Entramos pela loja da Travessa da Espera, que está assim meio escondida nas esquinas sinuosas do Bairro Alto, em Lisboa, e fazemos como as crianças: encolhemo-nos, quase, no meio do espaço, tentando não mexer em nada, porque a delicadeza das peças deve ser respeitada.
Jorge Leitão, que representa a sexta geração da família ao leme da empresa bicentenária, chega em passo lesto, vindo da rua, de sorriso aberto e gravata amarela, a contrastar com o céu cinzento e pesado que nesse dia se faz sentir na capital. Enquanto nos conduz ao andar de cima, ao escritório onde passa parte do seu dia, dá-nos tempo para observar as tábuas inteiras de que são feitos os degraus, os azulejos que colorem o chão e os sons que vêm da rua. “Isto é um escritório muito simples, mas podemos falar aqui.” Na sala, uma mesa redonda de jantar partilha o espaço com uma secretária, um sofá onde a rainha D. Maria se terá sentado mais do que uma vez – “trouxemos esse sofá da loja do Chiado! Sente-se, sente-se” – e vários desenhos nas paredes.