Em março, a enfermaria pediátrica do Instituto Português de Oncologia de Lisboa (IPOL) vai abrir portas a um novo visitante: um robô móvel desenvolvido pela portuguesa IdMind irá percorrer os diferentes espaços para estabelecer as primeiras interações com crianças internadas. O IPOL não será o único hospital português a testar a vertente social dos robôs. Em Almada, o Garcia de Orta prevê iniciar, no verão, as primeiras sessões exploratórias de interação entre robôs e crianças autistas. Ambos os projetos vão recorrer a robôs móveis e autónomos, que terão capacidade para o reconhecimento de fala e deteção de movimentos e presença de pessoas.
«As crianças autistas têm apetência para o uso das tecnologias e nós queremos tirar partido dessa apetência para estabelecer interações com robôs, que possam produzir benefícios a nível terapêutico, especialmente no que toca ao desenvolvimento de aptidões relacionadas com pedidos de ajuda e instruções», explica Francisco Melo, investigador do INESC-ID e professor do Instituto Superior Técnico, descrevendo alguns dos propósitos do projeto Inside.
O projeto Inside é uma das seis iniciativas Empreendedoras de Investigação apoiadas pelo programa de parceria entre a Universidade de Carnegie Mellon dos EUA e o Estado português. O projeto prevê o desenvolvimento de uma plataforma tecnológica que inclui um robô capaz de estabelecer relações sociais com crianças autistas.
No verão, os investigadores do Técnico e da Universidade de Carnegie Mellon deverão começar dar início aos primeiros testes que contemplam interações sociais entre uma criança e um robô omnidirecional da empresa IdMind. Nos próximos três anos de investigação, o robô poderá vir a beneficiar de alterações precisamente para potenciar situações com que os autistas costumam ter dificuldade em lidar (pedir ajuda e seguir instruções).
Além de um rosto capaz de reproduzir expressões, o autómato deverá ter um ecrã tátil que facilita o controlo e a interação e ainda câmaras que ajudam a detetar a presença e os movimentos de uma criança. Também se prevê a inclusão de um cesto que poderá ser usado «em jogos de caça ao tesouro, em que o robô pede à criança que apanhe objetos do chão», acrescenta Francisco Melo
O investigador do INESC-ID admite que só no final dos três anos de investigação e depois de efetuadas as necessárias evoluções os médicos do Hospital Garcia de Orta fiquem em condições de levar a cabo as primeiras sessões terapêuticas com uma criança e um robô.
O projeto conta com a participação do INESC-ID, da VoiceInteraction, e da Plux. As empresas poderão encarar a participação no projeto Inside como uma oportunidade de desenvolvimento novos produtos, mas Francisco Melo prefere manter as expectativas quanto aos benefícios da robótica em ambiente hospitalar. «Queremos ajudar a criar uma nova ferramenta que possa ser usada por médicos numa terapia com crianças», explica Francisco Melo, recordando que o Inside distingue-se de outros projetos por recorrer a robôs móveis e autónomos, que não necessitam de operadores especializados para funcionarem.
No IPOL, os ensaios com robôs vão ser levados a cabo no âmbito de um projeto de investigação europeu, que conta com a participação do Técnico, e também de universidades da Suécia, Espanha, Holanda e Suíça e ainda a empresa Selftech. À semelhança do projeto Inside, o projeto MOnarCH também vai usar um robô da montado pela portuguesa IdMind.
Paulo Alvito, líder da IdMind, recorda que o desenvolvimento de robôs com capacidades de interação social ainda está a dar os primeiros passos. A criação de algoritmos comportamentais, o planeamento de missões e as diferentes formas de interação ainda terão de ser alvo de consecutivos testes e aperfeiçoamentos até se chegar a uma solução consolidada, que poderá ser usada no dia-a-dia de um unidade hospitalar.
«Um robô pode ser usado para atividades didáticas ou para brincadeiras; no caso do projeto MOnarCH, há o objetivo principal de aumentar o bem-estar das crianças internadas», explica Paulo Alvito, líder da IdMind, a empresa que desenvolveu o robô, no âmbito deste projeto de investigação.
Os robôs do projeto MOnarCH deverão ser usados por crianças dos três aos 16 anos de idade (mas com especial incidência entre os cinco e os sete anos de idade).
O projeto de investigação deverá ficar concluído em março de 2016, mas Paulo Alvito admite que essa data não represente o fim das relações entre robôs e crianças: «O IPOL vai receber um dos robôs do projeto MOnarCH. A ideia é que o robô possa lá ficar e continue a ser usado… mas obviamente, essa é uma decisão que cabe ao IPOL e que também deverá depender dos resultados dos testes que vão ser levados a cabo».
No vídeo que se encontra integrado nesta página pode ver um modelo robótico similar ao que a IdMind disponibiliza tanto para o projeto MOnarCH como o para o projeto Inside.