Estamos ainda na ressaca da época de apresentação de resultados, referentes a 2022, das grandes empresas cotadas em bolsa. De forma geral os resultados foram muito positivos e acima do esperado: Galp quase duplicou os lucros; Navigator teve o seu melhor ano de sempre; Corticeira Amorim, Jerónimo Martins e Altri com crescimento dos lucros de 32%, 27% e 23%, respetivamente. Apresento estes exemplos para mostrar a diversidade de setores onde estes bons desempenhos se realizaram, sendo que deixei de fora, de propósito, os resultados da Banca para a reflexão não se centrar neste sector tão facilmente criticado, como se de lucros fáceis se tratasse.
Já sabemos que o discurso político sobre este assunto está carregado de hipocrisia, pois basta lembrar o passado recente, com os justíssimos louvores públicos que foram dados por todos os quadrantes políticos ao Senhor Comendador Rui Nabeiro. O que está por detrás desta hipocrisia é que me preocupa e merece uma discussão nacional: por que não fazemos votos de louvor pelos bons desempenhos empresariais?
Parece que nos incomoda o sucesso dos outros… esta mensagem, subliminar, é muito perigosa de fazer crescer numa sociedade. Digo “fazer crescer” porque acho que ela já existe, embora estejamos a tempo de a corrigir. É tempo de pôr em causa os paradigmas do passado, que nos fizeram acreditar que o apoio aos mais pobres fica comprometido pelos ganhos de terceiros, quando é exatamente o oposto: os lucros podem potenciar as políticas sociais. Não é uma regra, com certeza! Mas é algo a que devemos ambicionar. O contrário desta afirmação é que é uma regra: sem os ganhos de uns, não há políticas sociais para outros.
Não nos deixemos levar pelo dualismo dos “bonzinhos” que se preocupam com os pobres e os “mauzões” dos empresários gananciosos. Temos de dar passos para que a sociedade compreenda o benefício dos lucros. Discursos contra os grandes lucros, como se estes fossem os responsáveis pelo mal social do país, levam-nos a uma situação de bloqueio à criação de riqueza. O carinho que o país tem para com o empresário Rui Nabeiro não é só pelo sabor dos seus cafés, mas é sobretudo pelo bem que pôde fazer com o dinheiro que ganhou e que deu a ganhar. Não seria mais interessante olhar para as boas praticas e disseminá-las, em vez de atacar os ganhos das empresas como se fosse aí que estivesse o mal do país?
A pobreza de milhões de portugueses combate-se, sobretudo, pelo bom governo da sociedade. A arte da política é precisamente a capacidade de uma correta organização da “pólis”, onde todos os cidadãos têm um lugar e um contributo a dar.