“O tecido empresarial português necessita de um enorme processo de transformação a começar pela liderança”, disse Armindo Monteiro, presidente da CIP, na conferência na conferência “O Futuro do Trabalho”, que decorreu na AESE Business School, em Lisboa.
O chamado “patrão dos patrões”, um dos integrantes do painel “Os Novos Desafios do Trabalho”, começou por afirmar que Portugal vive uma situação de pleno emprego, mas precisa de refletir “se tem as pessoas certas nos cargos”.
Quanto à emigração dos jovens portugueses, Armindo Monteiro explicou que “todas as pessoas anseiam ter uma boa remuneração, mas também ter um bom projeto, Quando os nossos profissionais vão lá para fora não vão apenas à procura de um salário melhor. Eles querem também um projeto de vida que, por muitas das vezes não encontram em Portugal. E este é o desafio para a nossa sociedade. Precisamos de ter uma economia baseada em empresas com valor acrescentado e empresários que possam oferecer projetos de vida. E com esse valor acrescentado, então poderão também oferecer uma boa remuneração”.
Mas a saída de jovens talentos está também relacionada com a oferta de ambientes profissionais mais ágeis e dinâmicos, na progressão de carreira. Para Rui Teixeira, diretor-geral do Manpower Group, pior do que “a escassez de talento é o desencontro de competências que é muito acentuado. A rapidez com que tudo evolui é tal que tudo o que aprendei um estudante da Universidade que chegue agora ao mercado de trabalho já não está atualizado. O desafio é saber como é que conseguimos ir à velocidade das expectativas”.
O gestor salientou ainda que as empresas têm de estar preparadas para o mundo global. “Não podemos ter fronteiras abertas só para receber. Irão acontecer saídas e as lideranças têm de estar preparadas para lidar com isso. Eu acredito que no futuro não iremos ter nem um modelo 100% remoto, nem 100% presencial. Irá existir uma adaptabilidade. E as organizações que têm sido mais bem sucedidas na atração e retenção de talento são as que se adaptam aos novos modelos de trabalho”.
Para Rui Teixeira, os modelos híbridos serão cada vez mais acentuados para que as empresas adotem modelos mais flexíveis para receber pessoas.
Pegando no tema, Armindo Monteiro, afirmou que o problema não é a saída dos jovens, mas sim “o não regressarem”. Na sua opinião, é bom para qualquer profissional “ter mundo”, mas as empresas perdem qualificações.
“Uma empresa é algo muito simples. A partir de uma ideia e munida do capital necessário, contrata competências. Se essas competências forem baixas, ela terá um produto de baixo valor acrescentado. Não há nenhuma magia. Uma empresa está sempre dependente da qualidade dos seus recursos humanos”, acrescentou o líder da CIP.
Na opinião de Armindo Monteiro, os trabalhadores têm agora à sua disposição um ‘doping’: “Tudo o que seja inteligência artificial e processos que possam ser acoplados à capacidade humana podem permitir a nós, enquanto País periférico que já falhou uma série de revoluções económicas, de aproveitar esta mudança”, esclareceu.
Aludindo a um relatório publicado recentemente, que diz que a Europa importante 80% da tecnologia digital, Armindo Monteiro questiona como é que a Europa chegou a este ponto. “Como é que é possível que a Europa apenas tenha quatro das cinquenta maiores empresas tecnológicas do mundo, quando um terço das empresas que estão a ser criadas nesta área são oriundas da Europa? Se não tivermos a capacidade de incorporar tecnologia nas nossas empresas não conseguimos fazer subir o valor acrescentado”.
No entanto, fica a dúvida se a adoção de cada vez mais tecnologia e a incorporação da inteligência artificial no processo produtivo não poderão destruir cada vez mais postos de trabalho?
“É um facto que a formação e a nossa adaptação deveria ser mais rápida que a transformação a que assistimos. Mas nunca aconteceu assim. O receio é legítimo. O desconhecido causa receio e não sabemos, daqui a dois ou três anos, qual será a capacidade da inteligência artificial poder ou não substituir determinadas funções”, diz Rui Teixeira.
Na sua opinião pessoal, a inteligência artificial é “um acelerador”, admitindo que “muitas tarefas que hoje são feitas nas empresas não acrescentam valor e se a execução dessas puder ser feita pela inteligência artificial, as empresas poderão libertar recursos para outras funções”.