Num ano em que as virtudes da Ciência, e dos seus atores, tem sido mais louvada do que nunca, o resultado do concurso de financiamento de projetos e de carreiras científicas apresentou-se como uma grande deceção para a comunidade científica. Além de artigos de opinião publicados em órgãos de comunicação social e de um protesto no Facebook, foi lançada uma petição que tem como objetivo levar à Assembleia da República a discussão sobre o financiamento da Ciência. Além das baixíssimas taxas de aprovação, de 5,3% nos projetos e 8,2% no concurso de estímulo ao emprego científico, – inferiores por exemplo a concursos muito competitivos, como o do Conselho Europeu de Investigação que atribui as bolsas ERC, conhecidas como ‘bolsas milionárias’- os cientistas portugueses queixam-se da falta de regularidade nos concursos e da impossibilidade de se voltarem a candidatar com o mesmo projeto, caso este seja rejeitado, numa nova fase de candidaturas. “Em Espanha, por exemplo, a taxa de aprovação neste tipo de concursos é de 15% e nas (muito competitivas) bolsas Marie Curie é de 12 por cento”, compara João Filipe Oliveira, da Universidade do Minho e um dos impulsionadores do Movimento 8%, que surgiu de forma “espontânea”.
Na Carta Aberta, que atingiu hoje o mínimo de 7 500 assinaturas, os signatários pedem um aumento do pacote financeiro para os concursos de financiamento de projetos e uma taxa de aprovação alinhada com a praticada noutros países europeus de 15% e uma estratégia nacional para a Ciência que em 2030 garanta um investimento de 3% do PIB.
Em 2019 o investimento foi de 1,41 por cento, mas em entrevista à Exame Informática, uns dias antes de terem sido divulgados os resultados do concurso promovido pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), o Ministro da Ciência Tecnologia e Ensino Superior Manuel Heitor assegurava o seu compromisso com a aposta no setor. “Nos últimos cinco anos mais que duplicamos o financiamento para bolsas de doutoramento. Em 2015 eram financiadas 900 bolsas de doutoramento. Nos últimos dois anos passaram a ser mais de duas mil. Hoje Portugal forma três novos doutores por dez mil habitantes: semelhante à Espanha, 30% abaixo da Holanda, metade do que formam os países nórdicos ou a Alemanha”, realçou. Para 2030, o ministro espera atingir os quatro novos doutores por dez mil habitantes. “Queremos passar dos atuais 2500 para quatro mil novos doutores por ano”, avançou à Exame Informática, na entrevista publicada na edição de dezembro. “O orçamento da FCT cresceu mais de trinta por cento nos últimos anos. Em 2015 era de 380 milhões de euros por ano, nos últimos dois anos foi superior a 500 milhões de euros.” Mas ainda não chega. Alerta a comunidade científica.