em função do local onde está, das pessoas com quem está, do horário, dos objetos que nos rodeiam. Usando câmaras e algoritmos de IA, os óculos vão perguntar-nos se queremos ver uma receita para o jantar quando entramos na cozinha ou se queremos pedir a bebida do costume quando entramos num café.
E sim, isso significa que o Facebook quer analisar, ao segundo, tudo e todos os que nos rodeiam. Sobre as preocupações de privacidade, Mike Schroepfer, diretor tecnológico (CTO) da empresa, não adiantou muito. Disse apenas que é algo que está a ser tido em consideração e por isso é que estes projetos estão a ser revelados de forma tão antecipada, por forma a conseguirem incorporar no seu desenvolvimento todas as preocupações que os utilizadores e peritos mostrem relativamente a privacidade, segurança e fiabilidade do sistema. “O sistema vai fazer inferências com base na informação que decides partilhar sobre ti e o teu ambiente”, complementou Sean Keller, diretor de pesquisa nos FRL.
“O sistema precisa de ver o mundo. Existem questões em aberto, estamos a explorar sensores que sejam benéficos para as pessoas”, sublinhou por seu lado Tanya Jonker, gestora técnica nos FRL.
Ao automatizar a interface e a informação que mostra ao utilizador, baseado no contexto, a ideia é que o utilizador só precise de fazer um clique – daí chamarem-lhe de Clique Inteligente – para dizer se sim, se quer interagir com aquele conteúdo naquele momento, ou não. “A interface é completamente personalizada”, acrescentou a responsável.
Mas há mais: o Facebook também está a desenvolver protótipos de pulseiras com tecnologia háptica, ou seja, que através de vibrações e toques no pulso do utilizador dão, efetivamente, a sensação de que está a concretizar uma ação física, apesar de estar a interagir com objetos e interfaces invisíveis. Um exemplo: imaginando que tem um botão virtual à sua frente, assim que aproxima a mão do botão, a pulseira começa a vibrar de forma mais intensa, por forma a indicar que o utilizador está a ir na direção certa. Quando carrega no botão, a pulseira emite uma vibração específica, uma espécie de recompensa tátil, para indicar que a ação foi concluída e bem-sucedida. O sistema pode depois ser adaptado a diferentes situações e atividades.
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Para o fim, a grande questão: quando é que tudo isto vai chegar ao mercado? “Estes projetos estão num estado inicial de desenvolvimento . Não tenho respostas de quando vão chegar ao mercado”, esclareceu Mike Schroepfer. Resposta que foi complementada por TR Reardon: “Mas estão a evoluir muito rápido”.