O mercado bolsista é sempre um carrossel com subidas, descidas, loopings, curvas e contra-curvas. Mas a verdade é que os índices bolsistas traduzem os comportamentos dos resultados das maiores empresas do mundo e isso tem impacto direto na nossa vida.
O nosso Índice das maiores empresas reflete o valor bolsista de apenas 16 empresas portuguesas (antes era designado por PSI 20 porque era composto por 20 empresas, agora é apenas PSI) e tem um interesse pouco significativo. Qualquer investidor português pode (e deve) olhar para outros índices mais expressivos e robustos para fazer bons investimentos. Pois, se antigamente era preciso um papel físico e contacto direto com corretores para fazer operações bolsistas, hoje, qualquer pessoa, pode investir globalmente, sem barreiras geográficas.
Neste sentido, vale a pena perceber o que aconteceu no início de agosto com dois mercados distintos: o Japonês (nomeadamente com o Índice Nikkei 225) e o Norte-Americano (em particular com o Nasdaq, que reflete o desempenho de empresas de tecnologia). No caso deste último, foi altamente prejudicado pelos desempenhos abaixo do esperado das principais empresas de tecnologia negociadas na Bolsa dos Estados Unidos: Meta, Amazon, Apple, Alphabet, Microsoft Tesla e NVIDIA.
Não é correto simplificar todo o comportamento bolsista a um só fenómeno, pois será sempre fruto de múltiplas circunstâncias, mas gostava de destacar o medo que o mercado está a sentir dos investimentos demasiado intensos em Inteligência Artificial. Não está em causa o abrandamento da inovação nesta área, mas sim as, possíveis, exageradas expetativas que se criaram sobre a IA e agora a realidade estar a obrigar-nos a rever essas mesmas expetativas. Por exemplo, vamos aguardar o que irá acontecer na apresentação de resultados da NVIDIA no final deste mês, pois parece que há projetos que não estão a ser concretizados como se esperaria. Isto é relevante porque, como disse acima, uma desvalorização nestas Magnificent 7 irão trazer fortes consequências para as carteiras de quase todo o mundo. O imediatismo de resultados e o excitamento com as novas tecnologias são muito interessantes para os investidores iniciais, mas há sempre uma fase de ajuste que será tanto mais castigadora quanto foi o excesso de entusiasmo.
Já no Oriente o fenómeno foi diferente, mas coincidente no tempo, o que só ajudou ao pânico dos mercados globais. O Japão vive há um longo período com taxas de juro próximas do zero (bem mais do que aconteceu na zona Euro) e, no início de Agosto, parece ter começado uma inflexão desta realidade de décadas. O aumento de 0,25% das taxas de juro pôs em causa o modo de atuação de muitos investidores globais que se financiavam em moeda japonesa. Este recuo de investidores levou a muitas operações de liquidação de participações, fenómeno conhecido como “sell-off”, que por sua vez levou há maior queda do Nikkei em 40 anos e ao propagação do sell-off por todos os mercados bolsistas.
Estes acontecimentos, distintos entre si mas coincidentes no tempo, têm a virtude de nos lembrar uma lição que não podemos perder de vista: os investimentos em Bolsa estão orientados pelas expetativas e nunca traduzem uma garantia real. Claro que a realidade é importante para a geração de expetativas e, por isso, é essencial estarmos informados dos dados macroeconómicos e conhecermos a realidade do que se passa nas empresas que constituem os Índices. Mas esses conhecimentos não nos devem iludir ao ponto de nos apropriarmos do futuro como uma garantia.
Há uma frase típica nos prospetos simplificados dos produtos de investimento que diz: “Atenção! Rendibilidades passadas não são garantia de rendibilidades futuras”. E é exatamente por isto ser tão verdade que temos de aprender a investir e a gerir riscos. Os investimentos em bolsa não são uma aposta que fazemos, mas obedecem a uma sabedoria de saber gerir riscos. Não entrar em pânico com as quedas dos mercados é algo que se prepara com boa formação em Literacia Financeira. Esta boa formação até pode ser útil para aproveitar precisamente os comportamentos massificados de pânico, pois os maiores ganhos podem estar precisamente aí.