“Com a dificuldade que estamos a sentir em recrutar jovens na área do setor tecnológico, têm de ser as empresas a adaptarem-se às pessoas e não o contrário”, afirmou João Miguel Rodrigues, Diretor de Recursos Humanos e Membro do Conselho Executivo da Aubay.
Veja o vídeo integral do painel Estratégias Inovadoras e Captação de talento
Decorreu ontem no edifício PLMJ, em Lisboa, a conferência sobre “Gestão de Talento na Área da Tecnologia”. Esta foi uma iniciativa da Exame Informática e da Exame, com o apoio da Randstad Portugal e da Martech Digital. No primeiro painel o tema central foi “Estratégias Inovadoras e Captação de talento”. A flexibilidade existente entre uma empresa e um funcionário foi um dos temas mais debatidos. Com o aparecimento da pandemia surgiu também o trabalho remoto, que tornou as relações entre os diretores das empresas e os funcionários mais distantes.
Ana Filipa Meireles, diretora global de aquisição de talento na Capgemini Portugal, defende que a flexibilidade tem de ser o “principal foco” de uma empresa, tanto a nível de local de trabalho, como do bem estar que proporciona na vida pessoal dos funcionários. Para Ana Meireles, a progressão na carreira é um ponto fulcral para se conseguir reter o talento. “A Capgemini investe muito em talento jovem, e sabemos que existe muita escassez nesta área. Agora se um jovem não sentir que irá ter progressão na carreira, as possibilidades de recrutá-los são reduzidas”, afirmou a Diretora Global de Aquisição de Talento da Capgemini.
O trabalho remoto veio provocar alterações na forma de comunicação entre as pessoas com diferentes cargos numa empresa. Para João Miguel Rodrigues, Diretor de Recursos Humanos e Membro do Conselho Executivo da Aubay, o que existe em Portugal são “pessoas que oferecem flexibilidade, mas há muitas empresas inflexíveis”. Isto porque muitas empresas não estão dispostas a dialogar com os funcionários. Na visão deste especialista em recursos humanos, é importante que um recém licenciado esteja presente no local de trabalho, para que alguém com mais experiência o consiga formar. Durante a conferência, os oradores do painel afirmaram que, desde a pandemia, diversos recém formados nunca foram à empresa, algo que deve ser corrigido.
Fernando Braz, líder da Salesforce Portugal defendeu que “os diretores têm de estar mais presentes, têm de conversar com as pessoas e de entrar em contacto com as mesmas. É preciso conhecê-las minimamente”. Na sua ótica, é inconcebível reter talento e funcionários numa empresa, se não houver diálogo entre a gestão e os funcionários.
João Rodrigues referiu, como exemplo, como se tornou comum as pessoas irem para o escritório para acabarem a comunicar remotamente com os colegas que ficaram em casa. Para o diretor de Recursos Humanos da Aubay, “isto não deveria acontecer”, defendendo que as equipas de trabalho devem de ir ao escritório alguns dias para evitar que as pessoas se distanciem. Defendeu, ainda, que um diretor não deve passar o dia isolado no escritório, sem conviver com os outros colaboradores da empresa, reforçando que isto não faz sentido e que não contribui para atrair as pessoas para o escritório.
Ao longo da conferência foi possível perceber que um grande número de pessoas passou a trabalhar apenas em casa. Contudo, Ana Filipa Meireles defendeu que, na sua opinião, o modelo de trabalho híbrido é o “mais equilibrado”.
A ecologia como preocupação dos jovens e a existência de um problema estrutural
No auditório do edifício PLMJ, foi possível perceber que as questões relacionadas com a sustentabilidade são fatores importante, e que pode mesmo influenciar no momento da escolha de uma empresa.
Para Fernando Cruz, os valores que uma entidade empregadora tem com a sociedade e o ambiente são fundamentais para recrutar talento: “os jovens preocupam-se com o ambiente, interessam-se pelas boas causas”. É importante que as empresas estejam alinhadas com as preocupações dos mais jovens, porque “ninguém quer estar num local que não defenda bons valores”.
A dificuldade em reter o talento jovem em Portugal está também relacionada com o facto da economia portuguesa ser menos competitiva do que a da maioria dos países da Europa e o trabalho ser sujeito a uma carga fiscal exagerada, na opinião de Ana Filipa Meireles. “Portugal tem um problema de atratividade, perdemos cerca de 20% dos recém-licenciados, sejam eles juniores ou seniores. O problema vem de cima, do próprio país. O que acontece neste momento é que, o país anda a investir na formação das pessoas e, em muitos casos, o retorno é 0”.
No fecho de painel, os oradores abordaram quais os aspetos mais importantes para atrair talento, tendo existido um certo consenso entre os três. Para Ana Filipa Meireles, a capacidade de adaptação “é um ponto muito importante, assim como o cuidar das pessoas, no sentido de promover o bem-estar”. João Rodrigues explicou que a Inteligência Artificial vai libertar tempo, e que esse “deve ser aplicado por parte das empresas nas pessoas, mostrando mais proximidade”. Por fim, Fernando Braz voltou a reforçar que a “empatia e o foco no impacto humano são muito importantes”.