Aproveitando a vaga do 10 Year Challenge que inundou as redes sociais, veja em baixo como mudaram alguns dos principais indicadores utilizados para fazer um ponto de situação da economia portuguesa. Em alguns casos, só agora é que regressámos ao ponto em que estávamos há dez anos, noutros estamos consideravelmente melhor. Há ainda métricas que colocam Portugal numa situação mais frágil, desde setores que não recuperaram até um endividamento público ainda em terreno muito perigoso.
Começando pelo produto interno bruto (PIB), verificamos que ele está apenas ligeiramente acima do nível em que se encontrava em 2009, o primeiro de quatro anos de contração da economia no espaço de cinco anos. A crescer desde 2014, o PIB acelerou significativamente em 2017, mas só recentemente regressou ao nível pré-crise.

No défice orçamental, os progressos são substanciais. Há dez anos, as contas públicas já revelavam grandes fragilidades, enfrentando uma crise grave, dificuldades do setor financeiro e opções orçamentais que se revelaram pouco cautelosas em contexto de crise (aumentos dos funcionários públicos muito acima da inflação e algum do investimento público). Caso as previsões do Governo se confirmem para 2019, Portugal ficará com um défice muito próximo de zero.

A dívida pública é provavelmente o indicador que mais deve preocupar os responsáveis políticos. Embora os progressos nas contas do Estado sejam difíceis de negar o endividamento acumulado desde 2008 atirou Portugal para um dos lugares cimeiros no ranking dos Estados com a dívida mais elevada do mundo. Ela já começou a cair, mas ainda está num nível demasiado elevado, que deixa o país vulnerável a futuras crises.

O principal responsável pela melhoria das contas públicas tem sido a despesa, com um controlo apertado das rubricas e, nalguns casos, cortes. Foi isso que aconteceu ao investimento público, que atingiu em 2016 o valor mais baixo em pelo menos 20 anos e tem recuperado muito lentamente desde essa altura, continuando bastante aquém do nível de 2009. Se olharmos para o investimento total (realizado pelo Estado e pelas empresas), a situação não melhora muito. Um dado preocupante, uma vez que o investimento serve como semente do crescimento futuro.

Nos salários, há duas histórias a contar. Por um lado, o salário mínimo é hoje 150 euros mais elevado do que há dez anos. Embora ainda haja cépticos, o comportamento da economia tem mostrado que essa subida não penalizou significativamente o emprego e já nem as confederações patronais reclamam muito acerca dos sucessivos aumentos. No entanto, os salários da totalidade da economia não têm reagido de forma tão positiva, algo que pode ser explicado por um dos setores mais dinâmicos da economia portuguesa ser o turismo, onde as remunerações tendem a ser mais baixas.

No campo do desemprego, é difícil não contar uma história positiva. A redução do número de portugueses sem trabalho tem sido mais veloz até do que o Governo português esperava e está já em mínimos do início do século. Em 2009, o desemprego ainda não tinha atingido o pico, mas já estava nos dois dígitos. Hoje, está na casa dos 6%. Esta quebra tem sido importante não só do ponto de vista social como para a receita fiscal e, por arrasto, para o défice.

A situação atual do emprego não se destaca tanto do ponto de vista histórico. Ainda que também esteja a crescer, a população empregada deverá continuar este ano abaixo do limiar dos cinco milhões. Porquê a diferença? Parte da explicação está na diminuição da população residente em Portugal, com a emigração a desempenhar um papel importante.
(a unidade do gráfico é milhares de pessoas e não apenas o número de pessoas, como lá está referido)

Talvez seja um indicador a que se dá menos atenção, mas o saldo da balança corrente representa a diferença entre aquilo que se paga e se recebe do estrangeiro (exportações/importações ou remessas, por exemplo). O desequilíbrio profundo que existiu durante a primeira década do século XXI é tido como um dos principais sintomas de problemas estruturais de Portugal, revelando uma economia altamente dependente do exterior. Esse indicador já está no verde desde 2013, ainda que por muito pouco. Por outro lado, a dívida externa permanece em valores muito elevados, embora, também neste caso, numa trajetória de melhoria.

É a transformação portuguesa mais elogiada: a explosão do peso das exportações na economia portuguesa. Há dez anos, elas valiam apenas 27% do PIB, estando agora próximas dos 45%. Um valor mais saudável para uma pequena economia e que ajudou a corrigir o desequilíbrio externo evidenciado no gráfico anterior.

Uma parte muito importante desse sucesso é a força da atividade turística. As exportações turísticas – aquilo que os estrangeiros gastam em Portugal – dispararam nestes dez anos, mais que duplicando o seu peso na economia nacional. Isso tem-se refletido em recordes em número de hóspedes e dormidas, dando uma ajuda importante à atividade económica e ao emprego. Por outro lado, o fenómeno também tem estado ligado a um forte pressão imobiliária no centro de Lisboa e Porto.

Ainda que a economia portuguesa tenha recuperado da crise, nem todos os setores reconquistaram aquilo que perderam. O caso mais flagrante é a construção, que depois de ter engordado bastante até ao arranque da década passada, entrou num ciclo de degradação, que se acentuou com a crise e do qual apenas recuperou ligeiramente. O setor financeiro é outro ramo de atividade que ainda está abaixo do valor de 2009.

Se a construção e a banca perderam peso, essa queda foi compensada pela área do comércio, hotelaria e restauração. Isso deveu-se ao já referido sucesso do turismo, mas também ao desenvolvimento do comércio. A indústria também beneficiou de uma recuperação substancial desde 2009, assim como o transporte e a agricultura (ligeiramente).

Os dados citados utilizam para 2019 as previsões da Comissão Europeia, excepto o défice (valor orçamentado no OE 2019), o salário mínimo (colocado nos 600 euros desde janeiro), as exportações totais e turísticas (valor de 2018 e previsão do Banco de Portugal, respetivamente) e a atividade da construção e do comércio (com dados apenas até ao terceiro trimestre de 2018, publicados pelo INE).