DeepMind, da Google, Microsoft, Intel ou o Laboratório de Cold Spring Harbor são algumas das entidades que estarão presentes no simpósio organizado pela Fundação Champalimaud, que decorre em formato híbrido de 13 a 15 de outubro, sob o tema: Uma Exploração à Interface entre a Neurociência, a Inteligência Artificial e a Aprendizagem Automática (Machine Learning).

“As pessoas que estão a lidar com a IA entendem que as tecnologias ainda não chegaram perto de soluções mais profundas do campo”, nota o investigador em neurociências e co-organizador do simpósio, Joe Paton, justificando o interesse de figuras destacadas na área que irão discutir de que forma o estudo do cérebro pode ajudar ao desenvolvimento de sistemas de inteligência artificial e vice-versa. Aliás, um tema sobre o qual já tinha conversado com a Exame Informática. “Há muita coisa que o cérebro faz, desde que nasce, e que os sistemas que desenvolvemos ainda não conseguem reproduzir”, nota. Flexibilidade, robustez, uma habilidade generalizada para a aprendizagem, tudo isto são capacidades inatas do órgão que continuam a ser impossíveis de reproduzir ou imitar em máquinas. “A IA consegue ter um alto nível de desempenho em tarefas muito específicas, mas quando nos afastamos destas, deixa de ter a robustez que tem um cérebro.”
Entre a comunidade de cientistas, há um sentimento generalizado de são necessárias novas ideias, procurar novos caminhos que levem a um verdadeiro benefício, através de um trabalho colaborativo e multidisciplinar. “Enquanto os neurocientistas procuram decifrar os mecanismos biológicos que dão origem à inteligência, os cientistas dedicados à IA trabalham para gerar inteligência in silico. Podem as interações entre estes dois campos, aparentemente distintos, aproximar os objetivos de cada um deles?”, questiona-se na apresentação da conferência. A resposta está dada: “é sim”, alegam os organizadores da conferência. Falta é saber como. “A neurociência e a IA são duas faces da mesma moeda”, diz Joe Paton. “Sendo que, aquilo que as liga de modo fundamental é o facto de ambas procurarem compreender a natureza da inteligência.”
Cada campo tem a sua própria linguagem e objetivos distintos, e o que funciona para o cérebro pode não ser o melhor para um computador
Jakob Macke
Durante a conferência, estarão presentes cientistas que usam a IA, e machine learning, como uma ferramenta de trabalho, que a usam como modelo, pessoas a trabalhar em neurociências e que olham para os dados como forma de compreender o cérebro. Leopoldo Petreanu, investigador principal do laboratório de Circuitos Corticais no Centro Champalimaud, acrescenta, em comunicado, que a neurociência e a IA têm uma longa história de influência mútua. “Os fundamentos das redes neurais artificiais foram originalmente inspirados pelo conhecimento gerado pela neurociência, sobre como os neurónios biológicos e as áreas do cérebro interagem. Mais recentemente, porém, o fluxo de ideias também tem acontecido na outra direção, tendo a IA fornecido à neurociência novas teorias sobre o funcionamento do cérebro.”
Uma conversa que nem sempre é fácil. “Cada campo tem a sua própria linguagem e objetivos distintos, e o que funciona para o cérebro pode não ser o melhor para um computador. É por isso importante trabalhar nas semelhanças e nos objetivos partilhados, bem como ter em conta as suas diferenças. Só alimentando estes diálogos é que os dois campos podem continuar a inspirar-se mutuamente”, admitiu Jakob Macke, que lidera um laboratório de IA e Aprendizagem Automática (Machine Learning) na Eberhard Karls University, em Tübingen. Mas certamente que o esforço compensará. “Há um enorme potencial, mas também há alguns obstáculos”, resume Joe Paton.