Um voluntário passou 72 horas deitado num cama sendo que à noite os cientistas enrolavam-no num saco-cama especial, da cintura para baixo. Este saco-cama foi desenhado para empurrar os fluídos da parte superior para a parte inferior, aliviando a pressão exercida sobre o cérebro – uma das causas para problemas nos olhos dos astronautas. Com o desenvolvimento desta solução, espera-se agora conseguir resolver um dilema que tem mais de dez anos.
Os investigadores concluíram que basta passar três dias completamente deitado para se começar a notar uma alteração na forma do globo ocular. Essa mudança não se verificou quando foi usado o saco-cama. “Não sabemos quais os efeitos a longo prazo, por exemplo, num voo de dois anos até Marte (…) Seria um desastre se os astronautas sofressem deformações que os impedissem de continuar a ver e que pusesse em perigo a missão”, assume Benjamin Levine, cardiologista da Universidade de Southwestern, que colabora com o estudo agora publicado na JAMA Ophtalmology.
A expetativa é que esta descoberta possa apontar o caminho para resolver o SANS (de spaceflight-associated neuro-ocular syndrome) que se caracteriza pelo achatamento progressivo do globo ocular, pelo inchaço do nervo ótico e por dificuldades na visão. A causa provável para esta síndrome é a pressão constante de fluídos corporais sobre o cérebro. Os dados da NASA mostram que mais de metade dos astronautas que serviram durante seis ou mais meses na Estação Espacial Internacional apresentam alguma deterioração ao nível da visão.
Até agora, a solução tem passado pela utilização de óculos com lentes especiais que se ajustam e corrigem a visão do astronauta, o que não atua sobre os efeitos a longo prazo, nem sobre as complicações cardiovasculares.
O saco-cama está a ser desenvolvido há alguns anos e durante este processo foram analisados dados de sobreviventes a cancros que ainda tinham ligações no cérebro por onde receberam tratamentos de quimioterapia, permitindo aos investigadores medir diretamente a pressão cerebral. Uma das conclusões a que se chegou foi de que, na Terra, a pressão no cérebro de alguém deitado é maior do que no espaço. No entanto, em Terra, é possível a pessoa levantar-se e a gravidade puxa os fluídos para baixo o que não acontece no espaço.
Assim, o saco-cama pode vir a provar ser um bom auxiliar, a ser usado todas as noites pelos astronautas, para aliviar a pressão e evitar problemas de visão, no curto e no longo prazo.