África do Sul, América do Sul, Australásia e Sudeste asiático preparam-se para enfrentar as condições atmosféricas adversas do La Niña. Este será o terceiro ano consecutivo, a primeira vez neste século que o fenómeno se mantém durante tanto tempo. Nos dois primeiros casos, os efeitos previstos são de secas, enquanto na segunda região se preveem cheias. Também a temperatura vai baixar no noroeste do Pacífico e aumentar no sudoeste dos EUA. A repetição prolongada deste padrão leva investigadores a temerem que os modelos climáticos atuais estejam incompletos e que lhes falta informação importante.
O fenómeno La Niña surge emparelhado com o gémeo mais conhecido El Niño e o oceano Pacífico geralmente alterna entre estes dois a cada dois anos. Em condições normais, aquela região do mundo regista ventos fortes que arrastam a superfície do oceano para oeste, levando uma camada de água quente. Em paralelo, águas mais profundas, mais frias, sobem e tomam este lugar na costa da América Central, levando a um equilíbrio de temperatura e humidade no ar. No El Niño, estes ventos enfraquecem, deixando as águas frias ‘enclausuradas’ por baixo de uma superfície mais quente e como resultado há menos chuva na Austrália e mais precipitação no sudeste dos EUA. No La Niña, os ventos aumentam de força, expondo mais essa água fria que é levada para norte e forçando as chuvas que aconteceriam no sul dos EUA a ir mais para norte também, explica o Science Alert.
O agravar das condições climáticas, fruto do aquecimento global, leva os investigadores meteorológicos a alertar que estes dois fenómenos se irão tornar mais frequentes e mais severos. Robert Wills, da Universidade de Washington, explica que “os modelos climáticos estão ainda a devolver respostas razoáveis para a média de aquecimento, mas há qualquer coisa sobre a variação regional, o padrão especial de aquecimento dos oceanos tropicais, que está em falta”.
Numa análise para trás, desde que há registo destes fenómenos (1979), os investigadores encontraram discrepâncias entre as observações reais e 16 modelos climáticos atuais. Os modelos foram incapazes de reproduzir e calcular a realidade verificada nos oceanos equatoriais e de latitudes médicas. Apenas um dos modelos se aproximou vagamente.
Os autores do estudo que levanta estas preocupações explicam que “embora tendências desviantes já tenham sido identificadas no Pacífico equatorial, o nosso trabalho mostra que as tendências desviantes são um problema muito maior nos modelos climáticos”. Estes investigadores revelam ainda que é extremamente improvável que este padrão de discrepâncias resulte completamente de variações internas.
O degelo dos glaciares pode estar a conduzir ao arrefecimento e os gases de estufa e alterações na camada do ozono podem levar a mudanças nos padrões dos ventos. No entanto, estes motivos podem explicar apenas as alterações temporárias. Para o longo prazo, os investigadores defendem que são necessárias mudanças nos modelos e mais informação para se conseguir prever os efeitos e causas com maior exatidão.