Em 2021 foram gerados aproximadamente dois milhões de terabytes de dados, o que equivale a cerca de 32 milhões de iPhones de 64 GB, ou mil milhões de horas de vídeo HD. Um volume exorbitante de dados, com tendência a crescer ainda mais nos próximos anos, que está a criar novos desafios para as empresas. Quem conseguir retirar mais informação útil desta quantidade de dados, estará mais bem posicionado para ter sucesso.
Mas será que as organizações estão preparadas para esta transformação estratégica? Na perspetiva de Ricardo Leitão, Diretor de Gestão de Segmento B2B na Altice Empresas, “as lideranças, incluindo as nacionais nas empresas mais pioneiras, já assumiram que uma organização mais inteligente encara os dados e a informação como uma importante fonte de conhecimento para gerir, planear, construir e evoluir, e que estes se assumem como as fundações do seu futuro a prazo”. Contudo, defende o responsável, uma vez garantida esta consciencialização, as organizações precisam de manter a persistência na visão, garantindo que imaginam o seu futuro suportado em informação, e assegurando que passam a incluir a tecnologia no seu ADN, independentemente do setor em que operam. Atualmente, reforça Ricardo Leitão, “a monetização direta dos dados ainda é um projeto desafiante, mas a sua utilização para apoio do negócio e relacionamento com os clientes já é uma realidade, com reflexo em receitas, e que no futuro valerá a sobrevivência da organização”.
A pandemia, que acelerou a digitalização e a transformação tecnológica das empresas em todo o mundo, ditou também alguns ensinamentos. Um deles, como destaca o responsável da Altice Empresas, “é que as empresas têm de estar 100% focadas em perceber os ciclos de oportunidade de transformação de uma organização, o que em data driven é uma jornada que exige tempo e investimento recorrente em recursos vários”. Mais do que a tecnologia, acrescenta, “os principais obstáculos neste processo são temas culturais e de soft skills”.
O caminho para a mudança
Sendo um investimento e um projeto de médio ou longo prazo, a evolução das empresas para um modelo data driven deverá contemplar uma abordagem gradual e sustentada. “Cada organização deve dar a si própria o tempo para compreender o valor e o impacto desses dados e da transformação inerente à sua potenciação no negócio; quais os riscos de não o fazer, mas também os riscos ao fazer essa transição no modelo de gestão e como os mesmos deverão ser mitigados”, recomenda Ricardo Leitão. No entanto, alerta que este processo de transformação exige uma revisão das meta-estruturas – em termos de práticas e cultura empresariais e, eventualmente, orgânica -, bem como de infraestruturas e processos que as devem suportar.
Para começar, e porque a jornada para uma empresa data driven é um projeto de transformação profundo, a gestão de mudança é um fator crítico. Em primeiro lugar, é fundamental uma visão estratégica na potenciação dos dados como ativo da organização, assim como uma redefinição do perfil de competências dos recursos humanos, com vista à criação de uma cultura de dados. Posteriormente, é necessário reorganizar e rever processos de recolha, processamento e qualificação de dados para a sua ‘intelligence’ e não esquecer a atualização tecnológica como suporte. “A gestão destes vários fatores será a chave de sucesso”, diz o responsável.
Soluções que transformam dados em informação
Na perspetiva do Diretor de Segmento B2B, a abordagem ‘outside-in’, ou seja, a partir de organizações pioneiras, early adopters e líderes nos seus setores, é a estratégia correta para mostrar ao mercado que uma estratégia data driven pode ser uma ferramenta potenciadora de um conjunto de tecnologias emergentes como o 5G, a inteligência artificial (IA), a realidade aumentada (AR) ou a realidade virtual (VR). O responsável da Altice Empresas exemplifica: “as típicas soluções IoT, como é o caso da Gestão de Frotas, são um exemplo de aplicação de uma estratégia data driven com vista ao aumento da eficiência e redução de custos”. Por um lado, a sua aplicação permite obter não só a localização das viaturas e os percursos efetuados, o que só por si já permite otimizar rotas e a atividade do dia-a-dia, mas também obter informação das viaturas (kms percorridos, alertas de centralina, etc.) para que se possa efetuar uma manutenção atempada das mesmas e identificar quais as que precisam de ser intervencionadas com urgência ou até substituídas. Empresas cuja atividade depende das frotas e que não tenham este tipo de informação, correm riscos de interrupção da atividade ou até de segurança. Esta solução consegue também disponibilizar informação sobre o tipo de condução, para que a empresa possa tomar ações para incentivar à eco-condução com vista a uma condução mais segura e económica.
Ainda no âmbito da telemetria, agora aplicada no contexto das empresas públicas ou privadas que façam a gestão de utilities, como empresas de distribuição de água ou gás, Ricardo Leitão destaca vantagens como evitar deslocações desnecessárias para ler os contadores de gás ou água, especialmente em sítios remotos ou em casas mais antigas com contadores dentro das mesmas, como também receber alertas em situações de fugas ou fraudes de modo a poderem atuar mais rapidamente. No caso da água, “ainda este ano a Indaqua referiu que há municípios a terem índices de perdas de água na casa dos 80%, que podem ser em parte colmatados com estas soluções de telemetria que dão os dados necessário para que depois se possa ir resolver o problema no terreno”, reforça.
Outra ferramenta que tira o máximo partido dos dados é a solução Geo Analytics da Altice Empresas, na qual os dados da rede móvel MEO são anonimizados e trabalhados, permitindo conhecer e caraterizar padrões de comportamento e fluxos de mobilidade relevantes para municípios e empresas nas áreas do Turismo, Mobilidade e Retalho. Por exemplo, no setor do Turismo, uma cadeia hoteleira pode conhecer a nacionalidade dos turistas, num determinado período e zona, a sua variação face ao último mês ou semana, onde e quantas noites pernoitaram, entre outros dados. Esta informação permite adequar a oferta, o target da comunicação e até avaliar que percentagem do potencial total se está a conseguir atrair.
ABORDAGEM FASEADA DE DADOS
Fase 1 – O objetivo desta fase passa por coligir ideias e identificar que dados existentes na organização podem ser tratados para criar valor, ou os que podem ser recolhidos ou até adquiridos, focando a atenção nos que mais rapidamente podem impactar as decisões de negócio e a relação com clientes. Depois, é preciso envolver todos os stakeholders e consolidar uma visão de como o tratamento e utilização dos dados identificados pode, no mundo real, criar valor distinguindo se o seu impacto é comercial, operacional ou estratégico. Esta fase deverá culminar com a produção de uma lista de ideias que reflita a visão integrada da organização sobre quais os dados que mais valor podem gerar para a sua atividade.
Fase 2 – Nesta fase procura-se testar as ideias identificadas anteriormente, através de testes com amostras reduzidas, por forma a controlar resultados e a garantir diferentes interações para obter análises mais pormenorizadas e o máximo feedback de clientes e colaboradores.
Fase 3 – Implementação das melhores ideias após fase 2, com definição de um processo operacional que permita o permanente feed de dados, a sua fiabilidade e representatividade através de análise permanente de outliers que possam comprometer a informação. Uma estratégia data driven obriga à excelência do processo operacional, equipas estáveis e testes de aferição da sua qualidade.