Vivemos num mundo caracterizado pela incerteza em praticamente todas as circunstâncias que nos rodeiam. A própria evolução da tecnologia e as suas consequências para o nosso futuro colocam-nos num mar de dúvidas. Mas a realidade mostra que o ser humano sempre procurou a certeza e o ser capaz de antecipar com alguma exatidão o que vai acontecer. Porque, na realidade, quem não gostaria de poder prever o que está para acontecer, sejam coisas boas ou más?
Conhece a expressão gémeos digitais? São um desenvolvimento tecnológico vibrante e inovador – visto como um expoente das tendências atuais de hiperautomatização de processos – cujo mercado global, segundo a Gartner, poderá valer 183 mil milhões de dólares até 2031. Esta tecnologia promete e, cada vez mais, cumpre esta desejada capacidade de antecipação.
São basicamente ecossistemas virtuais, que permitem simular o comportamento de objetos ou processos no mundo físico/real. Concebidos e programados de tal forma que, se receberem os mesmos inputs e em condições teoricamente semelhantes (ou seja, tendo dados com dimensão conhecida) que o objeto ou processo físico de que é gémeo, produzirão os mesmos outputs que o primeiro, podendo o ser humano prever com exatidão qual seria o seu comportamento no mundo real. Analisando o seguinte exemplo, podemos antecipar o comportamento de uma turbina a gás em caso de alteração da temperatura ou da pressão, ou de um avião se os padrões de comportamento dos pilotos se alterarem.
Estas cópias criadas por algoritmos alimentados com dados de sensores ligadosao modelo original, tornando-se capazes de prever o seu estado e funcionamento face às alterações que este possa sofrer na vida real. Desta forma, um gémeo digital pode enfrentar todo o tipo de situações – copiando o comportamento do mundo real – centenas ou milhares de vezes, permitindo ao ser humano evitar erros e problemas quando tiver de implementar o modelo.
É evidente que, quando se trata de testar os limites físicos, muitas vezes perigosos, de um novo sistema de produção de energia, de descobrir qual será a eficiência de uma máquina antes de começar a construí-la e comercializá-la ou de tentar obter respostas antecipadas sobre a forma como um determinado doente responderá a um tratamento experimental antes dos ensaios clínicos, os gémeos digitais podem poupar tempo e recursos, apoiar a tomada ou a rejeição de decisões dispendiosas e, evidentemente, atenuar os riscos, antes de passar para o mundo real.
Contudo, estes sistemas não podem ser concebidos apenas como uma ferramenta necessariamente ligada à introdução de novos produtos, máquinas ou processos. A manutenção dos sistemas industriais atuais é suficientemente complexa e cara, e por isso muitos gestores procuram alternativas mais económicas através do uso de tecnologia de forma a reduzir os custos. Estes ecossistemas virtuais podem ser uma forma extremamente eficaz de monitorizar os equipamentos e tornar a manutenção de unidades industriais preditiva e mais eficiente, porque é possível submeter o gémeo a todo o tipo de testes de resistência até conseguirmos identificar o ponto em que falha e antecipar avarias.
Imaginemos, por exemplo, um reator nuclear que está sujeito a limites de segurança rigorosos quando se tem de planear paragens ou modificar parâmetros de gestão do combustível, arrefecimento, disposição dos materiais de controlo ou configuração dos elementos de segurança.
Mais do que isso, o gémeo digital pode ser uma plataforma de colaboração e de interligação entre equipas que trabalham em conjunto no desenvolvimento de sistemas complexos, partilhando dados de entrada e informações sobre o seu comportamento antes de se tornarem realidade, agilizando o tempo e antecipando possíveis problemas.
Mas ainda há um longo caminho a percorrer até que os gémeos digitais possam oferecer soluções completas, ou seja, totalmente previsíveis. A começar pelo défice de dados em muitas organizações (e análise dos mesmos) que são necessários para alimentar os seus modelos comportamentais – IoT, sensores, etc. – de forma a poderem antecipar, com o mínimo de fiabilidade possível, digitalmente o futuro.
Como em quase todas as áreas da transformação digital, também aqui a qualidade da informação acaba por ser o principal limitador e também o grande desafio desta expansão.
Não tenha dúvidas! Estes espelhos mágicos permitirão às empresas modernas testar alterações a equipamentos/processos existentes e simular novos, conduzindo a mais eficiência e a decisões mais informadas e rentáveis.