Cerca de duas em cada três das 263 galáxias analisadas gira no sentido dos ponteiros do relógio, conclui um novo estudo feito com base em imagens do JADES (de Advanced Deep Extragalactic Survey) do Telescópio Espacial James Webb. Lior Shamir, autor do estudo, conta que “a análise das galáxias foi feita pela análise qualitativa das suas formas, mas a diferença é tão óbvia que qualquer pessoa a olhar para a imagem consegue vê-lo (…) Não são necessárias qualificações especiais ou conhecimento para ver que os números são diferentes. Com o poder do James Webb, qualquer pessoa consegue vê-lo”, cita a Smithsonian Magazine.
Até aqui, vigorava a ideia de que as galáxias estariam igualmente divididas no que toca a rodar para um lado ou para outro. “Isto deriva da ideia de que moramos num Universo ‘isotrópico’, o que significa que o Universo parece o mesmo em quase todas as direções. Por extensão, as galáxias não deviam ter uma orientação de rotação preferencial da nossa perspetiva”, esclarece Dan Weisz, da Universidade da Califórnia, que não participou no estudo.
Lior Shamir conta que há duas razões possíveis para esta discrepância: a primeira é que o Universo surgiu em rotação, propondo-se a hipótese de que o Universo existe dentro de um buraco negro que existe dentro de outro universo parente. A confirmar-se, pode também ser verdade que os buracos negros dentro do ‘nosso’ universo estejam a dar origem a outros ‘universos-bebé’. “Um eixo preferencial no nosso Universo, herdado pelo eixo de rotação do buraco negro parente pode ter influenciado a dinâmica de rotação das galáxias, gerando a assimetria a favor/contra os ponteiros do relógio. A descoberta do JWST de que as galáxias rodam numa direção preferencial suporta a teoria dos buracos negros a criar novos universos e eu fico muito entusiasmado se estas descobertas se confirmarem”, conta Nikodem Poplawski, da Universidade de New Haven, que também não participou no estudo.
A outra explicação prende-se com a rotação da Via Látea: devido ao efeito de mudança de Doppler, as galáxias a rodar no sentido contrário ao da Via Látea podem aparecer mais brilhantes, o que explica a sua sobrerrepresentação nas observações telescópicas. “Se for esse o caso, precisamos de recalibrar as nossas medidas de distância para o Universo profundo. A recalibração pode ajudar a explicar outras questões não respondidas da cosmologia como as diferenças entre as taxas de expansão do Universo e as grandes galáxias que, segundo as medidas de distância existentes, são mais antigas que o próprio Universo”, detalha Shamir.
A verdade é que as galáxias identificadas giram quase todas no mesmo sentido e a razão pela qual isso acontece entra agora numa nova fase do debate. O estudo foi publicado na Monthly Notices of the Royal Astronomical Society.