O clima em que vivemos, marcado por uma extraordinária incerteza e volatilidade política, económica, ambiental e social, está a produzir profundas alterações em todo o mundo, comportando riscos para empresas, Estados e cidadãos.
2019 foi um ano particularmente desafiante. Nos planos internacional e local, vivemos num período incerto, marcado por constantes mutações tecnológicas, pela imprevisibilidade do clima, pela forte agitação social e pela incerteza política e económica, que colocaram verdadeiramente as empresas à prova.
Hoje, a desaceleração económica, os danos à reputação e as alterações regulatórias e legislativas estão no topo das preocupações dos gestores nacionais e internacionais, segundo o Global Risk Management Survey 2019, produzido pela Aon. É evidente que este contexto levanta novos desafios às empresas. Em Portugal, porém, um outro fator de risco foi identificado, pela primeira vez em vários anos, como estando no topo das preocupações dos líderes empresariais – o risco cibernético integrou a lista dos cinco principais riscos para as empresas, que parecem hoje mais cientes do impacto que o cibercrime pode representar para as suas operações.
Obtivemos respostas para o Global Risk Management Survey 2019 numa altura de enorme incerteza mundial, caracterizada por quedas no mercado de ações, disputas políticas e comerciais, ações regulatórias agressivas, desastres naturais devastadores, ataques cibernéticos de grande alcance e escândalos corporativos.
Como consequência, um terço dos 15 principais riscos identificados em 2019 entrou pela primeira vez na lista dos mais preocupantes para os gestores internacionais. As alterações climáticas passaram do 45º lugar, em 2017, para o 31º, em 2019, uma vez que a frequência e a gravidade das catástrofes naturais contribuem para aumentar as preocupações sobre o impacto na economia global. O envelhecimento da força de trabalho passou da 37ª posição, em 2017, para a 20ª, em 2019, e prevê-se que suba para a 13ª, em 2022.
As alterações demográficas são, aliás, um aspeto relevante de análise. O envelhecimento da população está associado a um fenómeno demográfico caracterizado pelo decréscimo na fertilidade e um crescimento na esperança de vida. Uma menor taxa de nascimentos e o aumento da esperança de vida estão a contribuir para uma alteração significativa na pirâmide etária das populações e, consequentemente, das empresas, sobretudo no que diz respeito aos desafios à proteção social e ao futuro do trabalho. As consequências imediatas desta alteração são o prolongamento da vida ativa dos contribuintes, uma vez que o acesso ao benefício de reforma tem vindo a ser adiado, alinhado com o crescimento da esperança de vida da população portuguesa.
Os desafios que se colocam às empresas, Estados e cidadãos neste contexto são tremendos, e 2020 continuará a ser, por isso, desafiador. Mas a entrada num novo ano deve servir também como momento de reflexão das lideranças. É crítico para as empresas saberem acompanhar as alterações globais a que vamos assistindo e ajustar as suas políticas em função dos riscos a que estão sujeitas. Antecipá-los e entendê-los não só é crucial, para a sua sustentabilidade e competitividade, como também é crítico para adequar e aprimorar estratégias empresariais e assim transportar as organizações para outro patamar de crescimento.
Numa economia global mais competitiva e sujeita a eventos políticos, económicos, ambientais e sociais mais ou menos imprevisíveis, os níveis de preparação para gerir o risco estão a baixar drasticamente. Portugal não é exceção. As empresas precisam de rever os seus planos de gestão do risco, adotando uma abordagem holística diferente da do passado.
Um dos grandes desafios para 2020 é claramente este: a consciência de que a capacidade de gerir o risco é uma fonte de vantagem competitiva para as organizações. Estou certo, porém, de que 2020 será tão desafiante como recompensador para quem souber gerir e liderar neste novo normal caracterizado pela incerteza. Mãos à obra!