Será que, 11 edições passadas e ao cabo de 10 anos, o programa de empreendedorismo COHiTEC já conseguiu produzir o efeito desejado na economia portuguesa? Pedro Vilarinho, coordenador do programa de empreendedorismo da COTEC, dá uma das respostas possíveis: «Depois deste programa, estes projetos têm como desafio passar para o mercado o impacto das inovações que alcançaram. Se me colocar a mesma questão no próximo ano, provavelmente, já terá uma resposta um pouco diferente».
O Program COHiTEC está centrado nas denominadas ciências da vida, na farmacêutica e nas tecnologias industriais. No caso dos fármacos e das soluções de uso clínico, as inovações chegam a demorar oito anos até resultarem em produtos validados. Nas tecnologias industriais o processo de entrada no mercado pode demora, em média, quatro anos – e, mesmo assim, é bastante mais demorado que a maturação dos projetos das tecnologias da informação que, em seis meses, colocam startups prontas a disputar um quinhão do mercado mundial.
Ainda assim, Pedro Vilarinho tem algumas boas notícias, em jeito de balanço dos 10 anos de COHiTEC: «Há, pelo menos, três projetos que saíram deste programa que deram origem a transações na ordem dos milhões de euros». «E há ainda uma empresa que mudou o modelo de negócio e começou a ganhar clientes no mercado com a prestação de serviços», acrescenta o coordenador do COHiTEC, quando inquirido pela Exame Informática.
O COHiTEC nasceu como um desafio aos investigadores de universidades e instituições nacionais para que procedessem à transferência de conhecimentos e inovações para o circuito comercial. A aposta na inovação não deixa de produzir um dilema junto dos promotores de cada projeto: «Cabe aos investigadores decidir se querem seguir a investigação universitária ou se sujeitam aos riscos do empreendedorismo que já são conhecidos», recorda Pedro Vilarinho.
Na assistência da mostra que vai ter lugar amanhã na Porto Business School, são esperado vários investidores prontos a descobrir qual a próxima “big thing” desenvolvida em Portugal. Entre os projetos que estão a gerar mais interesse, o destaca-se TransBarrier, um trabalho desenvolvido por investigadores Instituto de Biologia Experimental e Tecnológica, de Oeiras, que terão logrado a criação de um fármaco capaz de bloquear a progressão da doença de Alzheimer e que tem como característica principal a capacidade para permear a barreira hemato-encefálica (um desafio que a indústria ainda não terá conseguido resolver). Ao que a Exame Informática apurou, o projeto já começou a despertar a atenção da indústria farmacêutica.
Os investidores que pretendam apostar em tecnologias industriais também terão boas razões para assistir ao evento: um braço robótico que replica os movimentos de um braço humano; novos fluidos térmicos avançados que poderão ser usados em radiadores; um novo modelo de baterias de alto desempenho para empilhadores elétricos; um dispositivo que converte energia produzida por humanos em eletricidade; e uma solução biológica que reduz o impacto ambiental negativo de um herbicida do arroz.
Nas ciências da vida e nos fármacos, é possível encontrar os seguintes projetos: um sistema de cultura celular 3D com aplicações em células estaminais; um dispositivo de identificação de micro-organismos em cicatrizes ou feridas cirúrgicas; jogos de educação médica; um novo sistema de diagnóstico veterinário da doença Leishmaniose; um gel que acelera a cicatrização de feridas crónicas; a co-encapsulação de fármacos no combate ao cancro; duas proteínas purificadas do leite com propriedades antimicrobianas; novos polímeros que impedem a colonização de micróbios em dispositivos médicos; polímeros de colagénio de origem marinha para a cura de feridas; o já referido processo de bloqueamento da progressão da doença de Alzheimer; e por fim o desenvolvimento de um kit de deteção de deleções do cromossoma Y, que estão associadas à infertilidade masculina.