A diversidade traz oportunidades e desafios. E, apesar dos progressos observados nas últimas décadas, ainda há muito caminho por trilhar, sendo necessário rebentar as nossas bolhas. Esta foi uma das grandes conclusões do painel “Desafios de um mundo mais diverso” da III conferência Girl Talk. O debate reuniu Ana Santos Pinto, diretora executiva do IPRI-Nova, Isabel Guerreiro, administradora executiva do Santander Portugal e Mónica Soares, consultora de negócios, branding e estratégia.
A forma como as empresas refletem o que é a sociedade foi um dos principais temas em cima da mesa. Isabel Guerreiro considerou que se tem assistido a um aumento da inclusão, mas ressalvou que há mais por fazer. A administradora do Santander, formada em Engenharia Informática, recordou que quando entrou “no pavilhão do Técnico não havia casa de banho para mulheres”. Depois disso, foi uma das minorias no banco, já que era uma engenheira entre juristas e economistas. “Melhorou imenso, mas continuo a acreditar que é fundamental que continue a fazer parte da agenda das organizações, porque representam a sociedade. Vivemos em bolhas. E, portanto, tem que fazer parte da agenda das organizações, mesmo que seja forçado em algumas vezes”, referiu.
Isabel Guerreiro observou que de facto as organizações ainda não são representativas da sociedade.” E não é apenas uma questão de género ou de etnia”, indicou. “Quando comecei a trabalhar achava que o tema das quotas não era suficientemente meritocrata. Hoje mudei bastante de opinião. Creio que se não impusermos quotas vai demorar muito mais tempo a reduzir-se o gap. Tem sido muito importante impor a diversidade em todos os sentidos. Tem de fazer parte da agenda e de forma mais intensa”.
Já Ana Santos Pinto demonstrou que, muitas vezes, é cada um de nós que impede uma maior diversidade. “Nós simplesmente estamos fechados na nossa bolha. E a experiência de vida e a forma como vamos estabelecendo as nossas relações sociais e culturais faz-nos, consciente ou inconscientemente, esconder essa diversidade porque nesta lógica de massas eu quero ser igual à maioria”, afirmou. A antiga secretária de Estado da Defesa salientou ainda que “o medo da diferença está diretamente relacionado com o medo do desconhecido e a primeira questão é assumirmos que existe uma diferença e a segunda procurar conhecê-la”.
A diretora executiva do IPRI-Nova defendeu, assim, que a “diversidade resulta da nossa opção individual. Queremos ou não ouvir? Queremos manter-nos na nossa posição de conforto ou queremos criar um espaço seguro para que todos possam dizer o que pensam sem a noção do que vão pensar de mim. A resposta não é difícil. Primeiro tenho de querer rebentar com a minha bolha e isso é rebentar com a minha zona de conforto”.
No seu percurso profissional, Mónica Soares, teve de sair algumas vezes da sua zona de conforto. “Antes de ser empresária, estive numa multinacional líder de mercado nas marcas de luxo. Fiz parte da equipa que abriu a maior loja na Avenida da Liberdade e, em 2003, esta empresa não tinha uma única pessoa negra na sua equipa”, contou. “Aprendi nessa altura que a minha cor influenciava e influenciava muito. Gosto muito da cor que tenho, gosto do que sou e do que me construí enquanto ser humano e enquanto profissional. Esse é o meu desafio todos os dias. O segundo é não deixa que o tema em cima da mesa seja a cor. Tento trazer para cima da mesa outras discussões”. A empresária considerou que “o medo pelo diferente é colocado em cima mesa e essa lógica leva-nos a vários fatores, antes do fator cor há o de ser melhores, antes do ser mulher há o fator da geração, existem ‘n’ fatores”.
Reflexões sobre como, muitas vezes, basta superar o medo do desconhecido e mostrar disponibilidade para dialogar para conseguir organizações e uma sociedade mais diversas e inclusivas.