Era muita a expectativa no edifício do Instituto Superior Técnico (IST) no Taguspark, em Oeiras, horas antes do lançamento do nanossatélite português ISTSat-1. Alunos e investigadores que trabalharam ao longo dos últimos anos no satélite, vários representantes de empresas tecnológicas e autarcas, todos quiseram marcar presença num evento que não acontece todos os dias.
Em relação ao lançamento do satélite ‘made in’ Portugal e que ia a bordo do foguetão Ariane 6, o presidente do IST afirmou que “a corrida ao Espaço é absolutamente determinante para o nosso país”. Como Portugal é um dos países da União Europeia com maior área marítima, Rogério Colaço defendeu que por esse motivo “é necessário ter instrumentos para monitorizar [o mar], quer seja por motivos económicos ou de sustentabilidade. Este momento é semelhante àquele que vivemos há 700 anos quando começámos a explorar o oceano Atlântico”.
O evento serviu ainda para a assinatura de um protocolo que visa criar e dinamizar o Oeiras Space Hub, que será um pólo tecnológico focado na área do Espaço. O protocolo foi celebrado entre o Município de Oeiras, o CEIIA (Centro de Engenharia e Desenvolvimento) e o Instituto Superior Técnico.
Este novo centro técnológico terá o CEIIA como parceiro de desenvolvimento de novos produtos e serviços para uma sociedade mais sustentável, e ainda o IST que desenvolve no seu polo de Oeiras atividades de investigação e desenvolvimento em diversas áreas de engenharia essenciais.
Como preparar a próxima geração para uma nova era no Espaço?
“A organização de um projeto como a criação de um satélite desde o zero, envolve muita burocracia e a criação de várias infraestruturas”, explicou o professsor do IST, Moisés Andrade, que faz parte da equipa que desenvolveu o nanossatélite universitário. O lançamento do ISTSat-1 começou a ser preparado ainda em 2008, e tudo foi desenvolvido a partir do pólo de Oeiras. Foi inclusive feito um investimento em oficinas e laboratórios para que existissem as condições necessárias para trabalhar no satélite.
Na visão dos alunos, projetos deste tipo, como a produção e desenvolvimento de um nanossatélite, são “importantes e ajudam a fazer as escolhas profissionais”, defendeu Júlia Martinho, aluna do 3º ano da licenciatura em Engenharia Aeroespacial e membro do projeto universitário do IST, o RED (Rocket Experiment Division), que conta já com três participações no EuRoc, o concurso europeu de lançamento de foguetes.
Zita Martins, astrobióloga e professora do IST, afirmou que “o Instituto Superior Técnico foi a primeira instituição com um laboratório de astrobiologia do País”, explicando que a Universidade não tem o foco apenas direcionado para a área do Espaço. Na opinião da experiente professora, “é preciso formar as futuras gerações, porque existem imensos jovens com capacidade para aprender e ao mesmo tempo é necessário existir a ligação às empresas”.
Preparar os alunos e aproximá-los do mercado de trabalho é um trabalho fundamental em qualquer área, e por isso tem de ser feito em conjunto entre as instituição de ensino e as empresas. Ricardo Mendes, diretor executivo da empresa de software Tekever, defendeu que “cada vez mais a ligação dos ciclos de estudo com as empresas tem de ser maior – a maioria dos engenheiros do CEIIA são antigos alunos do Técnico”, finalizou.
Foi também anunciado ao longo do evento que o CEIIA vai ter instalações físicas em Oeiras, ainda este ano de 2024, permitindo criar assim um novo local de desenvolvimento e investigação espacial.
Recorde-se que o satélite que foi enviado com sucesso nesta terça-feira, 9 de julho, para o Espaço, foi um projeto desenvolvido pelo IST NanoSat Lab, que é constituído por alunos e investigadores da Universidade do Técnico. Estiveram envolvidos alunos dos cursos de Engenharia de Redes, Aeroespacial, Mecânica e Eletrónica.
*Texto: Tiago Jorge Pereira, editado por Rui da Rocha Ferreira