Há um grande motivo para termos apelidado este artigo como uma “não-review”: nesta semana, a Microsoft anunciou que vários jogos só receberiam as atualizações que permitem mostrar o verdadeiro potencial da consola (aquele no qual estamos, e provavelmente o leitor também, mais interessados) a partir desta quinta-feira. Ou seja, só a partir de hoje é que haverá um número suficiente de jogos que nos permite fazer uma análise mais abrangente, detalhada e precisa do que a Xbox Series X – ou XSX daqui em diante – realmente vale.
Para que tenha uma ideia, até agora só os títulos Forza Horizon 4, Gears 5, Gears Tactics, Sea of Thieves e The Touryst é que tinham otimizações que exploram aquelas que são algumas das novidades tecnológicas da Xbox. E estes nem sequer são jogos novos, já estão todos disponíveis noutras gerações de consolas (não é um elemento crítico, mas é algo que vale a pena ter em conta). Temos estado a jogar outros títulos (como Watch Dogs: Legion e Dirt 5, este último sobre o qual ainda não podemos escrever) que também já nos permitem ter uma noção do que é possível extrair em termos de experiência de jogo, mas entre embargos e otimizações prometidas até ao próximo dia 10 de novembro, dia de lançamento da consola, vem aí uma vaga de conteúdo talhado especificamente para a XSX que ainda queremos explorar antes de nos comprometermos com uma avaliação final.
Quando poderá ler a nossa análise completa à nova consola da Microsoft? Na edição nº 306 da Exame Informática, que estamos a preparar. Mas para quem está interessado em saber mais sobre o que vale afinal a nova consola da Microsoft, vamos partilhar aqui algumas ideias chave daquela que tem sido a nossa experiência com a Xbox Series X. Estamos ou não perante um salto geracional naquilo que é a experiência de jogo numa consola doméstica? A resposta é um inequívoco sim, mas não da maneira que provavelmente está a pensar.
Beleza discreta
Já tínhamos tido um primeiro contacto com a consola e muito do que dissemos na altura, no capítulo do design, mantém-se válido. Em termos de aspeto, a Microsoft fez um bom trabalho ao ter conseguido criar um design que consegue ser icónico e discreto em simultâneo, isto no sentido em que facilmente reconhecemos a XSX no meio das outras consolas e no sentido em que facilmente ‘desaparece’ da vista, pois o facto de ter um acabamento preto ‘mate’ torna-a sóbria e fácil de encaixar na sala ou no quarto. E gostamos muito do efeito simples, mas eficaz, que a cor verde no meio da grelha de dissipação de calor, situada na parte superior, provoca quando passamos pela consola – dá-lhe uma espécie de brilho, quando na realidade não existe luz alguma (o que em bom rigor, até é uma pena).
Vamos deixar a questão da dissipação propriamente dita para mais tarde, mas podemos já adiantar que a ventoinha da consola é super-silenciosa – jogámos durante períodos longos em 4K a 60 frames por segundo e não ouvimos a ventoinha a trabalhar (mas confirmamos visualmente que estava em alta rotação). Logo aqui já temos um ganho comparativamente com a geração passada, pois a Xbox One original emitia um ruído muito significativo quando os jogos ‘puxavam’ pela consola.

Também consideramos o comando da XSX melhor do que o da Xbox One: tem mais texturas e por isso melhor aderência e todos os ajustes feitos a nível de botões (do D-Pad aos gatilhos na parte traseira) foram todos para melhor, dão-nos maior certeza das ações que estamos a fazer. Ainda que no caso do D-Pad, este sistema escolhido pela Microsoft, de botões mais rígidos e por isso de feedback mais pronunciado, faça bastante barulho.
No geral, a Microsoft fez um bom trabalho de design para a nova consola. Sim, a XSX é muito parecida com um PC em termos de ‘estrutura’, mas tomara que muitos PC tivessem a pinta desta nova consola. Além disso, em termos de engenharia propriamente dita, parece-nos um feito que um ‘PC’ tão capaz ocupe um volume tão pequeno.
O verdadeiro salto
Quando as novas consolas foram apresentadas, as promessas foram sempre direcionadas para os gráficos em resolução 4K e até mesmo para os 8K, ou para os “120 frames por segundo” que consegue suportar, um desempenho que, pelo menos numa consola, nunca antes tinha sido alcançado. Pois deixem-nos dizer-vos que o verdadeiro salto geracional da Xbox Series X não está na textura mais aprimorada dos jogos em si, mas naquilo que conseguimos fazer com os jogos propriamente ditos.
A funcionalidade Quick Resume é espetacular. Não há outra forma de o dizer. Este sistema permite que troquemos de jogos, de forma muito rápida (estamos a falar entre seis a quinze segundos, dependendo dos jogos), com a vantagem de o podermos iniciar exatamente onde o deixamos. Ou seja, o Quick Resume não nos leva simplesmente para o lobby principal do jogo, depois do qual ainda teríamos de esperar pelo carregamento – se deixamos um jogo enquanto disparamos um tiro, quando voltarmos estamos ainda nesse tiro. Se trocarmos o jogo quando estamos a fazer uma curva numa pista, quando voltarmos estamos nessa mesmo curva. Excelente!
Melhor: a consola permite que tenhamos vários jogos em modo de Quick Resume (na prática, os últimos títulos jogados), mas também é verdade que este sistema nem sempre funciona como é suposto (em determinada altura, chegamos mesmo a questionar a Microsoft o porquê de o Quick Resume não estar a funcionar e a empresa remete para atualizações de software que os próprios jogos vão receber para suportar esta funcionalidade). Ou seja, estamos perante um sonho antigo numa consola, trocar um jogo quase como se troca de separadores num browser, mas o sistema ainda está inconsistente.
Acima de tudo, na nossa perspetiva, o que isto na prática significa é que cada jogador vai passar a ter mais do que um jogo em progresso constante, pois por vezes sabe bem desanuviar num outro género qualquer quando estamos a ter dificuldades em bater aquele recorde de tempo ou em eliminar aquele boss. E como os jogos estão mais vibrantes (já lá vamos a esta parte), pensamos que os jogadores vão ter maior vontade de experimentar títulos diferentes.
Outra vantagem clara é o suporte para ray tracing (algo que não é uma inteira novidade, pois há muito que os computadores o fazem). A dinâmica de iluminação nos jogos faz uma grande diferença e consegue dar uma nova ‘vida’ a títulos antigos. Em jogos como Forza 4 e Gears 5, o sistema de iluminação que responde em tempo real às variações das personagens ou dos objetos cria não só conteúdos mais pomposos do ponto de vista visual, mas também mais realistas, com a experiência de jogo a ser muito mais agradável. Na galeria, em baixo, encontra algumas imagens captadas diretamente na Xbox Series X durante os nossos testes para ter uma ideia do que pode esperar dos jogos em termos de gráficos.








Estes são dois grandes saltos geracionais e que, na nossa opinião, vão fazer toda a diferença na forma como os utilizadores se relacionam com os jogos. Há mais para dizer, mas, como já aqui referimos, precisamos de mais tempo e de outros jogos, para tirar as teimas, e portanto reservamos a assertividade final sobre todos os aspetos de desempenho para a Exame Informática nº 306, que chega às bancas no final do mês.
Armazenamento e partilha
Já não é segredo que do terabyte anunciado como sendo a capacidade de armazenamento da consola, só 802 GB são usáveis. Claro que este número depois variará em função dos jogos que instalar, mas atualmente temos 15 jogos instalados na Xbox Series X e já ocupam 97% da capacidade de armazenamento da consola. Ou seja, podemos não ter evoluído em termos de capacidade de armazenamento, mas evoluímos e muito em termos de desempenho deste armazenamento. O carregamento de jogos é muito rápido e, já dentro do jogo, os ecrãs de carregamento também ‘passam’ de forma rápida.
Outra componente na qual nos parece que há uma melhoria clara é ao nível da partilha de conteúdos a partir da consola. O novo comando tem, ao centro, o botão Partilhar, que quando carregado tira um screenshot e quando pressionado capta um clipe de vídeo. Estes conteúdos ficam, quase automaticamente, disponíveis para partilhar através da aplicação Xbox para smartphone, facilitando e muito o processo de mostrar nas plataformas sociais os nossos feitos, os nossos veículos, as nossas personalizações das personagens, etc.
Há, no entanto, limitações a ter em conta. Em resolução Full HD, a captura de vídeo está limitada a 60 segundos, já em 4K isso fica limitado a 30 segundos. Percebemos que os clipes curtos são os que funcionam nas redes sociais, mas seria bom termos mais ‘flexibilidade’ na duração dos conteúdos que captamos.
Considerações não-finais
Sim, sabemos que esta não é a análise que provavelmente estava à procura (funciona quase mais como um primeiro contacto mais aprofundado), mas quisemos ainda assim assinalar alguns dos pontos positivos e negativos que já detetámos nos nossos testes à Xbox Series X no dia em que termina o embargo oficial da consola. Fica muito por dizer, é certo, mas até ao dia de lançamento, 10 de novembro, são várias as alterações a caminho, sobretudo do lado dos jogos.
Mas podemos responder já àquela que é uma das principais questões que os jogadores têm em mente: existe mesmo uma diferença significativa para a geração passada de consolas? A resposta é sim, sem dúvida. Funcionalidades como o Quick Resume e o suporte para ray tracing dão toda uma nova vida aos conteúdos jogáveis, incluindo os que não são de agora. E sim, consideramos que estes e outros fatores vão criar uma ligação maior entre jogadores, hardware e software. Se isso é suficiente para comprar a consola já nos primeiros meses? Isso é todo um outro debate e cuja resposta poderá encontrar na Exame Informática nº 306.