A celebrar uma década de vida – ou, para ser mais exatos, uma década desde a primeira vindima – a Adega Mãe parece estar ainda mais integrada na paisagem dos campos que rodeiam Torres Vedras, agora que o edifício já tem a cor da passagem do tempo e o hábito no olhar de quem passa. Pertencente ao grupo Riberalves, a Adega Mãe começou a ser pensada em 2005 como um prolongamento natural da atividade da família Alves, que nunca saiu da região de onde é natural e onde está sedeada a empresa, apesar de a fábrica de processamento de bacalhau estar na Moita, na margem sul do Tejo.
Agora, a Adega Mãe abriu as portas do Sal na Adega, um restaurante que é também apresentado como outro prolongamento natural da atividade dos vinhos. Há cerca de um ano, quando ainda estava prevista a abertura do espaço para março, Bernardo Alves, responsável pela área internacional da Riberalves e pela Adega Mãe, referia à EXAME que fazia “sentido ter um lugar onde o bacalhau e o vinho pudessem finalmente conversar”.

A pandemia atrasou os planos, mas não mexeu na vontade. E se a loja da Adega Mãe passou a ter também uma área dedicada ao bacalhau processado pela Riberalves, no restaurante é esse animal que ganha destaque, numa carta onde há espaço para a cozinha tradicional portuguesa, pensada com a frescura e a técnica irrepreensíveis do chef Tiago Velez, que tem a ajuda de Sérgio Alvelos, o sub-chef que se juntou recentemente ao projeto, com uma alegria renovada por se poder manter na região onde vive.
Aberto nos sete dias da semana, ao almoço o Sal na Adega tem sempre uma sugestão tipicamente nacional – desde rabos de bacalhau assado a cabrito no forno ou bacalhau à brás. No entanto, todas as outras opções estão disponíveis para quem preferir: e a verdade é que é difícil resistir às línguas de bacalhau à bulhão pato ou ao arroz de tomate malandrinho com bochechas de bacalhau; apesar de ser possível experimentar também carré de borrego, chuleton ou um tradicional bife à portuguesa, acabámos por não resistir à proximidade do mar: para além do ceviche de bacalhau thai, que se revelou a grande surpresa da refeição, o polvinho da costa à lagareiro com mousse de batata doce e legumes também conquistou um lugar especial no nosso estômago.

O Sal na Adega tem diversas sugestões de harmonização dos seus pratos com os vinhos produzidos por Anselmo Mendes e Diogo Lopes, os dois enólogos que desde o início do projeto são responsáveis por todas as referências.
Destaque para os brancos, que têm melhorado a cada colheita – o Terroir foi particularmente surpreendente – e que se destacam também por uma relação entre qualidade e preço muito difícil de encontrar, mesmo num País onde é particularmente simples encontrar bons vinhos.
A região de Lisboa tem sido, ao longo dos anos, posta de parte pelos especialistas de vinhos, que têm colocado sobretudo o Douro e o Alentejo em posições de destaque, mas a verdade é que cada vez mais se encontram referências de destaque nesta zona do País. Seja pelo solo, pela proximidade do mar ou pelo clima bastante diferenciado, as surpresas não param de aparecer. A Adega Mãe tem ainda um espumante Blanc des Blancs que é particularmente agradável se for para acompanhar algumas entradas leves.
Com vista para os vales de Torres Vedras e as serras no horizonte, vale ainda a pena experimentar a mousse de chocolate com flor de sal e pimenta rosa – que poderia ter um bocadinho menos de pimenta, mas tem a dose certa de chocolate! – e terminar com um Porto Kranemann 20 anos, envelhecido em barricas de carvalho.
Numa altura em que cada vez parece fazer mais sentido estar fora das grandes cidades e de lugares com muita procura, o novo Sal na Adega aparece como um refúgio bem apetecível às portas da capital.