A aproximação de outros equipamentos ou de lixo espacial faz com que os operadores de satélites tenham de ajustar os seus aparelhos para evitar colisões. Um desses tipos de encontros é o encontro próximo, em que dois corpos passam a cerca de um quilómetro de distância do outro. Hugh Lewis, da Universidade de Southampton, revela que os satélites da Starlink estiveram envolvidos em 1600 destes encontros todas as semanas. Com o ritmo de crescimento previsto, a empresa de Musk pode vir a representar mesmo 90% destes cruzamentos considerados como potencialmente perigosos.
As conclusões de Lewis são extraídas de uma base de dados chamada SOCRATES (acrónimo em inglês para Relatórios de Conjunção Orbital de Satélites Avaliadores de Encontros Perigosos no Espaço), mantida pelo projeto Celestrack, e que fornece informação sobre órbitas e modela a trajetória para avaliar os potenciais riscos de colisão.
Desde maio de 2019, altura do lançamento do primeiro satélite Starlink, “o número de encontros próximos registados pela SOCRATES duplicou e estamos agora numa situação em que a Starlink é responsável por mais de metade de todos os encontros”. O valor semanal de encontros próximos (1600) inclui também as vezes em que dois satélites Starlink passam perto um do outro. Quanto a passar próximo de satélites de outro operador, esse número baixa para cerca de 500 encontros todas as semanas, noticia a publicação Space.com.
A rival OneWeb, que mantém atualmente 250 satélites, é responsável por apenas 80 passagens próximas todas as semanas.
Se tivermos em consideração todos os 12 mil satélites que a Starlink pretende colocar no espaço para completar a primeira geração da constelação, a empresa de Musk poderá ser mesmo responsável por 90% dos encontros próximos em breve. Atualmente, a Starlink tem ‘apenas’ 1700 satélites no espaço.
Siemak Heser, cofundador da Boulder, empresa que desenvolve um sistema autónomo de gestão de tráfego espacial, revela que estamos perante uma ameaça séria e que o risco de colisão está a aumentar. “O problema está a ficar fora de controlo. Os processos que existem atualmente são muito manuais, não podem ser escaláveis e não há informação suficiente a ser partilhada entre todas as partes que possam ser afetadas caso aconteça uma colisão”.
Lewis, por sua vez, está preocupado com o excessivo domínio de uma só empresa no setor. “Estamos numa situação em que a maior parte das manobras que veremos envolvem a Starlink. Já era um operador de lançamentos antes, agora são o maior operador de satélites do mundo, mas só o estão a fazer há cerca de dois anos, ainda com alguma inexperiência”, sublinha.