As ‘cataratas de sangue’ da Antártica mereceram a atenção de vários cientistas, mas só agora conseguem ser explicadas. Naquela região do globo, onde o branco da neve e o azul do céu são as cores mais constantes, há um glaciar que parece estar a sangrar e se reveste de vermelho. Uma análise cuidada a amostras recolhidas em 2006 e em 2018, feita com recurso a microscópios de eletrões revelam o verdadeiro ‘culpado’ para este fenómeno impressionante.
A análise mineralógica completa, com recurso a equipamentos analíticos de topo mostra aglumas surpresas para a insólita cor vermelha. Ken Livi, da Universidade John Hopkins, explica que “assim que olhei para as imagens de microscópio, percebi que havia umas pequenas nanosferas ricas em ferro”, cita o ScienceAlert.
As partículas, cem vezes mais pequenas que os glóbulos vermelhos do sangue humano, provêm de antigos micróbios e são abundantes no Glacier Taylor, assim chamado em homenagem ao seu descobridor original, o britânico Thomas Griffith Taylor.
Estas nanosferas contêm ainda silício, cálcio, alumínio e sódio, uma composição única que é responsável pelo tom avermelhado quando a água subglaciar entra em contacto com calor, oxigénio e luz solar.
Livi explica ainda que as nanosferas não são cristalinas, pelo que os métodos anteriores, de exame de sólidos, acabaram por não as detetar.
A área em questão na Antártica tem comunidades de micróbios isoladas há milhares ou mesmo milhões de anos, pelo que é um prático terreno de estudo para astrobiólogos realizarem experiências que podem depois ser replicadas noutros planetas, à procura de vestígios de vida. Esta descoberta salienta a necessidade de haver o equipamento certo a bordo para se fazer a procura por vida. O Glaciar Taylor já foi alvo de análises há dezenas de anos, mas a composição química das nanosferas fez com que passassem despercebidas, o mesmo podendo estar a acontecer com a deteção de vida em Marte (está lá, mas não temos os instrumentos certos no planeta para a encontrar).
Livi complementa que “o nosso trabalho revela que a análise conduzida pelas sondas é incompleto na determinação da verdadeira natureza dos materiais ambientais à superfície do planeta (…) Isto é especialmente verdade para planetas mais frios como Marte, onde os materiais formados podem ser à nanoescala e não cristalinos. Consequentemente, os métodos para os identificar são inadequados”.