O mundo celebra, hoje, o Dia Mundial do Meio Ambiente, que tem este ano como tema acelerar o restauro da terra, a resiliência à seca e à desertificação. No entanto, não nos podemos esquecer de outros desafios urgentes, como as crises geopolíticas e humanitárias, assim como as alterações climáticas ou o desperdício alimentar. Todos estes desafios tiveram, têm e vão ter um enorme impacto no Meio Ambiente e na saúde e na sustentabilidade do nosso planeta. Nesse sentido, parece-me fundamental refletir sobre uma dessas temáticas, o desperdício alimentar, e de que forma é que nós, cidadãos e cidadãs, podemos responder e contribuir para a mitigação deste problema global, lembrando que este não se esgota na perda de alimentos, sendo também responsável por impactar fortemente os recursos naturais da Terra.
Sabia que cerca de 40% de todos os alimentos produzidos no mundo são desperdiçados (o que corresponde a 2,5 mil milhões de toneladas por ano)? E que a produção de alimentos que acabam por ser desperdiçados anualmente utiliza mais de um quarto da água doce disponível no planeta? E que a produção de alimentos que acabam por ser desperdiçados ocupa uma área agrícola maior do que a China e Índia juntas? E que o desperdício alimentar é responsável por 10% de todas as emissões de gases com efeito de estufa a nível mundial (quase 5 vezes superior ao setor de aviação)? E que o custo estimado desta perda atinge mais de 1,1 bilião de euros? De acordo com o último relatório do Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUA), os habitantes do planeta desperdiçaram, em suas casas, mais de 1.000 milhões de refeições por dia, enquanto 783 milhões de pessoas enfrentaram a fome e um terço da população mundial sofreu de insegurança alimentar.
Em Portugal, a situação também é preocupante. Os últimos dados disponíveis do Instituto Nacional de Estatística indicam que foram desperdiçadas cerca de 1,9 milhões de toneladas de alimentos, o que significa que, em média, cada português desperdiça 183,6 kg de alimentos por ano. Estes números são ainda mais alarmantes quando consideramos que, este ano, a Global Footprint Network anunciou que Portugal esgotou oficialmente os recursos naturais disponíveis no dia 27 de maio. Isso significa que, se cada pessoa no planeta vivesse como uma pessoa média portuguesa, a humanidade exigiria cerca de 2,9 planetas para sustentar as suas necessidades de recursos.
Face a esta realidade, é urgente educar e consciencializar as pessoas para esta temática, para que possam, de uma forma informada, adotar práticas de consumo responsável. Para isso, é fundamental a realização de ações nas escolas, nas comunidades e na comunicação social, permitindo que todos conheçam os impactos da produção, distribuição e consumo dos alimentos.
Um exemplo simples e prático para começar, desde já, a responder a este desafio e defender o Meio Ambiente passa por adquirir alimentos que seriam desperdiçados e, neste quadro, temos a aplicação Too Good To Go que salva excedentes alimentares de mercearias, restaurantes e grandes cadeias de supermercados. Desde que chegámos a Portugal, a nossa comunidade de mais de 1,8 milhões de utilizadores e 4.000 parceiros já salvou mais de 4 milhões de refeições no nosso país e evitou a emissão de mais de 7.500 toneladas de CO2. O crescimento da aplicação, assim como várias ações promovidas pela Too Good To Go em Portugal, têm demonstrado que os portugueses estão, cada vez mais, conscientes da importância do combate ao desperdício alimentar, mas o caminho é longo.
É importante continuar a acreditar que cada um de nós pode fazer a diferença através de ‘simples gestos’, como práticas de consumo consciente, o planeamento de refeições, o armazenamento adequado dos alimentos, assim como aproveitar ao máximo os que dispomos, contribuem para a preservação e para a sustentabilidade do planeta.
O Meio Ambiente agradece, assim como as futuras gerações.