Levamos uma vida inteira a construir algo que valha a pena.
Claro que “valer a pena” é sempre subjetivo, mas, mesmo que não haja um significado que nos satisfaça a todos, ninguém pode negar que uma relação, uma parceria, um negócio, uma ideia verdadeiramente valiosa, leva sempre tempo a cimentar, a florescer e a dar frutos. Desenvolver um produto da nossa criação é um exercício intenso de compromisso e, no limite, até de paciência. No entanto, o processo contrário apenas precisa de um instante, de uma alteração de percurso e, mais flagrante do que isso, de um desvio do nosso próprio foco para um mindset verdadeiramente corrosivo.
Mas o que destrói afinal? Mesmo que existam mais, identifico três “pecados”, armadilhas presentes na vida e nos negócios, que me parecem evidentes. O primeiro é a expectativa e o quão fácil é ficarmos reféns da mesma. Claro que temos sempre de estabelecer objetivos e definir metas com frequência para nos guiarmos e nunca perdermos o norte. Muitas vezes, a expectativa revela-se de tal forma avassaladora e incapacitante, fundamentada em fantasia e parâmetros irrealistas, que deita por terra qualquer caminho sustentável e ponderado que queiramos seguir. Quando a deixamos assumir o controlo, tornamo-nos impulsivos, insensatos e damos um passo largo no sentido do desgosto.
Posto isto, chegamos ao segundo: a comparação. A alegoria não é nova e não podia ser mais simples. Se estivermos constantemente a olhar para o lado, deixamos de ver em frente. Colocamos em segundo plano aquela que deverá ser sempre a intenção elementar, que é a busca constante pela autossuperação. Não é que não seja saudável identificar e analisar os exemplos à nossa volta, e claro que não estou apenas a falar do lado profissional. Porém, este vínculo com o que nos rodeia, digamos assim, deve ser saudável, enriquecedor, e não obsessivo ou alimentado pela inveja. É importante relembrar que o invejoso não quer o que nós temos, pois nem sequer está disposto a pagar o preço por isso, ele apenas não quer que nós tenhamos.
A sociedade consegue ser dura e implacável perante o indivíduo que tropeçou e, ao mesmo tempo, particularmente cruel e invejosa quando se é bem-sucedido. Por isso, apenas faça, porque vai ser criticado de qualquer maneira
Por último, o terceiro da minha lista de “pecados”, tem a ver com a convivência com os outros, com o medo de fracassar e de lidar com a crítica. De facto, o entendimento do fracasso está enraizado como algo que não pode acontecer, e, se acontecer, constitui um duro golpe nas nossas aspirações e na ideia que temos de nós próprios. Quanto mais depressa percebermos e aceitarmos que o insucesso faz parte do sucesso, que é apenas uma etapa na qual nunca estamos isentos de críticas, mais complacentes vamos ser connosco quando errarmos.
Do erro não é certo que venha a ruína, aliás, é até improvável que isso aconteça, mas a aprendizagem é inevitável. Neste âmbito, a influência dos outros foge um pouco ao nosso raio de ação: não podemos decidir se vão ou não criticar, ou qual será o grau de intensidade das suas palavras, mas podemos treinar a forma como as percecionamos. De maneira geral, enquanto portugueses, continuamos preocupados com “o que os outros vão dizer”, como nos vão censurar ou julgar por termos falhado. A sociedade consegue ser dura e implacável perante o indivíduo que tropeçou e, ao mesmo tempo, particularmente cruel e invejosa quando se é bem-sucedido. Por isso, apenas faça, porque vai ser criticado de qualquer maneira. Inclusive, eu dou por mim a fazer o mesmo.
Assim, e voltando ao início, é lógico concluir que tudo o que vale realmente a pena, seja em que área da nossa vida for, exige investimento e atenção. Convém estar alerta aos obstáculos, a tudo o que é destrutivo, e saber como reagir. Convém acolher a crítica. E usá-la para subir mais alto, para crescer. E não se esqueça, quando alguém o tentar diminuir, alegre-se, é sinal que cresceu.