A manhã foi rica em partilhas de experiências distintas, mas que em comum têm o desafio transversal de conjugar a urgência de acelerar a inovação digital, com a especificidade de cada negócio ou setor de atividade. Garantindo, assim que a força de trabalho se mantém alinhada com os objetivos, e empenhada na mudança. É um desafio porque, feitas as contas, “é tudo sobre pessoas”, disse Fernando Reino da Costa, durante a abertura da conferência. O Presidente e CEO da Unipartner defendeu que o papel das pessoas, da sustentabilidade e do digital são os pilares das organizações do futuro.
Os três pilares aferidos por Fernando Reino da Costa são, aliás, o suporte da estratégia definida pela Unipartner. A empresa de serviços de consultoria e integração de sistemas de informação, cuja missão passa por ajudar a transformar os negócios dos seus clientes, para que sejam mais eficientes, produtivos e preparados para dar resposta às exigências de um mundo em transformação acelerada, está igualmente a percorrer o caminho da mudança e a responder aos mesmos desafios internos. “Estes são desafios complexos, difíceis de endereçar, mas estão todos relacionados”, reforçou. Na sua perspetiva, as pessoas, a sustentabilidade e o digital são peças essenciais na mudança obrigatória a que as organizações estão hoje sujeitas, sendo a tecnologia o enabler transversal a toda a transformação e inovação. Contudo, apontou, “não há mudança sem as pessoas”.
Uma opinião partilhada com David Schonthal, o professor norte-americano co-autor do livro bestseller ‘The Human Element: Overcoming the Resistance that Awaits New Ideas’, que versa precisamente sobre a dificuldade que o ser humano tem em mudar. No seu livro, David, que foi o convidado especial deste encontro da Unipartner com grandes organizações de diversas áreas e setores, elenca quatro fricções: inércia, esforço, emoção e reatância, como os principais fatores de resistência à mudança dentro das organizações e na vida, em geral. Seja porque não quer sair da sua zona de conforto, por colocar barreiras a ideias novas, por medo de falhar ou, simplesmente, por não perceber o impacto da mudança, o ser humano tende a erguer barreiras à aceitação daquilo que é novo ou diferente. Conseguir alterar estes comportamentos é um desafio para as organizações, e uma tarefa muito exigente para os líderes. “Os melhores líderes, aqueles que mais facilmente podem criar estratégias para ultrapassar estes atritos, são aqueles que têm consciência da sua existência”, referiu David Schonthal.
À margem da conferência, David Schonthal revelou que foi muito positivo perceber que em Portugal existe um conjunto de organizações que se preocupam e debruçam sobre estes desafios e que estão empenhadas em ultrapassá-los. No entanto, acrescentou: “creio que lhes faltava uma abordagem para endereçar de forma concreta”. No fundo, referiu o professor, “esse é o meu objetivo com este trabalho: torná-lo numa estrutura que possam utilizar dentro da sua própria organização ou a que os consultores possam recorrer para ajudar os seus clientes nos processos de mudança”.
O digital com(o) Propósito
“A indústria das Tecnologias da Informação e Comunicação será fundamental para responder às questões da sustentabilidade”. Esta é uma certeza partilhada por Luís Neves, CEO do GeSI (Global Enabling Sustainability Initiative), que defendeu a aceleração na mobilização das organizações para que alterem os seus processos e respondam aos desafios da sustentabilidade. “Caso contrário, daqui a 30 anos não teremos planeta”, afirmou em jeito de enquadramento da sua apresentação.
Na perspetiva do responsável pelo movimento ‘Digital with Purpose’, lançado pelo GeSI, o digital será parte da solução para combater as alterações climáticas e para reduzir as emissões de CO2. “Sete anos depois do Acordo de Paris, pouco mudou e não acredito que a meta seja atingida em 2050”, disse, recordando que anualmente morrem 5 milhões de pessoas de causas relacionadas com as alterações climáticas. “É preciso gerir as agendas para o digital, as necessidades humanas e a sustentabilidade com um impacto rápido e positivo”.
O digital está em todos os negócios, como aponta Luís Neves, logo, é necessário que estes pensem fora da caixa. O movimento Digital with Purpose parte da premissa de que o digital e a sustentabilidade estão no centro de todo o processo. Portanto, recomenda, “importa mobilizar as empresas para este objetivo, porque elas vivem no business as usual, e não se adaptaram aos desafios com que estamos confrontados. O Digital com Propósito procura ajudar as empresas a adaptarem-se”.
A fechar uma manhã repleta de troca de experiências, coube a Andres Ortolá, diretor-geral da Microsoft Portugal, a missão de encerrar este encontro. “O imperativo digital está em todas as organizações”, lançou, em jeito de introdução para apontar a importância de usar a tecnologia para tirar o melhor partido possível das oportunidades geradas pelo ambiente complexo e disruptivo que o mundo enfrenta. “Vivemos momentos de incerteza com uma pandemia, a que se seguiu uma crise energética, uma guerra, e uma inflação galopante que anuncia uma recessão global”, lembrou. Por isso, reforçou, “a perseverança digital é fundamental”.
Entre os imperativos digitais que nenhuma organização deve ignorar, Andres Ortolá destaca cinco. O primeiro, a migração para a Cloud, a nuvem digital onde, segundo as previsões das consultoras, 95% dos negócios estarão em 2025, essencial para manter as atividades em funcionamento. O segundo, dinamizar equipas de fusão, capazes de desenvolver tecnologia low-code ou no-code, de abrir o mundo tecnológico a todos – um estudo da Microsoft estima que, dentro de três anos, 70% das apps tenham esta origem. O terceiro imperativo – processos empresariais colaborativos – garantem a flexibilidade dos modelos de trabalho e dão força ao remoto, que reúnem a preferência de 73% das pessoas no pós-pandemia. Apesar disso, revelou ainda o responsável da Microsoft Portugal, 67% querem mais trabalho presencial. Uma dicotomia que impõe novos desafios aos gestores, que devem criar estratégias individualizadas de gestão de pessoas.
Sob o mundo dos dados, o quarto imperativo apontado por Andres Ortolá reflete a tendência de unificação dos terabytes de dados que diariamente são criados, aplicando-lhes modelos de inteligência artificial capazes de extrair informação verdadeiramente útil para uma melhor tomada de decisões. Em 2025, revela o diretor-geral, 10% dos dados serão produzidos por sistemas de generative AI. Por fim, o imperativo da segurança, cujas quebras custarão ao mundo 10,5 triliões de dólares. “Evitar estas perdas é fundamental”, apontou.
A fechar a conferência, o Secretário de Estado da Digitalização e da Modernização Administrativa, Mário Campolargo, deixou aos líderes presentes uma mensagem que reflete a urgência de fazer um esforço coletivo para ter um país mais digital. “Não é um esforço necessariamente só top-down, é um esforço que tem de englobar todos os atores. Temos de ter em mente a interação entre as organizações mais inovadoras, as mais recentes, aquelas que estão mais estabelecidas, porque isto move a sociedade”, disse. Tirar partido dos apoios previstos pelo PRR (Plano de Recuperação e Resiliência) é, na opinião do Secretário de Estado, uma das receitas para desenvolver digitalmente o país. “É importante que a digitalização e modernização administrativa sejam duas faces da mesma moeda de desenvolvimento do país com o objetivo de o tornar numa nação digital equilibrada”, reforçou.