Enquanto não chega a vacina, a forma de evitar a propagação do SARS-CoV-2 passa exclusivamente por medidas comportamentais. Umas assumidas de forma voluntária e individual, outras tornadas obrigatórias pelos governos. Mas afinal o que é que verdadeiramente funciona? Uma equipa de cientistas olhou para os dados referentes a 79 países e regiões dos EUA e fez uma lista daquilo a que chamou Intervenções Não Farmacológicas (NPIs na sigla em inglês) e foi ver o que de facto teve impacto na mitigação da pandemia, nomeadamente ao nível da taxa de transmissão do vírus, o Rt.
A medida número um, que mais impacto tem na mitigação da transmissão, é o cancelamento de encontros entre pequenos grupos, de acordo com o artigo publicado na revista Nature Human Behaviour. Logo a seguir vem o encerramento dos estabelecimentos de ensino como a estratégia mais eficaz de controle da pandemia.
Para chegarem a estas conclusões, a equipa coordenada pelo professor da Faculdade de Medicina de Viena, Peter Klimek, usou quatro modelos computacionais para avaliar o efeito de 6068 tipos de intervenções não farmacológicas, implementadas entre março e abril deste ano, em 79 países ou regiões. Os quatro modelos apontaram todos na mesma direção: cancelar pequenos ajuntamentos é a forma mais eficaz de limitar a propagação. Depois do fecho das escolas, que aparece, consistentemente em segundo, está a restrição trans-fronteiriça, as restrições ao movimento individual, o confinamento nacional e o reforço dos equipamentos de proteção individual, perfazendo a lista das seis medidas com maior impacto na mitigação da propagação. Já a limpeza e desinfeção de superfícies comuns mostrou ser uma medida praticamente inútil – o que acaba por ir ao encontro de evidência científica que tem vindo a apontar para o facto de a transmissão a partir de contacto com superfícies ser extremamente rara, como refere o CDC na sua página.
Aumentar a capacidade de testagem e avaliar sintomas nos aeroportos também tem pouco ou nenhum impacto na evolução da epidemia. Por outro lado, uma estratégia de comunicação eficaz, que envolva os cidadãos, assim como medidas de apoio às populações socialmente mais vulneráveis, podem ser tão eficazes como estratégias mais restritivas e limitadoras.
Os autores reforçam, no entanto, que nenhuma medida individual irá prevenir a propagação da Covid-19, mas antes uma combinação de intervenções, adequados ao país. Também realçam que estas conclusões se referem àquele período específico em análise.