As empresas estão totalmente conscientes da importância de que a transformação tecnológica tem nos seus negócios, ainda que haja um caminho longo e com cujos constrangimentos será necessário lidar com atenção.
Esta foi uma das conclusões avançadas por Vítor Ribeirinho, CEO da KPMG Portugal, durante a apresentação “O futuro das empresas”, no âmbito da conferência Portugal em Exame. O responsável partilhou os dados de um estudo que mostra que, apesar de 88% das empresas consultadas terem em curso dois ou mais “programas significativos de transformação em simultâneo”, menos de um terço dos líderes classificam como “muito elevada” a preparação tecnológica da sua empresa. Ou seja, o caminho está a ser feito, mas há a consciência de que ainda há muito que andar. “Dá-nos uma perspetiva interessante sobre como as empresas, hoje, veem e estão preparadas para a transformação e para o futuro. Hoje há uma grande pressão sobre os líderes e os CEO, uma pressa que todos nós temos para que aconteça algo de novo, muito rapidamente”, defendeu, acrescentando que “há a necessidade de aceleramos o ritmo de transformação digital para que nos possamos aproximar do nível adequado de maturidade”.
Há também uma política de reforçar parcerias, em detrimento da internalização total de soluções. Ribeirinho deu como exemplo a parceria da KPMG com a Microsoft para a incorporação de cada vez mais tecnologia nas atividades, nomeadamente através de Inteligência Artificial, mas não só.
No entanto, apenas cerca de 1/3 dos líderes considera que a sua rede atual de parceiros está alinhada com os seus objetivos de transformação”.
Uma coisa parece certa: 60% dos inquiridos acredita que a adoção de tecnologia avançada, como a IA generativa, aumenta largamente a probabilidade de sucesso desse processo de transformação.
Este foi um dos temas da Portugal em Exame, conferência anual da Exame que se realizou esta terça-feira, no auditório Américo Amorim, no edifício Allo, da Galp, e contou com o apoio do Bankinter e da KPMG.
Ainda assim, Vítor Cunha Ribeirinho chamou a atenção para a importância da cultura organizacional, que não pode ser deixada para trás, até porque tende a fortalecer os resultados de uma transformação. “Quanto mais uma empresa estiver focada naquilo que é a sua cultura menos risco e tentação terá de se dispersar na sua estratégia”, explicou.
“A cultura empresarial será um pilar essencial, à medida que a imprevisibilidade mundial se torna constante”, conclui o estudo, acrescentando que “a cultura empresarial assume-se como uma força orientadora, que gere a relação e a resistência dos stakeholders e que permite que as empresas façam escolhas independentes e informadas, de acordo com a sua estratégia e objetivos”.
Um dos pontos dessa cultura é o alinhamento de todas as pessoas “com uma missão e trabalhar para objetivos comuns. O sucesso de cada empresa e de cada processo de transformação requer uma visão clara sobre o todo”.
Outro dos pontos essenciais prende-se com a liderança, mais concretamente com aquilo que se espera dos líderes empresariais, agora e no futuro. E aí entra uma característica cada vez mais requisitada, a empatia (nomeadamente na boa comunicação interna, justificando as decisões com transparência), juntamente com cada vez mais exigência a nível ético, tanto interna como externamente.
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Falando de tecnologia, o orador não ignorou os receios de que elementos como a IA possam ter impacto nos postos de trabalho, mas reforçou que é fundamental passar confiança às pessoas e aos trabalhadores, explicando o que se está a fazer e qual o resultado pretendido. “Para que possam ser parte da solução neste caminho da transformação, que é duro e traz algumas ameaças – nomeadamente de uma possível desumanização”, exemplificou.
Vítor Ribeirinho não deixou, no entanto, de focar cinco constrangimentos neste caminho da transformação empresarial: a Regulação (a sua estabilidade, simplificação, quantidade e avaliação); a Justiça (que precisa de ser mais célere e simples); os Recursos (como podemos contrariar a saída de jovens qualificados); a Ambição (no que toca valorização das empresas e dos seus resultados positivos ou na dimensão/capitalização das empresas); e o Estado (necessidade de políticas públicas diferentes).
“As empresas estão a tratar do futuro. Temos de viver hoje no mundo da incerteza. Não vale a pena discutirmos business plans nas nossas organizações num pressuposto imutável. O pressuposto é a incerteza. O novo normal é isto, e temos de ter a flexibilidade para tomar decisões rápidas e isso tem de estar enraizado nas figuras de liderança”, afirma o líder da KPMG Portugal.
Este evento serviu também de mote à comemoração dos 35 anos da Exame, publicada em Portugal desde 1989.