A história está cheia de exemplos de como as sondagens podem falhar redondamente a prever resultados eleitorais: Brexit, no Reino Unido, Bernie Sanders versus Hillary Clinton, Carlos Moedas e Medina para a câmara de Lisboa e é claro a previsão completamente ao lado nas legislativas deste fim-de-semana. Como é que num mundo de algoritmos e inteligência artificial ainda é possível errar tanto? A resposta mais acertada é mesmo: porque somos humanos e o comportamento humano numa eleição é muito difícil de prever, sublinha o cientista de dados Pedro Miguel Santos, da consultora de tecnologia Noesis. Se quando o que está em causa são preferências gastronómicas e hábitos de consumo o bicho homem acaba por ser bastante previsível – pelo menos ‘aos olhos’ do algoritmo – quando toca a votos a coisa fica mais complicada. Para começar, a amostra de respondentes usada para a sondagem é muito pequena faze à dimensão da população de votantes: à volta de mil para mais de dez milhões de eleitores inscritos. “Isto torna a margem de erro muito grande”, sublinha o consultor. Além disso, o fator abstenção também vem baralhar muito os resultados, porque “quando inquirido, ninguém admite que não irá votar”, só que no dia D, sabemos que quase metade dos eleitores não vai colocar a cruz e, portanto, o que começou por ser uma amostra de mil, acaba por ser na verdade uma amostra de quinhentos.

E depois há o efeito perverso da própria sondagem que é influenciar os resultados da votação e que terá sido muito evidente nas últimas legislativas, quando apontavam para um empate técnico entre os dois principais partidos. “Só há uma maneira de evitar este efeito, é fazer a sondagem e não a revelar. Só assim conseguiríamos avaliar bem a sua qualidade”, nota Pedro Miguel Santos.
“Antes de entrar na área da ciência de dados não tinha noção de como somos previsíveis”, sublinha o especialista. Mas isto só acontece para a compra de fast food ou a escolha do prato vegetariano ou do prato de carne num refeitório. “É muito mais difícil prever votações.” E ainda bem!