O primeiro unicórnio português, com sede no País, quer semear o espírito empreendedor e disruptivo nas universidades portuguesas. E para isso não basta dar dinheiro. É preciso inspirar e instigar a mudança. Depois de ter estabelecido uma cátedra no domínio da Inteligência Artificial no Técnico, a empresa especialista em deteção de fraude financeira, Feedzai, chega ao local em que tudo começou, a Universidade de Coimbra (UC), onde os três fundadores – Nuno Sebastião, Paulo Marques e Pedro Bizarro – se conheceram e formaram.
Com o nome “First Foundation Project”, a parceria assinada por três anos pretende promover a investigação científica, atribuir bolsas de estudo e estágios e incentivar a também os professores a mudar a fórmula do ensino e a fazerem diferente do que sempre fizeram. Há um financiamento de 450 mil euros disponível. Mas mais do que o dinheiro são os princípios que a Feedzai quer passar que podem fazer a diferença, reforça Paulo Marques à Exame Informática.
“Qualquer atividade tem de projetar e inspirar as pessoas para um futuro melhor; promover padrões de excelência, se é para fazer alguma coisa, é preciso querer ser o melhor a nível mundial; os projetos têm de tirar as pessoas da zona de conforto, ser um desafio; é preciso ter em mente o princípio da retribuição”, descreve.
Quando há dois meses a Exame Informática entrevistou Nuno Sebastião, o CEO da Feedzai, este admitia que nem sempre é fácil estabelecer parcerias com as universidades portuguesas, muito presas aos procedimentos e pouco abertas a mudanças. O que acabou por se tornar possível, precisamente com uma instituição de ensino superior tão querida ao trio. “Era algo que queríamos fazer já há bastante tempo”, admite Paulo Marques, que integra a comissão de acompanhamento desta parceria, da qual fazem parte quatro pessoas (duas da Feedzai e duas da UC). “Mas não queremos que seja apenas mais um projeto, mais uma ação. Queremos inspirar toda uma geração de professores e alunos”, avança.
Estão previstas, por exemplo, temporadas de trabalho num dos nove escritórios que a empresa tem espalhados pelo mundo – que tanto podem ser para estudantes como para professores, por exemplo. O que é preciso é que tudo aconteça de forma rápida e zero burocrática, sublinha. “Procuramos projetos transformadores, que sigam os quatro princípios, seguindo um processo zero burocrático. Preferimos que seja rápido, mesmo que falhe, do que não aconteça nada”, admite o antigo professor na Universidade de Coimbra que, aos alunos, fazia questão de avisar, logo nas primeiras aulas: “O que aprendem aqui é igual ao que se ensina em Stanford ou no MIT. É a mentalidade que leva Portugal a não sair do mesmo sítio.”
Não pondo de parte a hipótese de esta parceria ser também uma forma de recrutar talentos, numa altura em que não é fácil encontrar profissionais na área da Inteligência Artificial e Tecnologias de Informação que satisfaçam todas as necessidades de recrutamento, Paulo Marques reforça que a principal intenção é mesmo alimentar o aparecimento de outros empreendedores como ele. “O que me deixaria mesmo feliz era que nascessem dez Feedzai à volta desta parceria.” Opinião semelhante à expressa por Nuno Sebastião, em comunicado: “Queremos que o nosso contributo tenha um papel transformador no ecossistema académico nacional e que contagie outras empresas a olharem para as parcerias académicas com maior ambição e espírito de missão.”