“A educação é atualmente um processo ineficiente e com muitos problemas. As necessidades da sociedade em relação à educação estão a mudar e, hoje em dia, há tecnologias que nos podem ajudar a implementar modelos pedagógicos muito mais eficazes para o ensino”, defendeu Pedro Santa Clara, Professor Catedrático, empreendedor e fundador das escolas 42 e Tumo.
Falando no paiel subordinado ao tema “A Revolução na Educação” na conferência Portugal em Exame, evento que celebrou esta terça-feira os 35 anos da Revista Exame, o professor justificou esta ineficiência com alguns indicadores: “Para nós, educação é sinónimo de estar numa sala de aula. Alguns estudos mostram que a taxa de retenção de conhecimento quando um aluno assiste a uma aula de uma hora é de 5 a 10%. Há poucas atividades humanas tão ineficientes como esta. Fazendo as contas por alto, eu estive na escola cerca de 20 mil horas, o que quer dizer que desperdicei 19 mil horas da minha juventude”.
Pedro Santa Clara diz que Portugal está a atravessar “uma pequena crise” na educação e aponta como facto mais relevante a falta de professores, que põe em causa o modelo atual de ensino. Mas não só. “Há muitos sintomas de uma doença um pouco mais profunda. Em primeiro lugar, a nossa educação é cara para os recursos do nosso País. Um jovem português na escola pública durante a escolaridade obrigatória custa cerca de 100 mil euros. Isto é muito caro se pensarmos nos salários médios em Portugal”.
Outro dos sintomas é, para Pedro Santa Clara, a desigualdade na educação. “Quando chegam aos 15 anos, os portugueses que vêm dos 25% das famílias mais pobres têm, em média, dois anos letivos de atraso em relação aos alunos oriundos dos 25% mais ricos. Esta desigualdade é o dobro da que existe no Reino Unido”, salienta.
Pedro Santa Clara refora ainda a ideia que, quando comparados com outros países, com análise em testes internacionais, os nossos jovens de 15 anos, têm em média menos um ano letivo de conhecimento do que o que tinham há oito anos.
O professor intriga-se ainda com alguns indicadores que parecem contraditórios entre a educação e a economia. “O País está praticamente em pleno emprego, mas o desemprego jovem anda na ordem dos 20%. Temos a geração mais educada de sempre com uma taxa de desemprego muito superior à média da população?”, questiona,
Para Pedro Santa Clara é também inexplicável que entre 2000 e 2021, a produtividade do País tenha crescido 7% e os salários reais dos portugueses licenciados tenham baixado. “O número de anos de escolaridade aumenta e isso não se reflete nem na produtividade nem nos salários. Há qualquer coisa estranha. Sabemos que muitos dos licenciados emigram, mas é deprimente para os que cá ficam, e isto é um problema que tem de ser resolvido”, sugere.
Para Pedro Santa Clara, em termos de educação, Portugal viveu uma versão acelerada do que a generalidade dos países fez entre o final do século XVIII e o princípio do século XX.
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“A educação em Portugal teve um desenvolvimento extraordinário nas últimas décadas. No princípio dos anos 80, apenas 6,4% da população tinha completado o ensino secundário. Em 2022, 44% da população entre os 25 e os 34 anos tinham um diploma universitário. Isto reflete um extraordinário investimento no País. Houve um desígnio coletivo de recuperar o atraso”, lembra o professor. Da mesma forma, considera que agora, deverá existir um mesmo desígnio para reformar o ensino e preparar a nossa sociedade para o futuro pois as necessidades da educação estão a mudar. “Aquilo que temos de desenvolver nas pessoas é diferente. Num mundo do trabalho, os jovens vão ser complementares de inteligência artificial. Em termos de ensino, o que vai ser preciso não é uma dar um ênfase tão grande na memorização de matérias mais ou menos espúrias, mas sim um ênfase nas competências humanas de criatividade, de colaboração, resiliência etc”, justifica.
Na sua opinião, a solução passa por “novos modelos pedagógicos” e diz que a tecnologia “pode ajudar” a implementá-los. “Podemos usar plataformas digitais que permitem escalar estes modelos e até aumentar muito a relação social entre os alunos. Muito mais do que no modelo tradicional”, afirma.
Em jeito de conclusão, o professor universitário, diz que há uma necessidade de reforma na educação pois “temos um modelo de organização da educação” que não pensaríamos adotá-lo para nenhuma outra indústria. “O que leva à qualidade é a concorrência e a inovação. E nós temos uma regulação que praticamente proíbe a inovação e um modelo de governo das instituições, mesmo as universidades, que não permite inovar” conclui Pedro Santa Clara.