Comecei a trabalhar com 12 anos no bar do coliseu e, aos 15, já era o gerente. Não era uma casa que estivesse aberta todos os dias, trabalhava em part-time, mas deu para comprar a minha primeira máquina fotográfica, as primeiras férias. Depois, obviamente que continuei a estudar e, mais tarde, o meu primeiro emprego mais a sério foi na tropa, durante 15 meses. Ao contrário do que dizem, ir à tropa é um trabalho.
Quando saí de lá, pouco tempo depois, fui convidado para entrar na sala de mercados de um banco chamado Banco Internacional de Crédito, ali nos anos 90. Tinha eu 26 anos e já tinha ido à tropa e tirado o curso de Gestão de Empresas. É esse o meu primeiro emprego mais formal, digamos. Estive lá durante sete anos, foi um trabalho muito giro. Adorava quando me perguntavam o que fazia, porque eu dizia sempre que era “dealer”. Adorava aquele ambiente. O banco, depois, acaba a ser comprado pelo Banco Espírito Santo.
Foi uma grande escola. Naquela empresa, tínhamos dez fortes mandamentos, e muitos deles eu ainda continuo a usar para a minha vida. Um deles era a palavra. Na altura, fazia milhares de transações ao telefone, sem nada gravado, e nunca ninguém veio pôr em causa o nosso trabalho, havia confiança e seriedade. Outro mandamento, muito importante, era o de saber parar, aceitar o prejuízo e recomeçar noutro lado, numa outra coisa qualquer. Esta é uma postura que se tem de ter nos mercados. E este ensinamento de ter sangue-frio é muito importante.
Entrei neste banco por convite. Num evento social, sentei-me ao lado de um dos diretores financeiros da altura, que percebeu que eu era um entusiasta da música e me disse que precisava deste rasgo nos mercados. Disse-me uma coisa que me ficou para a vida: “Se vieres trabalhar comigo, vais olhar para câmbios e taxas para o resto da vida.” E acertou. Ainda hoje acompanho, também porque gosto de estar em cima dos números para o meu trabalho. E este conhecimento todo que adquiri tem sido muito importante. Por exemplo, no ano passado, quando o Banco Central Europeu começou a subir as taxas de juro, eu falava com os meus bancos com conhecimento de causa, como a maioria dos portugueses não fala.
Mas nunca fui de estar parado. Ao mesmo tempo que trabalhava nesta sala de mercados, abri a minha primeira empresa de espetáculos, a Música no Coração, em 1991. A minha verdadeira profissão é o espetáculo. No início dos anos 90, tinhamos só uns três ou quatro concertos por ano, quase todos no Estádio de Alvalade. Não havia festivais de música, tirando o Avante!. E, como é lógico, durante aqueles anos também aprendi que era preciso saber identificar oportunidades no mercado. Olhava para outras cidades, como Madrid, Paris, Berlim ou Londres, e tinham espetáculos todos os dias. Percebi que isso ia também chegar a Portugal, ainda por cima tendo entrado para a União Europeia. Nessa época, das 8h às 17h trabalhava no banco e, depois, ia trabalhar até à meia-noite no escritório da Música no Coração. Em dezembro de 1997, acabo por sair em definitivo daquela sala de mercados.
Trabalho publicado originalmente na edição de maio de 2024 da Exame