A equipa da BrainGate revelou que um homem paralisado, de 65 anos, conseguiu usar com sucesso uma interface cérebro-computador e escreveu 16 palavras por minuto só com recurso aos seus pensamentos. O homem foi o único participante no estudo e sofreu uma lesão na espinal medula há dez anos que o deixou paralisado dos ombros para baixo. O sistema conseguiu traduzir com sucesso os sinais vindos do cérebro do homem, captados por elétrodos, e escrever texto manuscrito a um ritmo que bate o recorde mundial neste tipo de feitos e é o dobro do que se conseguiu com métodos anteriores. Além da componente física, a interface emprega ainda um algoritmo de aprendizagem de máquina para descodificar os sinais cerebrais.
A novidade desta abordagem é que os investigadores tentaram captar o ato mental de pensar em caligrafia, ou escrita à mão, para conseguir um desempenho superior na tradução pensamento-palavra, explica o Gizmodo. A equipa colocou dois sensores de 4×4 mm com 100 elétrodos da espessura de um fio de cabelo na região exterior do cérebro do homem, na área que controla os movimentos da parte oposta do corpo.
Durante a experiência, o homem tentou mexer a mão paralisada para escrever as letras e as palavras, visualizando-as uma por cima da outra e a serem manuscritas com uma caneta. A equipa usou o sinal de ‘maior que’ para inserir espaços entre as palavras. O sistema conseguiu identificar as letras individuais com uma precisão de 95%. O ritmo alcançado, 16 palavras por minuto, corresponde a 75% da média registada para a faixa etária dos 65 anos, sem qualquer incapacidade, a escrever no telemóvel.
Jaimie Henderson, que dirige o Neural Prosthetics Translational Laboratory da Universidade de Stanford e assina o estudo publicado na Nature, explica que a novidade vai “permitir a pessoas com deficiências de discurso ou motoras graves comunicarem por texto, email ou outras formas de escrita”. O projeto da BrainGate foi liderado por Frank Willet e supervisionado pelo neurocientista Krishna Shenoy e por Henderson. Uma investigação anterior permitiu traduzir pensamentos de macacos em palavras a um ritmo de 12 termos por minuto. Um trabalho posterior permitiu a pessoas paralisadas ‘escrever’ a 40 caracteres ou oito palavras por minuto.
Apesar de os resultados do estudo serem promissores, há ainda bastantes limitações, no sentido em que se trata de um processo invasivo que requer cirurgia e implantes e não pode ser aplicado de forma generalizada. A ‘máquina’ tem de aprender as nuances de cada utilizador e requer um técnico especializado para montar a interface e gerir o software de reconhecimento.