BEAM ainda não é marca de hotel, mas se depender de Robert Bigelow, um empresário que construiu um império hoteleiro no deserto à volta de Las Vegas, é possível que a marca acabe por superar a estratosfera – para abrir caminho aos primeiros hotéis espaciais. BEAM é o acrónimo de Bigelow Expandable Activity Module – e é também o nome de um habitáculo insuflável que pretende funcionar como uma residência temporária no Espaço.
Na sexta-feira passada foi lançado a bordo Falcon 9 da SpaceX um primeiro protótipo que já se encontra junto à Estação Espacial Internacional (ISS), a 400 quilómetros da Terra. Em maio, o protótipo deverá ser insuflado e já permitirá ter uma noção mais precisa daquilo falhas e virtudes técnicas.
O facto de Bigelow vir da hotelaria e já saber o que custa instalar um hotel em locais inóspitos, como os arredores de Las Vegas, pode ser encarado pelos leigos como uma potencial anedota, mas não para a NASA: A agência espacial norte-americana não teve pruridos em investir 17,5 dos 25 milhões de dólares necessários para o desenvolvimento deste habitáculo insuflável de 16 metros cúbicos.
O custo é, de resto, uma das mais valias neste projeto que, apesar de ter garantido financiamento e boleia, ninguém sabe se é viável. Pelo menos na comparação de custos, a perspetiva é promissora: o lançamento do BEAM tem um custo estimado de 150 milhões de dólares; os vários lançamentos efetuados ao longo de uma década para montar a ISS tiveram um custo que superou os 100 mil milhões de dólares.
Este mini-hotel com 3,2 metros de largura deverá permanecer acoplado durante dois anos à ISS. A acoplagem deverá ser feita depois de o BEAM separar-se do rocket dentro de uma cápsula, para ser recolhido através de um braço robótico da ISS. Os mentores do projeto contam conectar o habitáculo ao módulo da ISS que dá pelo nome Tranquility. Só depois desta operação, o habitáculo deverá ser insuflado com ar pressurizado.
Além da resistência ao ambiente espacial, a expectativa mantém-se centrada na qualidade de vida dos futuros hóspedes do BEAM. Será que um humano, conseguirá permanecer nesta “tenda” espacial enquanto viaja a 28.800 quilómetros por hora, circunda toda a Terra em apenas hora e meia e depara com 16 alvoradas por cada dia que passa?
Por estranho que possa parecer numa indústria conhecida pela sofisticação tecnológica, só mesmo quando o BEAM chegar começar a albergar os primeiros humanos, será possível apurar essa resposta.
Bigelow não esconde que boa parte do projeto hotelaria espacial, que contempla ainda a instalação de colónias na Lua, depende do sucesso dos primeiros testes com o BEAM. «É um primeiro passo… rumo a uma presença permanente na superfície lunar», refere o empresário, admitindo que a criação de uma colónia lunar vai exigir parcerias com empresas e autoridades governamentais.
Nos hangares da empresa de Bigelow já começaram a ser trabalhados dois projetos de maior dimensão: um dá pelo nome de Olympus; outro é conhecido por B330. O primeiro mede 12,5 por 18,3 metros e tem três andares, 12 divisões, e duas docas para veículos espaciais aportarem. Apesar de poder ser apontado como um ponto de passagem entre a Lua e a Terra, e até de poder ser encarado como um potencial veículo de transporte para Marte, o Olympus terá ainda de esperar para eventualmente alguma vez voar para o espaço. Até à data, não foi criado qualquer rocket capaz de transportar este habitáculo insuflável que cobre o dobro da área da ISS.
Pelo contrário, o B330, um habitáculo para seis pessoas com revestido por camadas de 45,7 centímetros, está a ser desenvolvido com o propósito de ser lançado em 2018 – na melhor das hipóteses. Além de casas de banho, e mecanismos de pilotagem, o B330 está preparado para resistir à radiação solar e a micrometeoritos.